Categories: Educação

A pedagogia do folclore

Do Portal Luís Nassif

Do Blog de Marco Aurélio Dias

Educação, folclore e escola arquetipal

Por Marco Aurélio Dias

     As letras das músicas folclóricas são portadoras de um discurso pedagógico. Nelas, a filosofia fundamental é a educação das novas gerações (educandos), que entram na história desprovidas dos conceitos sociais sobre certo e errado e ignoram a importância do direito civil como conquista arquimilenar que nos tirou do selvagem e violento estado de natureza.

     A famosa briga do cravo com a rosa, por exemplo, representa o eterno conflito educativo dos pais com os filhos, dos netos com os avós, do professor com o aluno, etc., onde é feita a transmissão das regras estabelecidas pelo condicionamento racial. Em suma, é a luta onde a geração nova é preparada para assumir, da melhor maneira possível, o comando do mundo, e para guardar e transmitir o arquétipo ancestral do modelo de sociedade civil conquistado.

     A geração nova nunca mudará radicalmente nada porque ela futuramente será a porta-voz das regras da escola arquetipal. Além do mais, o modelo de sociedade civil conquistado é bem melhor que a liberdade violenta e generalizada do estado de natureza em que o homem vivia anteriormente. A evolução principal de uma sociedade é a manutenção e o aperfeiçoamento das suas regras de relacionamento. A sociedade consiste em comportamentos do estado de natureza e comportamentos do estado civil. Normalmente o indivíduo não evolui por uma necessidade pessoal de se diferenciar e de se separar da sociedade, mas por uma necessidade de se adaptar ao padrão ao padrão civil escolhido pela sociedade. Evoluir é se adaptar. Tem sido assim desde os tempos mais primitivos (quando não havia nenhuma lei e qualquer um fazia só o que queria) do ser humano no planeta.

     No caso do texto folclórico em questão, o cravo é a geração que sai do mundo, ou da roda (como é dito a Dona Alice para fazê-lo). Ele tem a experiência de uma vida inteira (o conhecimento das regras), e sua função é passá-la para as gerações mais novas. Por isso, Dona Alice é convidada para entrar na roda e dizer um verso bem bonito, que é a transmissão das suas experiências. Trata-se da relação professor-aluno, pai-filho.

     Vamos simplificar a análise: a sociedade estabelecida propõe que a pessoa idosa cumpra uma missão de educadora, junto à criança, para transmitir o recó etê (jeito verdadeiro de ser). Então Dona Alice é convidada a entrar na roda das crianças, transmitir toda a sua experiência e depois pode dar adeus e se retirar (a morte). Cumpriu-se o ciclo da vida. Nascer, viver, educar-se, adaptar-se, reproduzir, transmitir as experiências e morrer – eis o modelo pedagógico da escola arquetipal.

     É assim que funciona o esquema da educação em família: Os avós ocupam um papel importante na educação dos netos. O cravo tem a experiência de uma vida inteira lidando com as regras, enquanto que a rosa está apenas começando a se adaptar ao mundo. E a grande filosofia de conduta apregoada pelas escolas e pelas famílias é a adaptação ao pacto social.

     A briga do cravo com a rosa é um discurso que ressalta a competição das duas gerações extremas: uma (a rosa) querendo mudanças, pois inocentemente acredita na poesia e no idealismo de uma liberdade absoluta onde cada um pode fazer o que quiser. Continuamente recebemos estímulos cerebrais do estado de natureza e somos levados a idealizar uma Idade de Ouro onde todo mundo é bom e perfeito. A outra geração (o cravo) querendo conservar o estado de sociedade civil conquistado, com leis, regras e punições. E quem vai vencer sempre é o cravo, pois ele simboliza o pacto social que substituiu o estado de guerra em que o homem vivia anteriormente. E o objetivo da linguagem onírica do folclore é justamente codificar e transmitir o modelo de relação social da comunidade onde vivemos. E funciona! O relacionamento social das pessoas nas comunidades é uma permanente escola de transmissão das regras de comportamento que substituíram a liberdade absoluta que nossos antepassados viveram nas florestas.

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Luis Nassif

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