Política

Lula manda recado para apaziguar crise no Congresso: “Política é conviver na diversidade”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou do lançamento do Programa Acredite, nesta segunda-feira (22), mas usou parte do seu discurso para mandar um recado para o Congresso, com quem Lula está enfrentando desencontros em relação aos projetos. 

A mensagem do presidente serviu ainda de resposta às críticas constantes presentes na grande mídia em relação aos gastos. Defensora do déficit zero, é comum que sejam evidenciadas nas matérias os gastos excessivos do Planalto.   

“No governo federal é muito desagradável porque tudo que você faz é tratado como se fosse gasto. Tudo que você faz. Não é possível. Olha, se eu tenho uma ponte e ela só cabe um carro pra ir e um carro pra vir e eu quero aumentar essa ponte pra fazer dois ou três carros indo e vindo, essa ponte não pode ser considerada gasto. Ela vai aumentar o fluxo de veículos, vai aumentar o fluxo de carga, vai diminuir o tempo e vai gerar o dividendo para o país, vai gerar lucro para o país”, explicou Lula. 

O chefe do Executivo questionou ainda o porquê de as ações do governo serem vistas apenas como gastos. “Isso inibe a gente, porque a gente começa o nosso orçamento pensando no que tem de deixar de reserva para pagar. É isso que acontece. A última coisa que a gente pensa é no que investir. Vai investir o que sobrar e assim é muito difícil a gente imaginar que a gente vai chegar no lugar que a gente quer com muita rapidez. A gente vai precisar de muito mais inteligência, muito mais criatividade para transformar o pouco em muita coisa.”

Congresso

Em relação aos parlamentares, Lula ressaltou a conquista da aprovação da Reforma Tributária ainda no primeiro ano de gestão. “Em uma situação em que a gente começou a governar antes de tomar posse, que foi a PEC da Transição, porque o outro [ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)] não deixou nada nem para pagar as dívidas dele”, comentou o dirigente. 

Segundo o presidente, foi a PEC da Transição que deu credibilidade ao governo para que, em 2023, a reforma fosse aprovada. “No país em que o partido do presidente só tem 70 deputados de 513, só tem 9 senadores em 81, isso significa que o [vice-presidente Geraldo] Alckmin tem de ser mais ágil, [o ministro da Fazenda Fernando] Haddad tem de conversar mais, tem de perder algumas horas conversando no Senado, na Câmara”, emendou Lula.

“Wellington [Dias, ministro de Desenvolvimento Social] tem de passar parte do tempo conversando. Conversa com bancada A, bancada B. É difícil, mas a gente não pode reclamar porque a política é exatamente assim: ou você faz assim ou não entra na política”, continuou o chefe de Estado. 

Lula garantiu ainda que gosta de fazer política, que sua gestão não seria mais simples se tivesse a maioria de aliados no Congresso e que “é importante ter clareza de que a política é a arte que permite a gente conviver na diversidade com as pessoas com quem a gente tem divergência”. 

“Nós vamos mandar essa medida provisória. Eu estou muito otimista. Mas essa MP, quando chegar no Congresso Nacional, tem 513 deputados. Nem todo mundo é obrigado a concordar com os nossos artigos. Tem pessoas que vão querer mudar. A gente vai xingar? A gente vai achar ruim? Não. A gente vai ter de colocar o governo para conversar”, acrescentou. 

O presidente finalizou seu discurso afirmando que sem crédito o país não vai a lugar algum, mas que, enquanto governo, não é possível ficar se lamentando e dizendo que a situação é difícil. “A gente vai fazer aquilo que a gente pode.”

Entenda o caso

Na última semana, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) demonstrou descontentamento com os rumos do governo Lula, que não atende as suas demandas (algumas delas, inclusive, pessoais) e manda recados constantes ao Planalto por meio de ações à frente do parlamento. E a irritação de Lira trava o andamento dos trabalhos de interesse do Executivo na Câmara, cria desgastes à imagem do Planalto em pleno ano de eleições municipais e pode influenciar o resultado do pleito a favor da oposição.

Com isso, Lira anunciou que vai destravar projetos da oposição. Na última terça-feira (16), por exemplo, entraram na pauta do dia em caráter de urgência requerimentos de projetos anti-MST, em que os ruralistas almejam a proibição de ocupantes e invasores de propriedades rurais e urbanas recebam qualquer auxílio federal, também devem ser vetados de programas sociais ou nomeados para cargos públicos.

Outro projeto almeja garantir o uso de força policial para retirar os invasores, mesmo sem ordem judicial, em resposta ao anúncio do programa Terra da Gente, cujo objetivo é ampliar e agilizar a reforma agrária.

Para Arthur Lira, Alexandre Padilha, ministro de Relações Institucionais, é um incompetente. O presidente da Câmara admitiu que Padilha é um desafeto pessoal.

Em resposta, Lula garantiu que o ministro deve permanecer por muito tempo na pasta “só de teimosia”, porque “não tem ninguém mais preparado para lidar com a diversidade dentro do Congresso Nacional”.

Também na última semana,  César Lira, primo de Arthur, foi dispensado nesta terça-feira da superintendência do Incra no Alagoas – reduto eleitoral do presidente da Câmara. 

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Camila Bezerra

Jornalista

Camila Bezerra

Jornalista

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  • Deprimente.

    Só tenho a dizer isso, a figura de Lula se tornou deprimente.

    Sem querer fazer pré julgamentos ou brincadeiras com a tragédia humana, Lula, hoje, é como aquela moça que levou o tio morto ao banco.

    Se descobrirmos que ela sabia, é deprimente, porque tamanha miséria e necessidade levaram a moça (Lula) a acreditar que seja possível enganar a todos para satisfação de uma demanda.

    Tal como Lula, e seu pouco tempo para consolidar seu mito conciliatório.

    Neste caso, Tio Paulo é o seu projeto político, com quem ele tenta convencer que algo ainda é possível, seguindo por esse caminho.

    Se descobrirmos que moça (Lula) não sabia, é igualmente deprimente, porque também se pode associar a situação de Lula.

    Um iludido, ou um alucinado, com sérios problemas para entender o que o cerca.

    Tio Paulo representa o pacto de país que ele imagina levar até a banca para obter uns trocados e votos.

    Triste.

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