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Portadores de futuro

A coluna da antes de ontem foi escrita antes do evento de premiação da Fundação Nacional de Qualidade (FNQ), ocorrido na segunda-feira, em São Paulo.

Fosse este um país com exata compreensão do conceito de relevância, a cerimônia contaria com a presença do presidente da República, ministros e dos governadores eleitos.

Estavam todos os pioneiros lá, de empresários e executivos como Edson Vaz Musa, Jorge Gerdau, Bob Mangels, Herman Wever, Carlos Salles, a técnicos do governo da época, como Dorothea Werneck, Antonio Maciel. José Paulo Silveira e o pai de todos, ex-Ministro José Israel Vargas que lançou as bases dos programas de qualidade no bojo do Acordo Nuclear com a Alemanha, nos anos 80.

A Fundação Nacional da Qualidade me deu a honra de me incluir entre os 25 nomes que ajudaram a criar a história do setor do país.

Nos intervalos, deu para reconstituir a primeira ação efetiva para dotar a economia brasileira de competitividade: a saga da Câmara Setorial da Indústria Automobilística.

Foi uma montagem política extraordinária, depois que o recém-eleito presidente Fernando Collor lançou a provocação sobre a “carroça” que o Brasil fabricava.

Do lado empresarial, o acordo foi amarrada com dezoito entidades, incluindo os presidentes de todas as montadoras, em um plano meticulosamente planejado por Maciel. Do lado sindical, a Ministra Dorothea Werneck logrou um apoio inédito da CUT. A entidade não apenas aderiu ao acordo automotivo, como começou a implementar programas de gestão internamente.

Em pouco tempo abriu-se o horizonte e o país moderno começou a se impor. As empresas passaram a implementar programas de qualidade. Depois, descobriram que o melhor investimento que poderiam fazer seria em pessoas. Até a paisagem urbana começou a mudar. Em, Betim, a Fiat passou a enfeitar suas instalações com jardins e aquários e, em pouco tempo, montava ações para que as casas de seus trabalhadores pudessem se transformar em jardins.

O maior fenômeno da moderna história do país não foi captado pela mídia quando começou, nem quando ganhou vôo de cruzeiro. Nem quando completou quinze anos de vitórias e transformações.

Em 1994, o plano de abertura gradual da economia, com melhoria contínua dos processos gerenciais foi violentamente atropelado pela política cambial do Real. Da noite para o dia o real se apreciou em 20%.

As empresas nacionais foram jogadas em um vendaval. Cadeias produtivas inteiras foram destroçadas enquanto a personalidade acomodatícia de Fernando Henrique, primeiro, de Lula, sem seguida, iam matando as esperanças de promoção do desenvolvimento.

Mas os guerreiros da qualidade continuaram. Empresas nacionais, multinacionais instaladas no país, o setor secundário, o terceiro setor, funcionários públicos, o exército da qualidade não esmoreceu.

Quando se anunciou o nome do vencedor do ano, a Belgo Mineira, a platéia em ovação, na celebração dos avanços obtidos por um dos seus. No discurso do presidente da Promon (uma das finalistas), ficava clara a emoção por perseguir permanentemente a perfeição, e ajudar o país a crescer. Sabia estar cumprindo uma missão.

Nos discursos finais, Jorge Gerdau fez mais um chamamento à responsabilidade empresarial. “Nós que ganhamos esse conhecimento, e mudamos nossas empresas, temos a obrigação de disseminá-lo por todo o país”. E o presidente da FNQ, Pedro Passos, da Natura, chamou a atenção para a nova etapa do desafio nacional, as novas visões sobre a integração das empresas brasileiras do mundo e da melhoria da vida interna do país.

O evento passou em branco na mídia, no governo. Mas ali naquele hotel da Brigadeiro Luiz Antonio, havia um país vitorioso, com sentido de missão, entendendo que desenvolvimento é um processo sistêmico, que o melhor investimento que se faz é em pessoas. É um país de pensamento sofisticado, que fala em processos, em modelos de interdependência com fornecedores, em cadeias produtivas, em estratégias de globalização, em parcerias com trabalhadores, em inovação..

Ao longe, ouviam-se os ecos das últimas formulações dos cabeças-de-planilha repetindo bordões simplificadores sobre gastos públicos, Previdência, e sendo saudados por uma multidão de cegos fundamentalistas como se portassem as novas verdades.

Luis Nassif

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