Raiva à política e à elite domina atos contra Macron na França, por Jamil Chade

Foto Jamil Chade

Jornal GGN – Jamil Chade, correspondente do Estadão, foi conferir o desenrolar dos protestos contra Macron, na França. A primeira observação de Chade é de que, nas pequenas cidades francesas, o protesto que começou há um mês contra alta na gasolina, hoje tem como mote partidos e o ‘poder’, sem menção ao valor dos combustíveis.

Em Anthy, pequena cidade francesa com cerca de 2 mil habitantes, a manifestação marcada pelos ‘coletes amarelos’ vem eivada de reivindicações heterogêneas de um grupo, segundo observou na pequena cidade, bastante homogêneo. 

‘Essa aqui é nossa aldeia gaulesa’, explica um manifestante, referindo-se a Asterix, o símbolo de uma França autossuficiente, soberana e nacionalista. No ano passado, Macron criticou cidadãos que se recusavam a aceitar reformas, alertando que os franceses eram ‘gauleses refratários’. E se Macron disse que somos gauleses, montamos nossa aldeia, ironiza o morador com seu gorro de chifres.

O correspondente do Estadão acompanhou o dia de manifestação no interior da França, base original do movimento que tomou o país. “Na Alta Saboia, uma das áreas mais conservadoras do país, várias foram os pontos de ação dos “coletes amarelos”. Um dos locais escolhidos foi uma rotatória com intenso movimento aos pés dos Alpes. Conforme os carros circulavam, a ordem era de não impedir a passagem, mas garantir que o movimento chamasse a atenção. Muitos motoristas faziam sinais de apoio, buzinando ou entregando frutas”, relata Chade.

Enre as palavras mais ouvidas, duas se destacavam: a ‘raiva’ contra a elite no poder e a ‘decepção’ em relação aos partidos tradicionais. Se tudo começou tentando barrar a elevação de impostos sobre os combustíveis, quatro semanas depois a reivindicação é bem maior. “O que queremos é ter garantias de chegar ao final do mês”, explica Nadège, espécie de síndica da aldeia. Entre a reivsindicações está uma alta dos salários, redução de impostos e o fim dos privilégios para a classe política, além da criação de um sistema de consultas populares. 

Um aposentado questionou os venciimentos mensais, criticando o valor atual. Outro, um policial, já defendia que a população fosse consultada em assuntos como o casamento entre homossexuais e impostos. E, para ele, um general como presidente seria uma solução. “Não para pôr os tanques nas ruas. Apenas para que seja alguém que tenha o sentido de servir ao país e uma visão estratégica”, justificou. Ele reclama do “totalitarismo imposto pela União Europeia”. “Não há mais soberania”, lamenta.

Mesmo defendendo o partido de extrema direita de Marine Le Pen, ele não aceita a associação da legenda ao fascismo. Garante que, em 2019, o partido terá uma votação ainda maior, nas eleições para o Parlamento Europeu. Mas garante que o movimento não carrega somente eleitores de direita.

O movimento não tem filiação partidária, nem sindical. Os manifestantes são pequenos comerciantes, agricultores, profissionais liberais e um número expressivo de aposentados. Porém, na aldeia, Jamil Chade não encontrou nenhum imigrante árabe ou negro, além de poucos jovens.

Dentre os comentários ouvidos, vários sobre a UE: ““Esse é um projeto americano para impedir que as nações europeias possam ser fortes”, dizia um aposentado. Não eram poucos os que ainda elogiavam a “coragem” do Reino Unido em deixar o bloco econômico. “Eles sabem que, a partir de agora, a UE vai massacrar as nações e, por isso, saíram antes”, pontua Marc”.

Muitos questionavam a conta a ser paga por uma transição energética para dar resposta às mudanças climáticas. A ideia é que a conta tem que ir para os que têm mais recursos e grandes fortunas. E expressões como ‘mundialismo’ e ‘cultura internacionalista’ davam contorno à queda no poder aquisitivo.

Manifestantes apontaram que foi ‘a raiva’ quem provocou o movimento. Mas o jornalista observa que, para um movimento que se diz espontâneo, a organização é impecável. E fica mais evidente esta organização nas redes sociais. O movimento tem organizadores que convocam reuniões, via grupos fechados no Facebook, e lá apresentam projetos e listas detalhadas das reivindicações o movimento. 

E quanto ao tempo que entendem o movimento irá durar, Chade recebe a resposta de que ‘esse movimento vai longe’.

Leia na íntegra aqui.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  • A velha luta de classes de volta às ruas

    Nos ja vimos essa pelicula e sabemos onde ela vai dar. O manifesto começou com os coletes amarelos ( o movimento passe-livre também perdeu as rédeas das manifestações) e hoje tem-se extrema esquerda e extrema direita e a população mais ou menos politizada em manifestações cada vez mais radicais. Parece que Macron também ja viu esse filme e não pretende cair ainda verde. Diz que anunciara esta semana "grandes novidades". Se não fizer mudanças significativas, bem provavel que a França va fazer par com o Brasil do Bolsonaro. Pra onde que eu vou? 

    • Porque estou ficando com a sensação de estar cercado e sitiado?

      Vou me embora pra passárgada pois lá já não existe o rei.

      Vou-me embora pra Passárgada
      Aqui eu era feliz.
      Mas agora  a existência é uma aventura
      De tal modo inconsequente
      Que  não temos a louca de Espanha
      Mas um rei  falso e demente
       

  • Tem cheiro de manipulação em

    Tem cheiro de manipulação em cima do descontentamento geral do povo com a ordem sócio-econômica vigente. As pessoas sentem que há algo de podre no sistema. O sistema já detectou isso, então canaliza de modo a dirigir o movimento de contestação no sentido que lhe interessa, talvez uma sociedade fascista, autoritária, sob o mesmo sistema.

  • Contribuinte

    Não é só raiva a política 

     

    O contribuinte trabalha e disputa em um ambiente profissional de alta competição e nível de excelência 

     

    Não se deve exigir menos dos servidores públicos e políticos 

     

    Eficiência e excelência 

     

    Além de plena retidão 

     

    Não consegue entregar isto 

     

    Não se habilite 

    • Neste caso, o setor privado que se habilite

       Se quiser ver um ambiente profissional e de excelência, vá a  Institutos de Pesquisa, visite uma Embrapa, visite uma Petrobrás, visite uma Eletronuclear, visite as Universidades, e converse com seus professores e pesquisadores. Veja tudo que fazem e que já fizeram,   São todos servidores publicos. Vá também a um INEPE, IBGE,  e outros tantos orgãos publicos e veja o que fazem e o que fizeram seus funcionarios e pesquisadores.

      Em nossa indústria privada  temos apenas com raríssimas exceções, setores de desenvolvimento e pesquisa, E quando possuem tais setores, verás as digitais da Universidade e tradição de pesquisa nas estatais.  Só quem quer destruir e comprar tudo isto  resume a Petrobrás a meia duzia de corruptos, e ao mesmo tempo não aponta o dedo para os corruptores do campo privado.

       

      Não se chega ao agro negócio de hoje sem os conhecimentos desenvolvidos na EMBRAPA, não se chega a extrair o barril de petróleo do pre-sal a 9 dolares, sem o desenvolvimento de conhecimento e tecnologia pela  Petrobrás. Não se chega a EMBRAER de hoje sem a EMBRAER estatal.  Não se chega a excelência médica sem os Hospitais Universitários.  A Eletronuclear nos fez dominar o ciclo de refinamento de Urânio desenvolvendo conhecimentos que nos permitem construir uma Industria de Refinamento de Urânio, cuja destruição é um dos objetivos do golpe que aí está, defendendo interesses de outros "competidores. internacionais", qe preferem usar de meios escusos para ganhar a competição. Não irei nem mencionar os estudos em  biotecnologia e medicina,  fruto das Universidades e nem  os nossos pesquisadores das ciências sociais e humanas que tantas contribuições nos deram para conhecermos nós mesmos

      Mas é a repetição ad nausea de frases como as deste comentário que pretendem entregar tudo que criamos a interesses muito pouco competitivos.

       

      Quanto a retidão  e competição, não vejo nem  um pouco de retidão na Oderbrecht, embora a veja como muito competitiva. E o que dizer das outras  construtoras. Não vejo retidão na  JBS, mas vejo uma eficiência baseada sobre tudo no conhecimento gerado pela EMBRAPA e outros institutos. Nas atas do COAF, não vejo retidão ou competitividade. Não vejo competitividade e nos monopólios empresariais e ou nos monopolios da mídia  embora até veja eficiência em algumas delas. Em todas falcatruas se vê as digitais daquilo que você chama de competição e nível de excelência. E não vou negar que existe também uma excelência, pouco competitiva  e sem nenhuma retidão em muitos dos que são chamados de eficientes. Mas no caso privado a falta de retidão  é perdoada por muitos pois  dizem que business é business.

      Não existe retidão e ou competição e ou eficiência, quando um banco estabelece juros , que são um verdadeiro roubo, legitimado por uma legislação tortuosa, que protege este setor que só fala em competição quando quer privatizar as eficientes Caixa e Banco do Brasil. De resto se fecham em cartéis e ditam as regras e são defendidos por uma imprensa que diz que os juros estratosféricos é culpa do consumidor inadimplente.

      Onde está a eficiência e a competitividade das mineradoras de Mariana, ou de outras no Pará.

      E para finalizar gostaria de quebrar mais um mito. O tal privilégio das aposentadorias do setor ṕúblico. No setor publico se paga segundo esta lei:

      A LC 1.012/07 estabelece, em seu artigo 8º, que a contribuição previdenciária será de 11% e incidirá sobre a totalidade da base de contribuição.

      Além disso, esclarece que “base de contribuição” é o total dos vencimentos do servidor, incluindo-se o vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei ou por outros atos concessivos, dos adicionais de caráter individual e de quaisquer outras vantagens.

       

      Ou seja o servidor público desconta  em cima da totalidade do salário  e não em cima do teto da previdência e deve receber portanto a integralidade do seu salário. E talvez ganhássemos mais debatendo porque não estender isto para o setor privado. Se todos contribuirem com 11% do salário integral, todos devem se aposentar de acordo.

      Portanto   sem que os conheça , o senhor João, não pode falar em retidão eficiência e excelência. Sim há alguns que talvez não sejam retos nem eficientes ms neste caso se  deve  apontar o dedo e dizer o nome e não generalizar.  E verás que a quantidade destes pode ser bem menor do que os do  setor privado.

       

      Nossos eficientes e retos empresários, não gostam tanto assim da competição, pois dizem abertamente que não investem enquanto o governo não lhes der garantias de lucro.

      Aliás esta propalada  competência  ou nível de excelência levou a crise economica mundial em 2008, assim como a eficiente receita neo liberal  levou a Argentina a inadimplência .

       

       

       

       

  • ....a mesma novilíngua lá e cá...
    ....os de lá usam coletes amarelos.....os de cá andavam por aí com os patos amarelos do Skaf da FIESP e dias atrás elegeram o "honesto" e "anti político" e "anti sistema" BozoNazi. ...o mercado e as grandes corporações sanguessugas agradecem de coração ...
    Em tempo: até o colete é fake: é chamado de amarelo mas é verde....deveria ser sapo verde, como os da FIESP pós golpe dizendo : não vou engolir sapo...kkkk

  • Au revoir chére ami....

    Está em andamento um processo que fará ruir a Uniáo Européia nos moldes que a conhecemos hoje.

    Um projeto do grande capital internacional ? Donald Trump ?

    De volta, o velho nacionalismo europeu e suas guerras..

    Uma coisa é certa :  o movimento parece muito com as jornadas de 2013,as quais prepararam as bases para o que temos hoje no Brasil...

  • Macron é um fake

    Vai ser levado à máquina de moer carne e não vai nem se dar conta.

    Qualquer político da velha guarda ( Mitterrand, Giscard, Chirac, Marchais) tirava de letra.

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