Categories: Política

Ligação entre bombeiros do RJ com a bancada evangélica

Do O Globo

Capitão e cabo tentaram se eleger por partido de evangélicos; oficial recebeu doação de deputado estadual do PR de Garotinho

RIO – No centro da luta salarial dos bombeiros do Rio estão três líderes que tentam carreira política partidária e mantêm relação direta com a bancada evangélica do estado. Dos cinco principais nomes do comando do movimento, que chegaram a ser presos ainda antes da turbulenta invasão do Quartel Central, três concorreram a eleições, sendo que dois deles são hoje suplentes. Os três estão entre os 439 presos, mas cumprem a prisão separadamente, no Grupamento Especial Prisional (GEP), em São Cristóvão.

Deputado do PR fez doação para bombeiro

O capitão Alexandre Machado Marchesini disputou uma vaga de deputado estadual pelo PRB em 2010, teve 2.409 votos e acabou ficando como suplente do partido. O também capitão Lauro César Botto é suplente pelo Partido Verde (PV), legenda pela qual concorreu a deputado federal no ano passado. Já o cabo Benevenuto Daciolo já concorreu ao cargo de vereador no Rio pelo PRB em 2008 e a deputado estadual pelo PRTB nas eleições de 2006.

O que une os três, além dos limites da caserna, é a ligação com líderes evangélicos. Marchesini é suplente dos deputados Alexandre Correa (o terceiro mais votado no estado) e Rosângela Gomes, ambos do PRB, partido do senador Marcelo Crivella, da Igreja Universal do Reino de Deus. Botto, embora tenha concorrido pelo PV, teve um apoio inusitado, conforme revela sua prestação de contas que consta no site do Tribunal Superior Eleitoral: o deputado estadual Samuel Malafaia, do PR – mesmo partido do ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho. Samuel contribuiu com mais da metade dos R$ 17.530 arrecadados por Botto na campanha. Além dos dois oficiais, o cabo Daciolo, entre 2007 e 2010 trabalhou na Alerj e foi do gabinete da ex-deputada estadual Beatriz Santos, do PRB, que não conseguiu se reeleger. Se o movimento não tivesse ganhado força, Botto deveria estar atualmente na unidade dos bombeiros na Praia de Ramos.

O mais articulado dos três, o capitão Botto teve o melhor desempenho nas urnas: 13.200 votos. Na quinta-feira, ele negou envolvimento dos bombeiros manifestantes com a política.

– Isso não partiu de nenhum deputado, governador ou prefeito. Partiu da tropa, mas hoje temos, sim, o apoio de muitos parlamentares – disse Botto, argumentando que, assim como vieram bombeiros de Campos para o Rio, também chegaram ônibus de outras partes do estado.

Botto já estava envolvido em polêmica antes mesmo de o movimento ganhar força, no mês passado. Em fevereiro, ele foi preso após ter mandado um torpedo para o celular do secretário estadual de Saúde e Defesa Civil, Sérgio Côrtes, com reivindicações de classe. Um dos ingredientes da crise é o inconformismo dos bombeiros que, em 2007, passaram a ser vinculados à secretaria, por decisão do governador Sérgio Cabral. O capitão Botto mantém ainda um blog com constantes críticas à política de remuneração da corporação, além de ser usuário assíduo do Twitter.

O deputado Flávio Bolsonaro (PP), que desde o início acompanha o movimento, diz que as reivindicações são justas e qualquer tentativa de dar um caráter meramente político é reduzir o problema:

– A causa conseguiu amplo apoio, da esquerda à extrema direita. A resistência em libertar os bombeiros só aumenta a simpatia da população.

Do grupo dos cinco, apenas o major Luiz Sérgio Lima e o primeiro-sargento Valdelei Duarte não se arriscaram nas urnas. Além dos líderes do movimento, outros 21 bombeiros concorreram nas eleições passadas, de acordo com informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ao serem presos, no início da onda de protestos, os cinco líderes foram acusados de “incitamento à prática de crimes militares, como descumprimento de missão, deserção e recusa de obediência”. A prisão ocorreu em 13 de maio e foi revogada pela Justiça Militar no dia 20. A libertação dos líderes também foi pleiteada na época para que houvesse uma trégua na pressão dos grevistas. As negociações, no entanto, não evoluíram e os protestos voltaram com mais força. Os bombeiros começaram reivindicando um piso salarial de R$ 2 mil, além de melhores condições de trabalho, como óculos de sol e protetor solar para os guarda-vidas.

Colaborou: Waleska Borges.

Luis Nassif

Luis Nassif

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