Por Marco Antonio L.
Da Carta Maior
A FAO e a promoção da segurança alimentar universal
Muito ainda precisa ser feito para garantir a segurança alimentar mundial e isso passa, necessariamente, pela reforma e fortalecimento da FAO e a consolidação de práticas agrícolas socialmente inclusivas e ambientalmente sustentáveis, especialmente da agricultura familiar. Para tanto, tornou-se necessário potencializar o papel das instâncias nacionais e garantir uma gestão mais descentralizada que permita mais protagonismo aos países, especialmente aos países em desenvolvimento. Graziano da Silva já provou que reúne as condições para conduzir esta tarefa. O artigo é de Ignacy Sachs.
Ignacy Sachs
Este texto é direcionado a todos que querem contribuir para o combate à fome no mundo. Decidi escrevê-lo em apoio à candidatura do meu amigo José Graziano da Silva a Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a FAO.
Muito ainda precisa ser feito para garantir a segurança alimentar mundial e isso passa, necessariamente, pela reforma e fortalecimento da FAO e a consolidação de práticas agrícolas socialmente inclusivas e ambientalmente sustentáveis, especialmente da agricultura familiar. Para tanto, tornou-se necessário potencializar o papel das instâncias nacionais e garantir uma gestão mais descentralizada que permita mais protagonismo aos países, especialmente aos países em desenvolvimento.
Graziano da Silva já provou que reúne as condições para conduzir esta tarefa. Como subdiretor-geral da FAO e representante regional para América Latina e Caribe, esteve à frente da Iniciativa América Latina e Caribe sem Fome, por meio da qual os países da região se tornaram os primeiros no mundo a assumir o compromisso de erradicar a fome antes de 2025. Também foi figura central do processo de articulação entre a FAO e agências do Sistema das Nações Unidas, como Cepal, o PNUD e a OIT, e organismos internacionais, como o IICA e a OEA. Graziano da silva tem sua trajetória pautada em ações voltadas ao desenvolvimento rural e à luta contra fome. Um exemplo são as exitosas políticas de combate à fome e à subnutrição desenvolvidas a partir de 2003 no Brasil. Foi Graziano da Silva quem coordenou a elaboração do Fome Zero, programa que, em cinco anos, possibilitou a 24 milhões de brasileiros deixarem a condição de pobreza e reduziu em 25% a subnutrição no país usando apenas 0,5% do PIB brasileiro.
A história do Brasil é marcada por importantes contribuições às ações da FAO. Um dos Brasileiros relevantes na história da Organização é Josué de Castro, autor dos livros Geografia da Fome e Geopolítica da Fome. O primeiro é um estudo pioneiro sobre a situação no Brasil e o segundo, uma análise da fome em todo o mundo.
É importante lembrar que a FAO foi criada com o objetivo de garantir a segurança alimentar no Planeta. Apesar do esforços e dos avanços, este objetivo ainda não foi alcançado. Passados mais de 60 anos da criação da Organização, uma em cada sete pessoas no mundo ainda passa fome.
Esse é o principal motivo da necessidade de a FAO assumir o desafio da erradicação total da fome no mundo por meio de ações efetivas, investindo nos recursos destinados à promoção do desenvolvimento rural sustentável, na intensificação da cooperação Sul-Sul e do intercâmbio e da solidariedade entre as nações . É fundamental fortalecer a agricultura familiar e as políticas públicas para a permanência dos agricultores e das agricultoras no campo; melhorar a infraestrutura produtiva; criar oportunidades de acesso ao crédito e à assistência técnica e à extensão rural de qualidade para produzir e comercializar os produtos. É necessário e urgente reconhecer a função dos pequenos e médios produtores como guardiões da biodiversidade, da integridade das paisagens rurais e da segurança alimentar. Essas práticas devem estar associadas à intensificação da cooperação internacional, especialmente entre países com biomas semelhantes.
Este é o caminho para garantir a crescente necessidade de oferta de alimentos saudáveis para a população mundial que, em meados do século, vai atingir nove bilhões.
Por seu perfil de alta competência acadêmica e profissional, Graziano da Silva reúne as condições necessárias para liderar este desafio.
(*) Socioeconomista e professor titular da École des hautes études en sciences sociales (HESS (Escola de estudos avançados em ciências sociais) de Paris. Nesta instituição fundou em 1973 o Centro Internacional de Pesquisas em Meio Ambiente e Desenvolvimento – o qual dirigiu até 1985 – e o Centro de pesquisas sobre o Brasil contemporâneo, do qual atualmente é co-diretor.
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