A ciência fala, a Igreja cala, por Eliane Lobato

no Brasil247

A ciência fala, a Igreja cala

por Eliane Lobato

A pneumologista Margareth Dalcolmo atribui à “incompetência diplomática do Brasil” o atraso da entrega da matéria-prima para a vacina da Covid-19, anunciado ontem pela China. A médica fez o desabafo ao receber o Prêmio São Sebastião de Cultura, dado pela Arquidiocese do Rio do Janeiro, em evento comandado pelo bispo Dom Orani Tempesta, ontem, na capital. “É absolutamente inaceitável que tenhamos recebido a notícia de que as vacinas não virão da China. E também não virão da Índia. Nada justifica que o Brasil não tenha capacidade competitiva de servir a seu povo, a não ser a desídia absoluta, a incompetência diplomática que não permite que cada um dos brasileiros esteja – amanhã, nos próximos dias ou meses -, de acordo com o cronograma elaborado, recebendo a única solução que há para a Covid 19, a vacina.”

Dom Orani ficou calado, apesar das palavras dramáticas proferidas por homenageados ou representantes na cerimônia. Como a atriz Beth Goulart, que representou a mãe, a também atriz Nicette Bruno, falecida  recentemente devido à Covid-19.  “Estamos todos com um grito de revolta na garganta. Talvez, se a vacina tivesse chegado ela pudesse ter sobrevivido”, disse Beth. Foi de Carlos Alberto Serpa, presidente do Conselho Cultural da Arquidiocese, a iniciativa de pedir uma oração em memória dos 10% de brasileiros mortos na pandemia, até agora.

Se o bispo católico ficou em silêncio, Margareth, não. Emocionada, ela apontou o enorme fracasso do governo brasileiro que não foi capaz, sequer, de garantir o sistema de cooperação tão bem costurado, e com tanta antecedência, pela comunidade científica da Fiocruz, onde ela trabalha, e a China. “Nenhuma explicação poderia justificar isso. O acordo foi estabelecido ponto a ponto desde agosto do ano passado para que a Fundação Oswaldo Cruz tivesse a sua linha de produção pronta. E é lamentável que as missões diplomáticas tenham fracassado a esse ponto.”

A especialista me disse, hoje, que “a sociedade brasileira deve ser conclamada à sua consciência cívica para lutar pelos seus direitos. E o direito primordial, agora, é a vacina.” Margareth citou os médicos que estão desde os primeiros momentos ao longo dos 11 meses da pandemia ao lado dos pacientes. “Quantas coisas vivemos, quantos testamentos vimos ser trocados, quantas pessoas ajudamos a morrer, quantas notícias tristes nós demos às famílias. Em casos graves, quando a porta se fecha, sabemos que talvez aquela pessoa nunca mais verá ninguém, se ela morrer, a não ser os nossos olhos atrás de óculos e máscaras.” A vivência limítrofe, segunda ela, não torna os médicos “mais poderosos ou sábios.” Ao contrário: “Nos torna mais humildes, mais atentos com o outro. E é com base nessa atenção que lhes digo que não há nada neste momento que justifique o que acontece agora. Independentemente de todo o nosso esforço, lamento dar essa noticia triste.”

Em nota, a Fiocruz informou que o atraso do envio dos insumos para a produção da vacina provocará “impacto sobre o cronograma de produção inicialmente previsto de liberação dos primeiros lotes entre 8 e 12 de fevereiro”. A Fundação só voltará a se pronunciar sobre datas quando o envio da matéria-prima for confirmado. Tanto a produção da vacina Oxford/Astrazeneca quanto a da CoronaVac, do Instituto Butantan, estão comprometidas.

Redação

Redação

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  • O título da matéria é inoportuno, pleno de má fé e fruto de uma profunda ignorância sobre a Igreja Católica, mas não é nenhuma novidade. Ainda bem que Jesus, quando a instituiu, prometeu que os inimigos da Igreja jamais triunfariam sobre ela.

  • O Brasil desgovernado, graças a OMISSÃO de tanta gente dita 'progressista' que permitiu a mídia golpista interditar a campanha para presidente no segundo turno, em 2018, a ponto de não haver sequer um debate ou entrevista na ausência do então candidato 'Tragédia Anunciada', cega diante da cenoura que a classe dominante lhes balançava à frente, a do "PT NUNCA MAIS", fazendo com que sonhassem em ocupar o espaço que seria deixado pelo "NUNCA MAIS".

    Como possível isso fosse e não foi, e para tanto obsequiosamente silenciosos, um especialmente indo estrepitosamente uivar seu silêncio em Paris, através da OMISSÃO ajudaram a Casa Grande eleger o 'Tragédia Anunciada' para que o golpe de 2016 não soçobrasse de vez, 'Tragédia Anunciada' essa que conseguiu em pouco mais de dois anos de desgoverno, não apenas demolir o Brasil que restava funcionando após o golpe, como pulverizou os direitos sociais e democráticos conquistados pelos brasileiros, a ponto de nem mais restar o universal e milenar direito do, "Vá Reclamar ao Bispo", também obsequiosamente silencioso, talvez em auto crítica 'master' para estabelecer o peso, o preço, enfim as consequências e as perdas e danos, causadas pela OMISSÃO também da igreja católica, quando colocada de frente a opção HADDAD, como forma de evitar-se que o 'Tragédia Anunciada' se tornasse realidade, como de fato tornou-se, né mesmo, Doutora Dalcomo?

  • Correta a atitude do bispo, afinal religiões não são nada mais do que a institucionalização da ignorância, atualmente a religião, seja ela qual for, deve sempre ficar calada em qualquer assunto que não seja vinculado ao misticismo e ao charlatanismo que praticam. Políticas públicas se fazem com ciencia, com dados cientificos, nunca com dogmas e moral duvidosa das religiões.

  • Os mesmos imbecís que não se cansam de dizer e concordar com a afirmação de que o Estado é laico, agora acusam a Igreja de omissão. É muito blá blá blá! "A ignorânça é que astravanca o porgressio".

    • Sapiente cidadão, brinde-nos com mais sapiência esclarecendo por que considera-se mais adequado à vida dos cidadãos o Estado ser laico, e onde pactua-se ou dogmatiza-se que as instituições religiosas, qualquer das trocentas representantes de religiões disponíveis por aí, deva ignorar tragédias mais que anunciadas, escancaradas, que envolvam o Estado em prejuízo dos cidadãos e da sociedade, instituições religiosas essas inclusas e, no caso da freguesia Brasil, sobretudo as de matriz africana, no que tange, ao menos, a tolerância, harmonia e civilidade, na arte política de evitarem-se conflitos resolvidos à base da exceção e violência, qualquer que sejam?

      De fato é muito blá blá blá... e sem dúvida alguma, "A ignorânça é que astravanca o porgressio", porém no caso da freguesia Brasil, comumente o problema maior, de tão próximo, sequer é percebido, pois sem pensar, pensando-se sempre certo, desabala-se a culpar o não tão próximo e não sem antes pespegar um imbecil no herege, e aí a intrOMISSÃO afoita deixa-lhe...

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