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Liberalismo integral

Economistas liberais e não-liberais têm uma diferença em relação às políticas sociais compensatórias. Os primeiros propõem a focalização. Isto é, focar os recursos nos mais necessitados e trabalhar formas de dar autonomia a eles. Os segundos defendem políticas universalistas, que visam cobrir todo o universo de pobres.

Praticamente não existe nenhuma escola econômica, hoje em dia, que não contemple visões próprias sobre políticas sociais.

No entanto, o artigo de Otávio Frias Filho, hoje na “Folha” faz uma apologia de um tipo de liberalismo que hoje em dia não é adotada nem pelos ultra-liberais.

Diz ele: “Goste-se ou não, o liberalismo é a ideologia dominante na nossa época. Depois de ser relegado ao museu de velharias por meio século (1930 a 1980), seus escassos apóstolos ridicularizados como passadistas, eis que o liberalismo subitamente voltou, mais triunfante que nunca, nos últimos 20 anos. É no sistema de mercado que a economia funciona melhor. Cabe ao Estado assegurar condições propícias ao mercado, tornando estimulante empreender. (…) Quando assumem o poder (vide PSDB e PT), praticam uma política liberal temperada por compensações sociais bancadas pelo Estado, ou seja, pelo contribuinte. É o que José Guilherme Merquior chamava, já na época de Collor, de social-liberalismo. Mas ainda não surgiu um candidato que pregue o liberalismo sem meias medidas. Alckmin poderia ter sido esse candidato (não será outro o vetor de seu governo, em caso remoto de vitória), mas que marqueteiro o deixaria correr tamanho risco?”

O último defensor do liberalismo sem meias medidas foi Roberto Campos. Mesmo seus discípulos evoluíram para visões mais sofisticadas. O grande defensor de políticas sociais liberais é José Alexandre Scheikman, um homem de Chicago. O próprio Alckmin, quando apresentado ao liberalismo sem meias medidas da Casa das Garças, mostrou claramente que não endossava esses princípios.

Depois de ler os leitores

Olavo de Carvalho costumava denunciar um tipo de sofisma empregado nas discussões: quando vai atacar o adversário, você cria um perfil que não corresponde às suas idéias, para o ataque ter mais eficácia.

Na verdade, esse perfil do liberal sem meias medidas foi uma criação dos críticos do liberalismo. O liberalismo clássico sempre defendeu o papel do Estado nas políticas compensatórias, especialmente educação e saúde. Os liberais de carteirinha nunca defenderam a posição exposta no artigo. Seus defeitos são de outra natureza.

Luis Nassif

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