O medo do juiz Marcelo Bretas, por Luis Nassif

“A raiva é filha do medo e irmã da covardia”, Chico Buarque, citado por Luís Roberto Barroso

A cultura popular brasileira consagrou alguns termos para descrever a maldade, entendida como o ato de praticar maldades.

Categoria 1 – Há os fundamentalistas, para quem o castigo é uma forma de purgação dos pecados.

Categoria 2 – Há os justiceiros, que se escondem atrás de um álibi legal para perpetrar as piores maldades.

Serve para o motorista que vê um ciclista atravessando o sinal vermelho e entende que tem o amparo da lei para atropelar o infrator. E serve, hoje em dia, para muitos procuradores e juízes.

Categoria 3 – Há os linchadores, que, amparados pelo grupo ou pela instituição, se comprazem em chutar os adversários caídos. Nas brigas de torcida organizada, ou nas manifestações políticas, esse papel, em geral, é exercitado pelo integrante mais fraco e mais inseguro do grupo.

Categoria 4 – Há um grupo específico que, na linguagem popular, são taxados de “filhos da puta”, um termo impróprio para descrever aqueles que se comprazem com a maldade gratuita. Pensei nessa designação quando ouvi o procurador se jactar de ter pedido a condução coercitiva de Marisa Lula, mas o juiz Sérgio Moro ter negado por ter coração mole com mulheres.

Categoria 5 – e há aqueles magistralmente definidos por Chico, cuja raiva é filha do medo e mãe da covardia.

A frase não cabe em Gilmar, para quem foi dirigida. Gilmar é o homem mau que tem objetivo – a defesa dos seus -, método – pular de galho em galho da jurisprudência dependendo das circunstâncias – e tem alvo. É vingativo (estão aí as ações que me move), mas não desperdiça maldades, não é a vingança pela vingança. É o método dos coronéis, de impor medo, quando não impõe respeito, para não perder o poder de intimidar.

Já o juiz Bretas é a personificação da definição de Chico, que já nasce clássica.

Sérgio Cabral é o mais deplorável dos homens públicos arrastados pelo turbilhão da Lava Jato. Deslumbrado, sem limites, personificando a cena clássica desses tempos de lambança – a tal dança dos guardanapos, em Paris -, no entanto agora é um preso comum, sem regalias, com a imagem destroçada, cumprindo pena. É um farrapo.

Esse farrapo de gente, na frente de Bretas, ousou um minuto de desabafo.

Imediatamente, manifestou-se a raiva, mãe da covardia, mas filha de quem? Bretas ordenou o envio de Cabral para um presídio de alta segurança em Campo Grande, para onde são enviados marginais que significam riscos para a vida humana. Não pensou na família, nos filhos, nos parentes. Com a ajuda de um procurador que tentou criminalizar até visitas de filho ao pai, deu o veredito final, alegando que se sentiu ameaçado.

Mais que isso, e aí levantou dúvidas sobre as razões do medo. Não apenas deu o veredito, como imediatamente tratou de pedir apoio da AJUFE (Associação dos Juízes Federais). O medo se transformou em pânico.

Tudo isso, leva à questão central: qual o medo de Bretas que o levou à covardia. Até agora, o único indício é a menção aos negócios de sua família.

Relembre a cena: Sérgio Cabral entrando na sala e taxando Bretas de parcial, de injusto. Certamente seria admoestado pelo juiz, que até poderia ordenar a interrupção da sessão. Mas jamais tomaria a mais drástica medida que tinha à mão: o envio a um presídio de segurança máxima, em total isolamento. Portanto, não foi a atitude de Cabral que deixou o juiz em pânico: foi o conteúdo.

Em nenhum momento Cabral o ameaçou. Disse ele:

– Vossa Excelência já me condenou em duas ocasiões, uma em 45 anos e outra em 13 anos. Percebe-se, a partir dessas condenações, que vossa excelência não acredita em mim. Comprei joias para minha mulher em datas comemorativas.

Depois, explicou ao juiz que ninguém compra joias para lavagem de dinheiro porque basta sair da joalheria para as jóias perderem valor. E lembrou ao juiz que sua família tinha uma loja de bijuterias e, por isso, ele tinha conhecimento do que estava falando.

Bastou isso, para instaurar o pânico.

O medo e a covardia de Bretas empinaram um enorme balão, que ficará pairando no ar, à espera de alguém que vá furá-lo.

 

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • São tão fuleiros, mesquinhos e...

    Esses individuos, vulgos magistrados e procuradores que ora habitam o olimpo zil-zil, me revolvem o estômago de tão fuleiros, mesquinhos e indignos que são.

    • Sergio Cabral

       Se Sergio Cabral não for bandido! E está pagando pouco por seus crimes! Fernandinho Beira Mar é Deus e deveria ser reverenciado como Jesus Cristo!!!

      • E daí, seu troll? Nao consegue nem entender o ponto do Nassif?

        Ele nao disse que Sérgio Cabral é inocente. Disse que o juiz abusou do poder por medo, contra um cara já destroçado. Mas p/ vc, troll pago p/ espalhar merda, isso é natural, nao é? Justiceiro de fachada.

      • Se Sérgio Cabral não for...

         

        Vou explicar o seguitne: os representantes da lei (Judiciário, PF, MP etc) devem fazer Sérgio Cabral devolver todo o patrimônio público que se apropriou e também apená-lo segundo os critérios da justiça para os tipos de crimes que praticou, apenas isso.

        Esses representantes da lei não podem se melindrar com palavras tipo “excelência, tira primeiro a trave do seu olho pra enxergar melhor e, depois, tire o cisco que está no meu”, faladas em momento de pavor pelo réu ante a condenação certa que aguarda e, por conta delas, lhe acrescentarem maldades por sadismo pessoal e/ou retaliação em alegada falsa ameaça como se d'um chefe de encapuzados prontos a vingá-lo, com o que passam a ser fuleiros, mesquinhos e indignos da função institucional que têm.  

      • A maior pena que se poderia

        A maior pena que se poderia aplicar a um ladrão tipo Cabral seria reduzí-lo à pobreza pela devolução do roubo e pagamento de multas. O resto é teatro vingativo e/ou cruel.

      • Um dos linchadores

        Esse tal de FLAVIO LIBERATO está na categoria 3 citada no texto

        "Categoria 3 - Há os linchadores, que, amparados pelo grupo ou pela instituição, se comprazem em chutar os adversários caídos. Nas brigas de torcida organizada, ou nas manifestações políticas, esse papel, em geral, é exercitado pelo integrante mais fraco e mais inseguro do grupo."

        Eu só acrescentaria que essa é uma atitude típica dos covardes.

        Ninguém disse aqui que Cabral é inocente, apenas lamentou-se que em vez de aplicar a lei o juiz cometesse um ato arbritrário e cruel sem a menor necessidade, já que o Cabral, independentemente de ser culpado das acusações de corrupção, não fez nenhuma ameaça nem teve algum comportamento que justificasse a transferência para o presídio de segurança máxima.

  • Aí ninguem é tonto. Todo

    Aí ninguem é tonto. Todo mundo tem suas cartas na manga. Cabral não disse isso, essa referência específica, sem motivo. Alguns interpretaram ou tentaram vender a idéia de que havia uma ameaça física - Cabral teria indicado saber detalhes da vida dos familiares do juiz, suas rotinas, etc, numa mensagem mafiosa, cifrada. Mas se voce ouve o diálogo, nao foi bem assim. Ao que parece, o juiz tem algum motivo para nao gostar que mencionem os negócios da família. Reagiu claramente a essa referência. Em suma, tem algo do tipo: "eu sei o que voces fizeram no verão passado". E não: eu sei onde voces moram e que lugares frequentam.

  • Seriam somente bijuterias

    Seriam somente bijuterias vendidas nas lojas da familia Bretas?

    Me dou o direito de questionar.

  • Perfeito, Nassif. A atitude
    Perfeito, Nassif. A atitude do Bretas é gêmea idêntica a do ídolo dele, o Moro, em relação ao Zucolotto.

  • Bretas é só um sujeito mau ?

    Bretas é aquele juiz  que condenou o Brigadeiro Othon a 43 (quarenta e três !) anos de prisão. Não conheço quem saiba descrever com detalhes qual foi exatamente o crime cometido.

    Comparando: Elise Matsunaga que MATOU e ESQUARTEJOU o marido foi condenada a 19 anos.

    Parece que o hediondo crime do Brig. Othon foi liderar o domínio da energia nuclear e defender a soberania do Brasil.

  • Se Bretas não tivesse essa

    Se Bretas não tivesse essa reação, o fato perderia o sentido. Agora, fica uma série de dúvidas e suspeições. Basta uma pesquisa na Internet e verificar uma historinha de trabalho escravo (que parece não ser mais crime) na confecção de bijouterias lá pelas bandas da baixada  fluminense. E o tempo que presidiários faziam bijouterias e outros artesanatos para ganharem um dinheirinho e ajudarem suas famílias. E assistir o filme do Bianchi "É por quilo ou vale quanto pesa?",das mil e uma mutretas de ONGs  que agiam e agem no Brasil. Pois é, em Curitiba tem a Apae. E no Rio?  Ligação com Malafaia já tem. Concordo em número e grau com o que foi dito em relação a Cabral e à atitude do juiz nessa questão. Foi desproporcional.

  • Já mandei não sei se foi,vou
    Já mandei não sei se foi,vou repeti-lo.Mais uma meus comentários se encontram com o Nassif,não é sem razão a bronca dos estrelados com o acima assinado.Refiro-me a Categoria 4 do artigo de Nassif.Quando o Procurador Carlos Fernando Lima,que está trocando a carreira pública pela privada em decorrência das indústrias das delações premiadas,objeto de investigação desse Blog em parceira com o DOM,cometeu essa canalhice contra Da.Mariza Letícia,fiz aqui nesse espaço o menor comentário desde a sua existência.Embaixo do post que tratava desse assunto escrevi três letras:FDP.O farei tantas vezes forem necessárias e os estrelados continuarão putos comigo.

  • Já mandei não sei se foi,vou
    Já mandei não sei se foi,vou repeti-lo.Mais uma meus comentários se encontram com o Nassif,não é sem razão a bronca dos estrelados com o acima assinado.Refiro-me a Categoria 4 do artigo de Nassif.Quando o Procurador Carlos Fernando Lima,que está trocando a carreira pública pela privada em decorrência das indústrias das delações premiadas,objeto de investigação desse Blog em parceira com o DOM,cometeu essa canalhice contra Da.Mariza Letícia,fiz aqui nesse espaço o menor comentário desde a sua existência.Embaixo do post que tratava desse assunto escrevi três letras:FDP.O farei tantas vezes forem necessárias e os estrelados continuarão putos comigo.

  • .. resumo..

    .. o resumo da nossa história recente é que nosso país é um puteiro mal administrado.. terra da mutreta.. é só procurar e encontrar os mal feitos.. e nesse contexto, esse povo imbecil apoiou o afastamento da (provável) única política honesta de toda a América Latina.. rs.. é uma ironia..

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