O xadrez do The House of Cards

 

O que seria o dia seguinte ao impeachment? O jogo não está decidido. Nenhum dos dois lados conseguiu o número mínimo para apregoar vitória. Mas vale como exercício.

Não é necessário muita imaginação para supor.

O novo jogo teria os seguintes personagens:

  1. O novo governo, controlando o Executivo e o Congresso..

  2. O Supremo Tribunal Federal

  3. O Procurador Geral da República/Lava Jato

  4. A mídia

  5. A frente anti-impeachment

  6. A frente pró-impeachment.

Vamos a um pequeno exercício de fórmulas para ver como eles se interagem.

Consolidação do poder

No dia seguinte à tomada do poder, a estratégia do novo grupo será a consolidação definitiva do poder. Assume em uma posição precária, ilegítima, tendo atrás de si a Lava Jato e a desconfiança geral e à frente às eleições de 2018.

Suas armas são temíveis: controle do Executivo e do Congresso, das leis e da caneta. Usarão como puderem para enfrentar as seguintes frentes:

  • Lava Jato.

  • Crise econômica.

  • Eleições de 2018, logo ali.

A estratégia de sobrevivência contemplará algumas linhas básicas visando estender o poder conquistado.:

  1. Ampliação do arco de alianças.

O Congresso será utilizado para a aprovação de leis de interesse dos grandes grupos.  O balcão de negócios será transformado em um hipermercado.

O maior negócio será a alteração na lei do petróleo. Mas há uma enorme agenda a ser manobrada por Eduardo Cunha, inclusive como forma de consolidar o golpe. Aí se entra em um campo em que ele é senhor absoluto, o grande especialista em negócios do Congresso. Obviamente todas essas faturas impactarão o orçamento e a política econômica.

  1. Mudanças estruturais que permitam a consolidação do poder.

O grupo não tomará o poder para entregá-lo em 2018. É evidente. A consolidação do poder passará por mudanças políticas que excluam o voto direto para presidente, talvez com a introdução do parlamentarismo, podendo chegar ao adiamento das eleições de 2018.

  1. Enquadramento do Ministério Público Federal e da Lava Jato.

Ou alguém tem dúvida de qual foi a moeda de troca com o PP?

Tentarão se valer da euforia com o fim do governo para tomar medidas que restrinjam o poder do MPF. O Executivo tem a chave do cofre. O Congresso, a chave das leis e das nomeações e destituições de Ministros do Supremo. Em vez de um governo ingênuo e desarmado, o MPF e a Polícia Federal enfrentarão agora o poder de fato, nas mãos de uma organização que sabe manobrar as ferramentas do poder, e que estará travando uma guerra de vida ou morte, já que a derrota implicará até em sua prisão.

  1. Administração de uma economia em crise.

O orçamento é um só.

Numa ponta, será pressionado pelas demandas do grupo. Na outra, exigirá aumento de tributos, uma CPMF. Só que a base de apoio do grupo são lideranças empresariais que agitaram o país nos últimos anos levantando a bandeira da redução de impostos.

O caminho óbvio será o dos cortes nas áreas sociais, programas sociais, educação, saúde, ampliando ainda mais a revolta das ruas em um quadro de aprofundamento da crise.

A busca do inimigo interno

Em um primeiro momento, haverá uma falsa euforia do mercado, com valorização de ativos e queda do dólar. Durará pouco. É uma crise de demanda que não será resolvida pela mera melhoria do índice Bovespa, ainda mais tendo em conta o custo da fatura para a montagem de alianças.

Haverá uma ampliação geométrica das manifestações de rua.

Como superar o quadro de crise econômica + falta de legitimidade + manifestações de rua? Nem é preciso ser um grande visionário para perceber o lance seguinte: o macarthismo.

Além da ilegitimidade original, o novo governo ampliará as reações dos movimentos sociais com os cortes de políticas sociais. A reação das ruas fornecerá o  alibi  do inimigo interno e O novo governo se escudará cada vez mais na ultradireita da opinião pública e nas bancadas religiosas. A ameaça bolivariana e a dissolução moral são os elos que unem tudo, a ultradireita na rua, os jovens turcos do Ministério Público, o conservadorismo do Judiciário e  a classe média, os grupos religiosos.

Os desdobramentos

É impossível saber os vencedores dessa disputa. Seja qual for o resultado, haverá uma grande noite caótica pela frente, um atraso histórico nos avanços sociais e econômicos e uma ameaça direta à democracia e à economia.

Não fosse o custo a ser pago pelo país, especialmente pelos mais vulneráveis, seria uma boa lição a esses aprendizes de feiticeiro que resolveram abrir a caixa de Pandora e colocar em risco a democracia apenas para exercitar os músculos.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Será que a republica do

    Será que a republica do paraná não está junto? Porque Moro não mexe com a mulher e filha do Cunha?

    • Eu não tenho dúvidas. Última
      Eu não tenho dúvidas. Última operação da Lava Jato, ninguém próximo ao governo. Prova de isenção, dirão.
      Até sexta vem outra tentando ferir de morte o governo no Fla-Flu organizado por Edurrato Cunha no domingo. São previsíveis, direi.

  • "O grupo não tomará o poder

    "O grupo não tomará o poder para entregá-lo em 2018. É evidente."

    Pessoas que perdem tempo quando ficam avaliando perspectivas para 2018 e pesquisas de intenções de voto. Tá duro não imaginar que uma onda de violência se desencadeará. Por um lado, porque só recorrendo à repressão é que a nova ditadura se manterá no poder, já que só conta com apoio de corruptos, midiotas e empresários corruptos; o outro lado não verá outra saída que não partir para o revide e para resolver "no braço" a situação, já que a justiça brasileira está falida e aparelhada pela direita golpista. E impensável que os criminosos que levariam o país a esta situação não sejam punidos no futuro.

    • Não há outra saída a não ser partir para o ataque frontal...

      Uma justiça golpista de MERDA não merece respeito. E o ataque tem de ser definitivo. Botar TODOS OS GOLPISTAS na cadeia e mandar os líderes (na mídia, no executivo, no judiciário, no legislativo e no empresariado) para o cadafalso. Não dá para contemporizar, não dá para pactuar, não dá para aceitar traidores da Pátria.

      Para golpista, só cadeia, cadafalso ou baioneta!

  • Um roteiro de horror, mas ,

    Um roteiro de horror, mas , infelizmente previsível, factível.  Resta-nos denunciar que a Vitória dos golpistas trará danos irreparáveis aosvtrabalhadres, aposentados, agricultores, funcionários públicos,etc., com brutal cassação de direitos conquistados e a precarização do trabalho. Destaque-se ainda o sucateamento das empresas produtivas brasileiras e a entrega do patrimônio público ao estrangeiro e a privatização das melhores e rentáveis empresas estataispor quantias irrisórias.

    Um  final de terror para o povo brasileiro.

     

     

  • Credite-se à covardia e

    Credite-se à covardia e omissão do Supremo Tribunal Federal por esse momento gravissimo que estamos a passar.

    Tivesse tomado as providencias legais contra Cunha e sua gangue tudo isto poderia ser evitado. 

    • Covardia? Nos grandes

      Covardia? Nos grandes círculos de poder não rola covardia. Rola grana alta. Aquela que nem eu, nem você, vamos ver nunca na vida.

      Você ja se perguntou porque o Teori trabalha de empregado  no instituto do Gilmar Mendes? E porque até hoje não siau uma sentença para o Cunha? E porque nunca vai sair?

  • Não sejamos pessimistas

    Isso não é xadrez; é uma confusão dos diabos. Ainda há quatro dias pela frente para que a briga do bando encabeçado por Cunha, Temer, Serra, PIG e CIA produza efeitos de explosão de bomba no colo do lado de lá. A ambição por dinheiro e poder ali é capaz de tudo. E o lado de cá não está morto. Só aposto todas as fichas numa coisa: em tempos de informação pela Internet, todos os picaretas que conheço estão desmilinguindo, cedo ou tarde. O eleitorado tem muitos fichas-sujas que votam em corruptos porque aceitam a corrupção, mas até isso tem um limite de tolerância. 

  • Precisa ver o que o Senado

    Precisa ver o que o Senado acha disso tudo. Atualmente, Renan se mostra como "aliado" ao governo e contra o golpe. Isso é garantia de alguma coisa? Nem em sonho. Para ele mudar de ideia é um pulo. A questão é que em um governo de Temer, onde o golpe foi iniciado e comandado por Cunha, a Câmara dos Deputados teria todos os holofotes. O Senado ficaria como coadjuvante. Já no caso da extinção do impeachment pelo Senado, eles seriam os protagonistas e a retirada de Cuha da presidência teria que acontecer uma hora dessas, esvaziando o poder da Câmara frente ao Senado. Talvez Temer acabe sendo obrigado a renuciar e Renan sairia fortalecido.

    Mas é tudo especulação.

    • Pois é, Jorge... Estava

      Pois é, Jorge... Estava pensando nisso agora mesmo, após ler que, passado na Câmara, tem quase um mês pra votação em plenário do Senado, e só então (ou não) o imediato afastamento da Dilma. E nesse tempo, que não é pouco, é outro "jogo jogado", né?

      Meu lado otimista me fez lembrar de 2015, o Senado barrando um monte de bomba aprovada na Câmara. Já pra amenizar o meu lado pessimista... fico contigo:

      Mas é tudo ainda mera especulação...rs.

  • Sua narrativa é totalmente

    Sua narrativa é totalmente verossímel, evidente que estamos num cenário em que o caos é uma grande possibilidade.

    Diferente da ruptura democrática clássica temos um golpe civil, um golpe paraguaio paulista midiático-judicial cujas consequências são imprevisíveis que em algum momento se tornará uma ditadura militar dissimulada ou não.

    Prevejo não dias mas décadas de descalabro, de desorganização institucional, um país sem lei já é realidade entraremos no esfalecimento completo do estado brasileiro.

  • Alvíssaras!

    Caso aconteça (não acredito), será alvissareiro,  pelo menos num ponto, o resultado desse golpe.

    Coxinhas e Mortadelas unidos nas ruas contra o conluio dos golpistas em se safarem da Lava Jato.

    Qualquer iniciativa do novo e torpe governo do PMDB em amordaçar PF e JF será o combustível que incendiará o governo Temer.

    Não ultrapassará o mês de mandato!

     

     

     

    • Tem que combinar com a TV

      Tem que combinar com a TV Globo, que vai discretamente abafar qualquer coisa que se relacione com corrupção.

  • Parlamentarismo

    Não tem essa de parlamentarismo: ou se faz um novo plebiscito ou convocamos um nova constituinte. Sem isso, sem parlamentarismo. Cogitá-lo é nonsense.

    • Voce duvida de Cunha?

      Se o impeachment passar, lembre que ele pode destituir também Temer e se tornar o presidente de fato. So precisa esperar outubro para golpear Temer.

    • Pois eu não duvido de mais
      Pois eu não duvido de mais nada. Virou hospício. Não vejo garantia de bom senso, nem de sanidade mental, nem de caráter e nem de compromisso com o Brasil e seu povo trabalhador.

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