Mortes por Covid-19 entre enfermeiros no Brasil já é maior do que nos Estados Unidos

Em todo o mundo, há mais de 260 profissionais da enfermagem que morreram em decorrência da doença. E outros 90 mil trabalhadores da categoria infectados pelo vírus, segundo o Conselho Internacional de Enfermeiros, o Internacional Council of Nurses (ICN). Desse total, sozinho, o Brasil já é responsável por 38% das mortes.

Nesta terça-feira (12), quando é celebrado o Dia Internacional da Enfermagem e o Dia Internacional do Enfermeiro, a presidenta da Associação Brasileira de Enfermagem (Aben), Francisca Valda da Silva, descreve a data como “um dia de luta” desses profissionais.

“Nós estamos lutando pela vida dessas pessoas”, destaca em entrevista à Rádio Brasil Atual. “(Eles estão) em condições adversas, sem condições de trabalho, sem equipamento de proteção individual, sem capacitação suficiente. E há profissionais de enfermagem do grupo de risco, por doença ou por idade, sendo colocados no cuidado direto de pacientes infectados. Isso não pode continuar. São mortes evitáveis, não são mortes naturais.”

A falta de proteção

Entre os 98 profissionais de enfermagem mortos pela covid-19, 25 são enfermeiros, 56 técnicos e outros 17 são auxiliares de enfermagem. A maioria deles, 67%, são mulheres. Ainda de acordo com dados do Cofen, há quase 3 mil casos confirmados da doença entre os profissionais. E a quantidade de casos reportados, somados com os suspeitos, chega a 11 mil.

Aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, a presidenta da Aben conta que são também inúmeras as denúncias. Muitos profissionais têm comprado com o próprio dinheiro os EPIs, ou vêm recebendo os equipamentos principalmente de outros colegas de trabalho ou entidades. Há falta principalmente de máscaras e do capote/avental. Quando não são racionados, os gestores das unidades de saúde vêm pedindo aos profissionais que reutilizem o material.

A irresponsabilidade do presidente

Diante desse contexto adverso que os profissionais da enfermagem vivem em todo o mundo, sobretudo no Brasil, a presidenta da Aben chamou de “irresponsabilidade” o decreto do presidente Jair Bolsonaro no qual amplia a lista de atividades essenciais, incluindo academias, salões e barbearias, durante a pandemia.

“A situação é tão grave que a média nacional é de 21% dos profissionais de enfermagem infectados e nos lugares onde não se segue a quarentena, sobe para 35 a 50%. Os profissionais que estão comprometidos na linha de frente, tentando ajudar as pessoas a recuperar sua saúde e a evitar óbitos, salvar vidas, precisam da solidariedade do povo brasileiro em cumprir o distanciamento social. E eles precisam da responsabilidade de seus governantes em proteger esses profissionais da saúde”, adverte.

“É lamentável que nós estejamos passando por essa situação. É uma irresponsabilidade do presidente da República flexibilizar, sem levar em conta o seu dever de salvar vidas. O Reino Unido seguiu essa cartilha e abandonou, os Estados Unido também… Então, não sei porque o governo brasileiro insiste em ser o responsável por um genocídio dos brasileiros”, finaliza Francisca.

Redação

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