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VEGANOS PODEM SER OS NOVOS COMUNISTAS

Por Danielle Denny

Os inimigos públicos, agitadores, desordeiros deixaram de se os comunistas, como antes do fim da Guerra Fria. A juventude agora adota outros tipos de comportamento para atuar na política. A complexidade do tema foi analisada por Oscar Aguilera, na ESPM, 10 de setembro de 2010.

O que é juventude? Precisam ser determinadas as coordenadas histórico temporais que permitam o uso da nomenclatura juventude. Juventude não é externa ao indivíduo, mas uma relação política. E comporta tanto a condição de objeto como de sujeito. Como objeto de políticas gerais, locais e familiares os jovens reproduzem o imaginário hegemônico. Como sujeito empírico da política são ora resistentes e ora reprodutores de discussões hegemônicas. Em outras palavras juventude é uma metáfora da dicotomia mudança-continuidade.

O que é política? Seria uma forma de se expressar na realidade. Onde outros pesquisadores vêem política Oscar vê movimentações, manifestações, “movidas”, pois trata-se hoje de processo de produção coletiva. O que faz com que a juventude tenha ação coletiva, produza algo em comum como sujeitos? Há uma mudança no repertório das mobilizações, são novas formas. Por exemplo o movimento dos veganos contra o tratamento cruel de animais.

Quais são os significados que estão construindo estes sujeitos? Expressividade é diferente de identidade. Coletivos juvenis estudados por pesquisadores chilenos declaravam ser uma coisa quando na realidade eram outros. Trata-se de um jogo de máscaras que dificulta a identificação das identidades. Precisamos suspender a certeza de uma identidade e trabalhar com o conceito de performance, ou seja de criação constante. As maneiras de se expressar hoje são criação, não atualização da ordem. As performances não se sustentam dedutiva mas indutivamente. Demandam teorizações sucessivas. Ritual é o contrário de performance é só atualização da ordem. Discurso em ação sem mensagem previamente ritualizada é performance. Performance é campo aberto de significação a partir da manifestação, sem a ritualização própia dos protestos. O interessante é justamente essa vinculação entre performance e a prática política. Segundo Rodrigo Dias, antropólogo Mexicano, citado por Oscar, estamos presenciando arquipélagos de rituais.

Como essa prática performática e não ritualística impacta nas formas de agregação juvenil? Há quatro “tipologias”

– ações politizadas, atuantes no campo mais tradicional, demandando uma outra realidade;

– voluntariado, exercido pelo jovem bondoso que colabora para resolver problemas concretos da sociedade (não é novidade, vem de muito tempo, das atuações religiosas, inclusive);

– tradição comunitária, trabalho no campo da educação popular, na comunicação popular, em atividades artísticas e culturais (seria o mesmo que o autonomismo cultural da Europa); e

– expressividade simbólica, jovens compartilham estilo, forma de vida, estética. Importante lembrar que culturas juvenis não são só os que contestam (punks) mas também os que reproduzem o status quo (patricinhas).

O que é ser cidadão nos dias de hoje? Cidadania hoje não é sistema de dever e direito. É objeto de disputa jurídica. Jovens querem ser ouvidos participar, não meramente representados. Querem ter mais oportunidade de resolver problemas reais.

Qual o papel da violência? O tema da violência na juventude, abarca não só a violência entre os jovens, mas também entre o sistema contra os jovens (visão dos progressistas) e dos jovens contra o sistema (visão conservadora). Há um discurso da violência legitimada na sociedade, tanto na forma de violência representada (uso da violência simbólica para criticar o social) como da violência esquematizada (jovens são designados como intrinsecamente violentos). O fato é que, entre os jovens, a violência é aceitável como método de resolução de conflitos. Como consequência, a sociedade está cada vez mais vigiada e policiada. Isso gera reação anti-polícia. E onde há violência não há política.

Danielle Denny participou do encontro com Oscar Aguilera, na ESPM, 10 de setembro de 2010, a convite da Cásper Líbero.

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