Governo paulista foi avisado da fragilidade do Sistema Cantareira em 2009

Da Folha
Plano de bacia hidrográfica feito há quatro anos já apontava deficit de água
Diagnóstico mostrou fragilidades do sistema e fez recomendações; Sabesp diz cumprir determinações federais
EMILIO SANT’ANNA
Há quatro anos o governo do Estado foi alertado sobre a fragilidade do sistema Cantareira e instruído a tomar medidas para evitar o colapso do abastecimento de água na região metropolitana de SP.
O alerta foi dado em dezembro de 2009, no relatório final do Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê. Ontem, o nível do reservatório caiu para 15,7%, o menor volume útil desde que foi criado, em 1974.
O documento, produzido pela Fundação de Apoio à USP, reforçou o diagnóstico da década passada, quando a outorga para a captação de água foi concedida à Sabesp.

O Cantareira é responsável pelo fornecimento de água a 8,8 milhões de pessoas na Grande São Paulo e a 5,5 milhões no interior do Estado.
Questionada pela Folha, a Sabesp não detalhou quais das recomendações dadas foram adotadas desde então no sistema Cantareira.
Segundo o relatório, em 2009 o sistema apresentava altas garantias de atendimento, porém já tinha “deficits de grande magnitude”.
Para se ter ideia do descompasso entre o que deságua no Cantareira e o que é utilizado, em fevereiro entraram 8.500 litros de água por segundo no sistema e saíram 32,6 mil.
No mês, a manutenção do nível do reservatório dependeu da chuva –que não veio.
A avaliação do Ministério Público do Estado é que houve demora do governo em tomar medidas para impedir a situação atual de iminente desabastecimento.
Segundo o promotor Rodrigo Sanches Garcia, do Grupo Especial de Defesa do Meio Ambiente, há dez anos a Sabesp sabe que deveria buscar alternativas para o abastecimento da Grande São Paulo.
“Na outorga de 2004, uma das condicionantes era que a Sabesp tivesse um plano de diminuição de dependência do Cantareira. O grande problema foi a demora de planejamento”, afirma.
Nesta semana, o Consórcio PCJ, que reúne prefeituras, empresas e entidades de mais de 43 cidades, divulgou nota em que acusa a Sabesp de não reduzir a dependência do sistema Cantareira.
RECOMENDAÇÕES
O relatório também apontou a necessidade de regras de operação do sistema “que evitem o colapso de abastecimento das regiões envolvidas e minimizem a influência política nas decisões”.
O texto fez recomendações ao Estado, como a implantação de monitoramento das chuvas e vazões do sistema, instalação de postos fluviométricos e medições de descargas líquidas e sólidas.
A Sabesp disse que cumpre as determinações da Agência Nacional de Águas, órgão regulador federal.
Outra recomendação é que o governo faça a transposição de água de bacias mais distantes da capital para diminuir a dependência em relação ao sistema Cantareira.
Três anos depois do relatório final ficar pronto, em agosto de 2013, o governo firmou contrato de PPP (Parceria Público-Privada) para levar água do Vale do Ribeira para a Grande SP. A previsão é que o sistema seja entregue em 2018.
“Não se trata de atribuir culpa a um ou a outro, mas de resolver esse problema”, afirma Benedito Braga, presidente do Conselho Mundial da Água e professor da Escola Politécnica da USP.
“Em 2009, houve essa análise [de buscar água em outras bacias] e a Sabesp passou a priorizar essa obra para trazer mais água para a cidade.”
Procurada, a Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos não respondeu.
Redação

Redação

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  • Moro em Campinas desde 2005 e

    Moro em Campinas desde 2005 e me lembro que em 2009/2010 a Sabesp foi muito (mal) usada para tentar eleger o Serra, com propagandas mirabolantes de âmbito nacional, que pretensamente resolveriam problemas de abastecimento até no Acre...

    Agora, diante de um "quase certo" desabastecimento aqui na região, não vejo maiores preocupações na mídia. A população continua sendo enganada, sem ter noção da tragédia que pode acontecer em breve.

    Uma IRRESPONSABILIDADE absurda que está sendo causada pela Sabesp, Governo do Estado e a Mídia.

     

    • leva mal não,

      esse castigo para paulista conservador e politicamente incorreto é pouco; quantas tragédias mais teram que suportar? para que possa acerta seu nariz torto; São Paulo é muito importante para todo o  Brasil, pois tudo que acontecer, vai refletir em todo o país, por isso minha raiva, de ver tantos mal feitos em um estado com tantas cabeças pensantes, mas que continua a dar cabeçadas por burrice, não é pessoal.

  • Sistema Cantareira

    Nassif,

    Este tipo de matéria, que deixa inteiramente exposta a enorme irresponsabilidade do governo tucano de SP, não merece qualquer destaque do noticiário em TVs, que prefere tergiversar permanentemente sobre o assunto.

    Como são praticamente obrigados a divulgar a criminosa falta d'água na maior cidade do país, as redes de TV, com destaque a emissora dos Marinho, literalmente  montam matérias direcionando a responsabilidade para a ausência de chuvas, entrevistando algum "especialista" inofensivo e sempre omitindo os nomes dos verdadeiros responsáveis, Geraldo Alckmin e a cambada do PSDB.

    Recentemente, depois da Argentina, México e Reino Unido também puseram as empresas de comunicação "na roda", e por aqui o pau mandado Paulo Bernardo permanece assinando embaixo da sugestão da presidência, a de aconselhar a sociedade a usar o controle remoto. Como o conselho salta aos olhos do Stevie Wonder, me vejo obrigado a imaginar que, neste assunto, existe algo que a maioria desconhece. 

  • E agora, Alckmin?

    Vai admitir ou não que não fez o dever de casa? E a mídia, ainda vai continuar com esse papo de cerca Lourenço, atribuíndo à São Pedro a falta d'água? Se fosse com o PT, o mundo já teria desabado na cabeça dele. Esses tucanos são de uma incompetência brilhante.

    • Culpa é do Haddad!!!

      A culpa é do Prefeito de São Paulo (PeTralhas) que não fez campanha de racionamento de água.

  • Quem virá primeiro: apagão ou sede?

    Aos que me sugerem que o racionamento de energia virá ou não, tenho respondido: Há uma pequena, muito pequena, mas sempre real possiblidade, apesar do grande e contínuo investimento no setor életrico (estamos investido hoje em três da maiores usinas hidroelétricas do mundo e a geração heólica já é maior que duas Furnas, por exemplo), MAS CERTAMENTE, ANTES, INFELIZMENTE, E AÍ DEVIDO A IRRESPONSABILIDADE DO PSDB/PIG, TEREMOS FALTA DE AGUA POTÁVEL EM SÃO PAULO. Mas nunca faltou a torcida,  de dez anos, por menos chuvas do pig/miriam/sademberg para isso.

  • O Alckmin vai dizer que a
    O Alckmin vai dizer que a culpa é do Lula e da Dilma. A imprensa inteira comprará a ideia e a repercutirá à exaustão. Será como no caso do Trensalão, onde o PSDB bateu a carteira e gritou "pega ladrão" pro PT - e a mídia em uníssono repercutiu!

  • Sabesp reduz fornecimento a cidades e Guarulhos corre risco

    Sabesp reduz fornecimento a cidades e Guarulhos corre risco de ficar sem água

    Medida será anunciada hoje e vale para municípios atendidos pelo Cantareira. Estado diz que medida é necessária para repassar aos ‘clientes’ da companhia exigências da Agência Nacional de Águas, que reduziu na 2ª a vazão máxima do sistema

    Pedro Venceslau e Fabio Leite - O Estado de S. Paulo

    SÃO PAULO - A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) anunciará nesta quinta-feira, 13, que as cidades permissionárias do Sistema Cantareira – aquelas que compram água da empresa no atacado – receberão a partir desta quinta-feira menos água e terão que encontrar saídas próprias para evitar o racionamento.

    O governo alega que a medida é necessária para repassar aos "clientes" da Sabesp a exigência da Agência Nacional de Águas (ANA), que determinou desde segunda-feira a redução em 15,5% da captação de água máxima nas represas do Cantareira: de 33 mil litros por segundo para 27,9 mil.

    PT versus PSDB. A Sabesp é a responsável direta pelo fornecimento de água em 364 dos 645 municípios paulistas. Nos demais, o fornecimento é feito pela prefeitura, que pode comprar água no atacado da empresa ou recolher em represas da região. A medida afetará diretamente duas cidades da Grande São Paulo que recebem água do Sistema Cantareira: Guarulhos e São Caetano. A primeira, que já vem sendo obrigada a fazer rodízio em seis bairros da cidade (com 210 mil pessoas afetadas), alega que já recebe menos água do que o determinado pelo contrato.

    Dos 300 litros por segundo contratados, estariam entrando apenas 200 litros por segundo na segunda maior cidade do Estado. O governo, por sua vez, nega que esteja enviando menos água e culpa a prefeitura da cidade, que é administrada pelo PT, por não conseguir reduzir o consumo.

    Enquanto São Caetano reduziu a demanda em 18% – 100 litros por segundo a menos, e evitou até agora um racionamento, Guarulhos não teria conseguido diminuir o consumo. Em nota, a prefeitura afirmou que Guarulhos "sofre historicamente pela vazão reduzida do volume de água enviado pela Sabesp".

    O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Guarulhos afirma, ainda, que faz ampla campanha de divulgação nos meios de comunicação e sugere medidas de economia. O conjunto de ações inclui, segundo o órgão, carro de som, cartazes, telemarketing e informes publicitários em emissoras de rádio e jornais impressos. "Ao mesmo tempo, será concedido desconto na conta para quem reduzir o consumo – 30% nas contas de quem reduzir o consumo em 20%, em comparação à média mensal no período compreendido entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014, e 10% para quem reduzir o consumo em 10%", diz a nota. Sistema semelhante foi adotado na Grande São Paulo pela Sabesp, para beneficiários do Sistema Cantareira.

    Queda de braço. A Sabesp informa que o abastecimento está normal nas 364 cidades operadas pela companhia, mas não é possível responder pelas demais, uma vez que caberia a elas explicar como funciona o sistema de distribuição de água local. A cidade de Diadema, por exemplo, que também teve fazer rodízio de água, compra água no atacado da Sabesp. Mas, segundo a companhia, esse volume é fornecido pelo Sistema Rio Grande (Billings), que está com 98% de sua capacidade.

    A Sabesp, por sua vez, informa que nunca deixou de entregar o volume de água contratado pelo município de Guarulhos. A empresa reitera a solicitação já apresentada em reunião com as prefeituras e serviços municipais que recebem água por atacado da empresa (São Caetano do Sul, Guarulhos, Mauá, Mogi das Cruzes, Diadema e Santo André, entre outras) de intensificar campanhas de economia e de uso racional da água para assegurar o pleno abastecimento da população.

    O Estado procurou as administrações de Diadema e Mauá, para comentar o assunto, mas não obteve resposta.

    http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,sabesp-reduz-fornecimento-a-cidades-e-guarulhos-corre-risco-de-ficar-sem-agua,1140131,0.htm

  • Pois é...

    Um não faz a limpeza/desassoreamento da calha do Tietê e agrava os problemas de inundações em SP, o outro dá de ombros pras demandas por mais energia do País e causa um apagão histórico no Brasil, agora vem mais esse caso de também dar de ombros para o desafio de abastecimento de água para a grande SP. Parece que os tucanos acham que também a natureza os proteje, como a midia. Mas acontece que a natureza não quer saber disso, não. E quem paga pelo descaso é a população.

    E ainda se autointitulam "bons gestores". Haja xoque de jestão.....

  • Mais xoque de jestão!

    e os paulistas (moro em São Paulo portanto faço parte desta tragédia) elegem esta "turma" (pensei outra coisa mas não vou escrever por que não quero ter problema com juízes do Fórum de Pinheiros - SP Capital) há 20 anos!

    Que marrravilha como diria o Claude Troigros. 

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