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Paraguai: foi golpe de Estado, sim

O presidente do Paraguai foi alvo de um golpe de Estado, assim como Fernando Collor, do Brasil e Andrés Perez, da Venezuela.

Esse padrão de golpe é histórico mas se aprofundou com a redemocratização latino-americana e com os ecos de Watergate.

Consiste no seguinte:

1. São eleitos presidentes sem base política no Congresso. O Congresso não pode derrubar simplesmente o presidente eleito.

2. Aguarda-se então um fato qualquer, que possa deflagrar uma catarse na opinião pública.

3. Em cima do fato, a mídia dispara campanhas amplificando e dramatizando.

4. Criado o clima de comoção popular, o Congresso se vê com legitimidade para decretar o impeachment. Embora Collor não fosse uma Madre Tereza de Calcutá – como não o foram FHC e Lula -, o motivo invocado para sua queda foi ridículo: o tal Fiat Elba. Não fosse esse, invocar-se-ia qualquer outro.

Essa  “metodologia” de golpe foi exercitada  contra presidentes de “direita”, como Collor e Perez, ou de “esquerda”, como Lugo ou Chávez. Mas é sinal, também, da dificuldade do continente em consolidar sua democracia e das midias nacionais em respeitar as instituições.

Aliás, o correto, em processos de impeachment, seria a dissolução do Congresso simultaneamente à destituição do Presidente, zerando o jogo.

PS – O fato de provavelmente Lugo ser um desastre administrativo não muda em nada a natureza do golpe.

Luis Nassif

Luis Nassif

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