Marcelo Bretas assume posição política de oposição a Lula, por Luis Nassif

Ainda há quem acredite que o Dr. Marcelo Bretas não tem aspirações políticas. Para mim, a dúvida já não existe. Sua estratégia em se tornar cada vez mais popular já foi analisada, por exemplo, em artigo publicado no Jornal GGN no qual uma fonte ligada ao juiz afirma que suas aspirações políticas são reais e altas, como a presidência da república.

Bem, a tirar por tweets recentes publicados na conta do Dr. Bretas, está ficando difícil para ele negar suas intenções políticas como afirma quando questionado sobre o assunto publicamente. Ao que parece, ele já nem tenta mais esconder suas posições partidárias, por exemplo.

Cerca de duas semanas após ter dito a emblemática frase “A Justiça precisa ser temida” em entrevista à Miriam Leitão, na Globo News, o Dr. Marcelo Bretas repetiu a expressão em seu Twitter, dessa vez relacionando-a ao julgamento do ex-presidente Lula na Operação Lava Jato em segunda instância, o que já denota uma posição partidária do juiz da 7ª Vara Criminal Federal do Rio de Janeiro.

Em sua conta na rede social, Dr. Marcelo Bretas escreveu que “A Justiça deve ser REVERENCIADA por TODOS e TEMIDA pelos CRIMINOSOS” ao compartilhar uma nota do site O Antagonista. O texto comenta uma reunião entre petistas e o TRF-4 para tratar de ameaças de conflitos durante o julgamento de Lula em Porto Alegre no dia 24 de janeiro e ainda afirma que juízes do Rio Grande do Sul têm recebido ameaças e teriam tirado suas famílias do estado. Foi a oportunidade que o Dr. Bretas encontrou para, mais uma vez, expor seu posicionamento em relação ao comportamento Justiça.

Quando dita pela primeira vez, na entrevista à Miriam Leitão, a afirmação de Dr. Bretas foi amplamente criticada e gerou até um manifesto assinado por mais de cem advogados e professores de Direito (https://www.conjur.com.br/2018-jan-11/advogados-professores-direito-assinam-manifesto-antipunitivista) que se opuseram a pregações punitivistas de setores do Judiciário e do Ministério Público. Mas, como podemos ver, Marcelo Bretas não deu ouvidos.

O juiz não só repetiu a frase no Twitter como usou a mesma rede social nos dias que se seguiram para atacar outros integrantes do PT. “É impressão ou há senadores da República conclamando grupos de pessoas para atos de violência?”, postou Dr. Bretas, referindo-se a Lindbergh Farias. O senador havia postado um vídeo apoiando a declaração de Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores, que convocou a esquerda a se fortalecer e não aceitar a condenação de Lula, se isso vier a acontecer.

Para mim, está claro que o juiz Marcelo Bretas está começando sua atividade política enfrentando aquele que ele considera seu maior oponente. O fato de ele entrar publicamente em discussões com membros de peso do PT só comprova que seu projeto político já está sendo colocado em prática. Não me parece que haja tempo hábil para alguma candidatura ainda em 2018. Mas, tanto em relação à política quanto a sua popularidade por conta da Lava Jato, este pode estar sendo um momento favorável para iniciar uma trajetória nesse sentido com objetivos a médio e longo prazo.

O senador Lindbergh Farias respondeu ao Dr. Bretas no Twitter, lembrando que um juiz federal não deveria se posicionar politicamente em público e ainda apontou como a acusação que recebera era injusta e não condizia com seu vídeo ao qual o juiz se referia naquela postagem, já que Lindbergh não havia incitado violência em seu discurso.

Ao finalizar o debate que ele mesmo havia iniciado, o juiz Marcelo Bretas disse que falava naquele momento “como cidadão”, como se fosse possível apagar e ativar sua função no Judiciário, conforme sua conveniência. Não se pode, Dr. Bretas, não quando se está em contato com o público. O sr. mesmo se descreve como “Juiz Federal” em seu perfil no Twitter. Como quer desvencilhar esta função de seus posts? A mesma tentativa foi feita na entrevista à Miriam Leitão, quando disse que falava “em nível pessoal” e não respondia pelo Poder Judiciário. Ora, se o sr. não fosse o responsável pelos julgamentos da Lava Jato no Rio de Janeiro, não estaria dando entrevistas na TV “como cidadão”, não é mesmo? Então, não se pode tentar iludir a si e aos espectadores de que uma coisa não está ligada à outra.

E é claro que Gleisi também se manifestou no Twitter sobre a discussão. A presidente do PT retwitou o post do Dr. Bretas lembrando as afirmações do juiz sobre temer a Justiça e sua marcante foto com um fuzil. Gleisi Hoffmann questionou: “Isso é ou não é uma incitação à barbárie?” Ela ainda mencionou as declarações juridicamente questionáveis do Dr. Bretas e sua clara oposição a um partido político determinado. “Isso é ou não uma violação do estado de direito?”, finalizou.

Antes de toda essa discussão, o Dr. Marcelo Bretas já mostrava, ainda que de maneira mais discreta, que tinha a intenção de se fortalecer politicamente. Em dezembro de 2017, ele respondeu a um tweet de Marina Silva, chamando-a de “candidata”. Mas o juiz apagou sua publicação um tempo depois. Na ocasião, a ex-PT e hoje filiada ao partido Rede Sustentabilidade, tinha publicado um post apoiando que a Justiça prendesse quem deve ser preso, independente de posicionamento político.

E então, observando tantos posicionamentos públicos, tantas discussões com membros de um único partido político e o apoio público a uma candidata à presidência, é possível acreditar que não haja intenções políticas por parte do juiz federal Marcelo Bretas? É possível acreditar que ele não pretende se candidatar um dia a um cargo público? É possível se convencer de que ele não está colocando Lula como seu oponente?

Qual seria, então, o objetivo do Dr. Bretas ao se posicionar publicamente sobre política? Ninguém cobra dele esse tipo de declaração. É uma manifestação completamente desvinculada de seu cargo e ainda pode contradizê-lo em julgamentos futuros. Deve haver um objetivo muito forte para ele tomar a iniciativa de se expor dessa maneira. E o que poderia ser senão a meta de se candidatar?

Será que esse projeto será revelado em breve? Ou o juiz deve esperar se fortalecer mais enquanto se alia a políticos com carreira estabelecida? Seu apoio à Marina Silva já indica um partido preferido? E por que ele apagou esse tweet? Mudou de estratégia no meio do percurso? A qual cargo o juiz Marcelo Bretas vai se candidatar inicialmente? Aguardamos para saber se veremos as respostas a estas questões em caráter oficial ou primeiro no Twitter.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Não seria o caso dele

    Não seria o caso dele entender que Lula é a "Jóia da Esquerda", um Rubi, não uma pedrinha vermelha de uma de suas bijouterias.

  • E a justiça precisa ser

    E a justiça precisa ser temida mesmo. Principalmente porque a Justiça no Brasil é exercida por juizes desqualificados como Marcelo Bretas, Moro e os funcionários do Thompson, dos STJs, do STF e da maioria dos tribunais brasileiros que estão destruindo a instituição no país.

    Minha indignação e tristeza ontem com o espetáculo dantesco do TRF4 não foi somente pela condenação injusta do grande presidente Lula. Foi porque como brasileira, eu e minha família teremos que conviver com esse covil de ditadores que desrespeitam os direitos dos cidadãos brasileiros. Tenho vergonha e medo de ser brasileira ante esses corruptos profissionais porque recebem acima do teto permitido, carreiristas e covardes juizes que destruiram uma instituição básica da República. E o que mais preocupa: quantas décadas ainda teremos que aguentar esses canalhas se apoderando dos direitos dos cidadãos brasileiros?

  • Dá nauseas ver o Judiciário

    Dá nauseas ver o Judiciário se impondo como um Poder Supremo, Absoluto, incontestável, acima da lei.

    Pior que isso é ver a alegria de acerebrados comemorando o retorno do Brasil à condição de Colônia.

  • ter medo da Justiça  ..eu

    ter medo da Justiça  ..eu ..porque ?

    Um Poder público concursado  ..vitalício  ..inexpugnável  ..com direitos e foros exclusivos  ..de salários e benefícios nababescos, isentos, ofensivos, ANTICONSTITUCIONAIS 

    ..um poder que recentemente legisla sob o que acha ser de buracos e falhas nas leis, e JULGA por elas tb ..olha

    Um Poder caro, inimputável, inacessível pelos tramites e pelas TABELAS - imorais, ilógicas e ilegais - de seus HONORÁRIOS profissionais, abusivos a ampla maioria da população do país

    Um que por suas faltas, falhas e atrasos  ..por seus descasos excessivos e descomunais , se esquece de centenas de milhares em nossas penitenciárias ..o mesmo que todo ano deixa de atender a um MAR de demandas de desesperados por clemência, proteção ou reparação por agressões sofridas

    olha  ..vou te dizer  ..eu MORRO de medo (e de NOJO) deste Poder ..e já antecipo, não sou condenado nem processado tb ..mas um pedinte recorrente por seus préstimos e afazeres  ..destes que levam DÈCADAS para vocês atenderem

    de cidadão pra cidadão  ..caro Tenório da era pós verdadeira, vai a MERDA BRETAS !!  ..vc e essa sua Lurdinha tb

      https://www.youtube.com/watch?v=pwtN2tQzTWk

  • Aplausos, Bretas!

    Acho ótimas as afirmações do Bretas: são uma prova definitiva de que o primeiro passo para a reconstrução do Estado de Direito e, por conseguinte, do nosso país, é uma lavagem a jato no Judiciário. É ele o principal empecilho a qualquer projeto de país. Será que o PT, que conseguiu a proeza de colocar no topo do Judiciário  a escumalha desse poder, será capaz de levá-la a cabo? Duvi-de-ó-dó.

    • ahh  ..tinha que ser o

      ahh  ..tinha que ser o chaves  ..digo ..o PT ...ah vá Brandão ?!

      ..quer dizer que só nos ultimos anos, por culpa do PT, vc percebeu que esse Poder de DNA GOLPISTA se perdeu ?!

      caracas  ..o que fazia antes  ..vegetava ?!

  • Super mané
    Eu não sei onde vamos parar com a arrogância de juízes se acham super homens, por serem autoridades do judiciário. Porém, eles esquecem que são humanos e simples mortais. Eles não tem pele blindada e não sabem voar, isso quer dizer que quando caírem das alturas ambiciosas que tentam alcançar irão se esborrachar de tal forma que suas carreiras e suas marras escorrerão pelos ralos da mediocridade.

  • Refundação da República

    A primeira tarefa de uma próxima Assembleia Geral Constituinte será refundar o Judiciário brasileiro, aposentando uns tantos quantos infestam esse poder, democratizando o acesso a seus serviços e cargos, obrigando os juízes e procuradores a se submeterem rigorosamente aos ditames da Lei e, principalmente, acabar com todos os privilégios que tornam os ocupantes de seus cargos uma casta parasitária, predatória e inimputável. Já é mais do que hora de tornar o Judiciário um poder em harmonia com os demais e não acima dos demais poderes da República. Há que se criar mecanismos de controle social que acabem com essa ingerência dos togados na vida política e que obriguem os magistrados e procuradores a serem cautelosos e comedidos com suas atitudes e palavras, fazendo-os pagar por eventuais danos causados a terceiros em virtude de práticas de abuso de poder. O Judiciário deve trazer paz aos conflitos sociais na sociedade e não ser o gás tóxico e inflamável que os amplificam. E é por isso que os salários dos togados deveriam ser compatíveis com os salários médios pagos no mercado de trabalho, pois um magistrado não pode nem deve se sentir acima da socieade. Enfim, há que se transformar esse poder, senão nunca teremos instituições públicas fortes e estáveis.

  • É isso. Parece que o Bretas

    É isso. Parece que o Bretas se empenha mais em uma carreira política do que o Moro. E ele ainda junta as ambições pessoais às ambições dos evangélicos de colocar um dos seus na Presidência da República. 

    Você acha mesmo, Nassif, que não dá para 2018? Sei não.

  • Só a convocação de uma nova

    Só a convocação de uma nova constituinte pode acabar com essa anomia,

     

    lembrando excelente artigo de um comentarista, está na CF 88 que o poder emana do POVO e por ele é exercido através de seus representantes ELEITOS ou diretamente, não há citação a representantes indicados ou concursados e talvez isso deva estar bem expresso na próxima constituição, além de uma boa justificativa para exercer o poder diretamente seria a fiscalização dos membros do judiciario através de um tribunal externo, o tal cnj só serviu para unificar salarios.....

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