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Paulo Renato e o Manual do Perfeito Idiota Gerencial

Dos blefes administrativos criados pelo Real, nenhum foi tão consistentemente incapaz quanto o ex-Ministro e ex-Secretário de Educação de São Paulo Paulo Renato de Souza.

Ontem passei por São Sebastião da Grama – terra de nascimento de minha mãe – para visitar tia Mirian e o túmulo de meu avô – que apesar de ter passado quase toda sua vida em Poços e São Paulo, preferiu Grama para o descanso.

Além das histórias de infância, tia Mirian é um grande termômetro sobre o que pensa o habitante das pequenas cidades paulistas. Mais que isso: o que pensa o professor médio paulista.

É professora aposentada. No almoço, duas primas também professoras do Estado, mas em São Paulo.

A indignação com José Serra é ampla, visceral – ao contrário da maioria da população de Grama, que votou nele.

É possível, pela conversa, perceber o desastre gerencial que foi Paulo Renato de Souza, uma tragédia, com seu autoritarismo e incapacidade de montar um discurso lógico. E explica também porque a primeira atitude do novo Secretário de Educação de São Paulo foi o de abrir conversas com sindicatos e associação de professores, antes de voltar a falar em avaliação.

O que Paulo Renato fez como Secretário mereceria figurar em um Manual do Perfeito Idiota Gerencial.

1. Pegue uma ideia única, transforme-a em paradigma da eficiência e esqueça que a arte da gerência é a capacidade de “vender” a ideia para a equipe. Um iluminado não precisa explicar nada: basta enfiar o verdade goela abaixo dos gentios.

Avaliações são necessárias, assim como premiação por desempenho. Tenho defendido essas teses aqui. Mas não se enfia goela abaixo da estrutura, como fez Paulo Renato. Não existe essa prática em nenhuma empresa moderna. Apenas naquelas entregues a sargentões truculentos, de pensamento gerencial primário, como ele.

O grande administrador precisa ter ideias claras, um projeto lógico. Precisa saber como transmiti-las. Deve montar sistemas de discussão abertos, que permitam ao funcionário sentir-se participante da construção do modelo, a fim de conquistar corações e mentes.

Tempos atrás, consultores ligados a grandes empresas internacionais de consultoria já tinham me alertado para esse autoritarismo estéril da Secretaria de Educação paulista.

2. Em vez de estímulos, trate seus comandados com chicote, já que você é o depositário da melhor ideia.

Ao longo de anos a carreira de professor foi desestimulada em São Paulo – e no restante do país. Havia algumas pequenas benesses, quase que gambiarras para compensar a falta de estímulo. Uma delas era a possibilidade de tirar licença de 15 dias por ano, que o professor aproveitava para realizar algum trabalho extra. Era um benefício irrisório, perto dos salários irrisórios pagos, que compensava parcialmente a falta de condições de trabalho, mas já estava incluído nas pequenas compensações profissionais.

Paulo Renato e antecessora passaram a considerar as licenças como abuso. Como gestores primários, foram incapazes de enxergar o contexto. Determinaram que quem tirasse a licença ficaria um ano sem aulas.

3. Cubra uma ideia simples com um cipoal de regras complexas, visando torná-la “sofisticada”.

O sistema de meritocracia – que deveria estimular a carreira – perdeu-se em um cipoal de regras que desorientaram totalmente os professores. Criaram vários níveis de carreira, tal confusão que o professor sequer sabe mais onde se enquadrar. Mostraram total incapacidade de pensar claro. Aliás, é típico do gestor despreparado: se você não tem ideias claras, crie projetos complexos para disfarçar.

Não sei qual o pensamento do novo Secretário de Educação de São Paulo. Como engenheiro, duvido que seja contra avaliações, como alguns comentaristas supuseram. Ao chamar os professores para conversar, deixando discussão técnica de lado, nesse primeiro momento, fez o essencial: quebrar as desconfianças plantadas nesses anos de irresponsabilidade administrativa.

E mostrou a sensibilidade política de Alckmin para com a questão dos professores.

Incapaz de falar mal de quem quer que seja, pouquíssimo politizada, tia Mirian tem pesadelos de noite com os risinhos de Serra na campanha eleitoral. Chama-o de “dissimulado” – a pior ofensa incorporada ao repertório familiar. Católica, indignou-se com a participação do papa na campanha eleitoral e com as baixarias “feitas pelo Serra”. A tia não frequenta Internet. Esse discurso chegou a ela e correu o estado inteiro pela boca dos professores estaduais.

Por trás de tudo, o fantasma de Paulo Renato. 

Luis Nassif

Luis Nassif

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