Contradições internas do peronismo e não um desmonte da esquerda

PERONISMO DERROTA O PERONISMO NA ARGENTINA – A maior derrota sofrida por Daniel Scioli ocorreu na província de Córdoba, comandada pelo peronista José Manuel de la Sota. Córdoba é governada pelo Partido Justicialista (peronista) há 16 anos consecutivos, desde 1999. O candidato peronista Juan Schiaretti venceu o último pleito e ficará no comando da província até 2019.

O governador de Córdoba e o candidato vitorioso, ambos peronistas, fizeram campanha aberta contra o candidato presidencial do peronismo, Daniel Scioli, e, obviamente, a favor do candidato da oposição Mauricio Macri. Córdoba é a segunda maior província da Argentina, perdendo apenas para a província de Buenos Aires. Somente nesta província de Córdoba, onde o governador e o governador eleito apoiaram efusivamente a oposição, Macri abriu uma vantagem de mais de 900 mil votos sobre Scioli. No cômputo geral, lembremo-nos, Mauricio Macri venceu por aproximadamente 700 mil votos (o resultado oficial ainda não foi divulgado e a apuração está em 99,17% do total).

Outro ponto a destacar é que a província de Buenos Aires (a maior do país), governada há 08 anos por Scioli, lhe deu uma vitória magra, de apenas 200 mil votos de diferença sobre Mauricio Macri.
Note-se que Daniel Scioli venceu em 15 das 23 províncias da Argentina. Apesar disso, perdeu de lavada na cidade autônoma de Buenos Aires, cujo prefeito é justamente o sr. Mauricio Macri. Da mesma forma, perdeu de lavada, como foi visto, na segunda maior província do país, governada por uma chusma de peronistas traidores (Córdoba).

O sr. José Manuel de la Sota, como é sabido desde sempre, tem uma vinculação profunda com a ultra direita peronista, desde os tempos em que era um admirador do “bruxo” José López Rega, peronista criador da odiosa AAA (Aliança Anticomunista Argentina), organização fascista e terrorista de extrema direita que começou a operar logo após a morte de Juan Domingo Perón, em 1974, e que infernizou a vida do povo argentino durante todo o governo de Isabelita Perón, sob o comando do já citado “bruxo” (o que só comprova o caráter historicamente multifacetado do peronismo, oscilando sempre entre a extrema esquerda e a extrema direita).

Na província de Buenos Aires, onde todo mundo esperava grande vantagem para Daniel Scioli, capaz de lhe assegurar a vitória na contenda presidencial, isto simplesmente não aconteceu. E não aconteceu em grande medida porque os peronistas perderam a eleição para o governo desta província, que comandavam ininterruptamente desde 1987, de forma inesperada. A responsável pelo fim dos 28 anos consecutivos de hegemonia peronista na maior província argentina foi a candidata María Eugenia Vidal, da coligação ‘Cambiemos’, a mesma do presidente eleito Mauricio Macri.

Já imaginaram se o PT ou o PSDB perdessem uma eleição porque um governador e um governador eleito dos seus quadros resolvessem fazer campanha aberta contra o seu próprio partido? Pois foi isso o que houve na Argentina nesta última eleição presidencial.

No mais é preciso dizer que as previsões que tentam demonstrar uma hipotética queda da esquerda na América do Sul pecam pelo voluntarismo e pela precipitação.

A normalização da política monetária nos EUA a partir do mês que vem, o arrefecimento econômico chinês e a debacle no valor das commodities, fenômenos que irromperam com força descomunal em 2015, forçarão a ajustes maiores ou menores na Argentina de Macri e na Venezuela de Maduro dentro em breve. Estamos vendo ajustes como estes sendo feitos por todos os países em desenvolvimento, com desvalorização cambial e efeitos deletérios na inflação (o Brasil está passando por esse ajuste exatamente neste momento).

Logo, no caso argentino, o mais provável é que Mauricio Macri enfrente fortíssima oposição e que os peronistas, cuja força já é imensa, voltem com força total no pleito de 2019. Não custa lembrar que Macri venceu uma eleição apertadíssima – ficou com 51,40% contra 48,60% de Scioli – com margem menor do que a margem obtida por Dilma no pleito de 2014.

Desde a redemocratização argentina, em 1983, somente peronistas terminaram seus mandatos presidenciais. Raúl Alfonsín renunciou pouco antes do fim do mandato e Fernando de la Rúa, que renunciou na metade do mandato, teve que fugir de helicóptero às pressas da Casa Rosada. Ambos pertenciam ao histórico partido da União Cívica Radical, fundado em 1891 e que fará 125 anos no ano que vem.

Mauricio Macri não tem atrás de si um partido tradicional e milita no PRO (Proposta Republicana), fundado por ele próprio em 2005. Ou seja, Macri não tem um partido com forte enraizamento popular e nem é peronista, além de estar próximo de ter que enfrentar um duro e inevitável ajuste econômico a partir de 10 de dezembro.

Isso tem um significado importante: o kirchnerismo não está morto e as organizações e partidos de esquerda, ao contrário do que dizem por aí os mais apressados, vão se reorganizar e literalmente infernizar o governo de Macri. Nada leva a crer que a vitória de Macri é o prenúncio de uma queda continental da esquerda. O processo está mais com cara do que houve no Chile em 2010, quando o conservador Sebastián Piñera venceu o pleito. Ele cumpriu os seus 04 anos de mandato e a esquerda, através da antiga Concertación, com Michelle Bachelet, voltou ao poder em 2014.

Por fim, o fator Sergio Massa. Este ex peronista concorreu na última eleição presidencial e ficou em terceiro lugar na disputa. No primeiro turno Daniel Scioli fez 37,08% dos votos válidos. O segundo colocado, Mauricio Macri, fez 34,15% e ele, Sergio Massa, fez 21,39% dos votos válidos. Massa ascendeu na política argentina como um militante kirchnerista e rompeu com Cristina no segundo mandato da mesma. Saiu do Partido Justicialista (peronista) e fundou em 2013 um novo partido, a Frente Renovadora, pelo qual concorreu agora.

Sem essa dissidência de Sergio Massa, espécie de Marina Silva da Argentina, o resultado da última eleição presidencial seria uma vitória arrasadora do peronismo e do kirchnerismo, já no primeiro turno, por intermédio de Daniel Scioli. No segundo turno Massa ficou em cima do muro, o que de fato muito beneficiou a Mauricio Macri.

Essa dissidência, com importância inclusive maior do que os outros incidentes relatados, foi o que pesou mais para a derrota do candidato oficialista Daniel Scioli.

Não vimos, portanto, uma queda fulminante da esquerda, mas sim o resultado das contradições internas do peronismo que o levaram a uma derrota importante mas por estreitíssima margem, dentro do primeiro pleito decidido no segundo turno em toda a história argentina.

Não é provável que vejamos uma influência da Argentina no sentido de mudar o eixo político do subcontinente. Pelo menos é muito cedo para afirmar isso de forma categórica. 

Redação

17 Comentários

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  1. Talvez…

    Diogo, sua análise sobre o momento político do peronismo é boa, mas o uso dela como premissa determinante sobre o que vai ser o governo Macri talvez seja forçada… 

    O fato é que Macri venceu as eleições, vai negociar maioria no parlamento e deverá obte-la com o apoio de vários peronistas. Aparentemente ele é um “dândi” incompetente mas tem “cojones”, daí dificilmente fará diferente do que apregoou durante sua vida política e na campanha eleitoral, ou seja, vai governar com a mão direita… Sintetisando, acho muito difícil haver um Levy de esquerda no governo dele…

    O “interessante” é que segundo biógrafos políticamente de direita, pessoas que seriam em tese “aliadas”, Macri foi um faltoso e péssimo deputado, e foi um péssimo prefeito, ou seja, o governo Kirchner perdeu para suas próprias contradições e divisões… Um bom aviso para um certo partido que lidera o governo de um país vizinho, que ao invés de fazer auto crítica e correções de rumo, denigri e espanta aliados usando argumentos “teológicos”, onde as bases só servem para referendar a “sapiência” dos caciques… Ainda por cima se apega na imagem de um profeta canonizado para vencer as eleções e se manter no poder…

    Um abraço.

    1. Ótimo comentário, como

      Ótimo comentário, como sempre, Sérgio. Agora, cá entre nós, você acredita que o kirchnerismo seja “de esquerda “, como as pessoas costumam dizer ? Já achava difícil aceitar essa definição com o Nestor, com a Cristina então…

      1. Concordo

        Concordo Nira, os governos Kirchner não foram exatamente de orientação de esquerda. Porém também não dá para dizer que foram de direita. Foram uma espécie de neoperonismo com coragem política, mas pouco senso econômico. Acredito que os argentinos vão piorar nas condições materiais de vida no médio prázo. Já no que deixarão mexer na parte das leis (ley de médios à frente), eu não arrisco palpite. 

        Um abraço.

    2. Levy de esquerda?

      Sérgio, para mim esses dois termos são antagônicos, é só olhar o que acontece aqui para confirmar. Não vejo como alguém com o perfil saindo do mercado financeiro poderia implementar uma política de esquerda, seja aqui ou na Argentina.

      Quanto ao teu outro comentário sobre a falta de autocrítica num certo país vizinho, infelizmente você acertou na mosca.

      1. Esclarecendo…

        Nicolás, eu quis dizer que assim como não existem Levys banqueiros de esquerda, o governo dos CEOs de Macri jamais colocará um economista de esquerda para comandar a economia num governo de direita…

        Um abraço.

  2. “demonstrar uma hipotética

    “demonstrar uma hipotética queda da esquerda na América do Sul ”

    O que esta em queda não é a esquerda é o populismo e o marxismo.

    O que esta ascendendo no continente é o republicanismo e a democracia direta.

    1. Nazismo-Liberal     
      Conhecer

      Nazismo-Liberal     

      Conhecer as ideias disseminadas pelos gurus do Aliança Liberal, oriundas do Instituto Mises, antro do racismo acadêmico contemporâneo, é importante para entender o que Aliança entende por República e Democracia.

      HANS-HERMANN HOPPE, O NAZISTA-LIBERAL 

      Importante “professor” do Instituto Mises, notório realizador de palestras com membros de grupos neonazistas e da KKK, nos quais debatem os problemas gerados por imigrantes de “raças inferiores”, Hoppe é provavelmente o mais influente “pensador” desse panteão de nazistas que propagam suas ideias em institutos ditos liberais, como o Instituto Mises.

      Em seu mais famoso livro, “Democracy, the God that failed”, um líbelo anti-democrático que revela o pensamento anti-democrático e racista que orienta os seguidores dessa linha de “nazismo-liberal”, Hoppe defende que democratas, ambientalistas, socialistas, homosexuais devem ser fisicamente removidos da sociedade libertária que ele defende.

      Não por menos, figuras como Jair Bolsonaro são os campeões dessa “Democracia Direta” que Aliança Liberal defende.

      Um trecho desse líbelo nazista é batsante ilustrativo das “ideias”(digamos que sejam)que orientam pessoas como Aliança Liberal:

      In a covenant concluded among proprietor and community tenants for the purpose of protecting their private property, no such thing as a right to free (unlimited) speech exists, not even to unlimited speech on one’s own tenant-property. One may say innumerable things and promote almost any idea under the sun, but naturally no one is permitted to advocate ideas contrary to the very purpose of the covenant of preserving and protecting private property, such as democracy and communism. There can be no tolerance toward democrats and communists in a libertarian social order. They will have to be physically separated and expelled from society. Likewise, in a covenant founded for the purpose of protecting family and kin, there can be no tolerance toward those habitually promoting lifestyles incompatible with this goal. They – the advocates of alternative, non-family and kin-centered lifestyles such as, for instance, individual hedonism, parasitism, nature-environment worship, homosexuality, or communism – will have to be physically removed from society, too, if one is to maintain a libertarian order

      Essa sociedade de cunho nazista é o que ALIANÇA LIBERAL entende por “república” e “democracia direta”. Note que Hoppe defende liberdade de expressão apenas para ideias compatíveis com essa sociedade exclusivista e autoritária dita “libertária”. Pessoas com estilos de vida alternativos, não baseados na família, como homosexuais, ambientalistas, democratas, etc. devem ser fisicamente removidos da sociedade.

      Hoppe causou polêmica em universidades americanas por seus discursos racistas e homofóbicos.

      É por ideias como essa que Hoppe é tão admirada entre grupos neonazistas, membros da KKK e pessoas como Aliança Liberal.

      WALTER BLOCK, OS NEGROS SÃO GENETICAMENTE MENOS INTELIGENTES QUE OS BRANCOS

      Mais um professor do Instituto Mises, e guru de Aliança Liberal e seus amigos, é Walter Block, que defende em seus escritos salários inferiores para os negros, sob a justificativa de que estes seriam “geneticamente menos inteligentes que os brancos”.

      Walter Block, guru do Aliança Liberal, defende também a segregação racial, que a escravidão foi melhor para os negros do que políticas sociais, entre outras imundíces.

       

      Professor Who Defends Segregation

         

      Loyola New Orleans debates the views of a libertarian faculty member who argues that most civil rights laws are wrong.

      https://www.insidehighered.com/news/2014/02/24/loyola-new-orleans-discusses-professor-who-defends-segregation

      https://www.youtube.com/watch?v=ipXlhWZfWms

      Assim como Hoppe, Block também é forte opositor de direitos e liberdades civis, e esposa uma visão racista de mundo.

      MISES, O FASCISTA LIBERAL; MURRAY ROTHBARD, O RACISTA LIBERTÁRIO

      Os dois maiores expoentes dessa linha de liberalismo defendido por institutos como o Mises, e que fazem a cabeça de gente como Aliança Liberal, eram conhecidos por suas posições fascistas, autoritárias e racistas.

      Exposing the Racist History Of Libertarianism And Murray Rothbard

        Oct. 3, 2011, 7:19 PM25,604 53 

      http://www.businessinsider.com/exposing-the-racist-history-of-libertarianism-and-murray-rothbard-2011-10

      PETER SCHIFF, MAIS UM RACISTA LIBERTÁRIO

      Enfim, Peter Schiff, outro herói do Aliança Liberal, é mais um desses personagens conhecido pela defesa de ideias racistas e preconceituosas, o que caracteriza muito bem o que pensa seus seguidores.

      Uma das teses defendidas por Schiff, outro guru do Aliança Liberal, é que empregadores devem ter o direito de discriminar racialmente seus empregados.

      Peter Schiff: More Racist Economics From A Libertarian

      Gary AndersonStrategic Default Books  Dec. 7, 2011, 10:26 PM12,495 226

      I realize that many persons of color as well as many others would not give Peter the benefit of the doubt. And as pointed out in the retraction, some libertarians like Rothbard were guilty of obvious racism in advocating the separation of the races. One would hope that Schiff, as a leader if the modern libertarian movement, would repudiate Rothbard’s racism. Serious libertarians who repudiate racism really should take this action.

      Peter Schiff once said, and I paraphrase:

      Employers should be able to discriminate based on race.

       

      1. NASSIF, 90% dos “liberais”

        NASSIF, 90% dos “liberais” brasileiros são, na verdade, adeptos dessas ideias conservadoras, de cunho fascista, com conotações racistas oriundas do Instituto Mises. O tal Kim Katiguiri recentemente revelou sua admiração por Mises e seus seguidores, Constantino também.

        Seria interessante jogar luz sobre o que defendem essas pessoas, muito se iludem pensando tratar-se apenas de liberais defensores do livre-comércio, não são, são, na verdade, racistas, com uma agenda fascistóide.

        Aliança Liberal é um dos adeptos dessas ideias.

    2. Aliança Liberal, fiz um

      Aliança Liberal, fiz um comentário resumindo as princiapis ideias de seus gurus do Instituto Mises, como Mises, Rothbard, Hoppe, Block, Schiff. Vamos aguardar que você ^justifique sua adesão a essas ideias racistas e anti-democráticas.

      Alguns pontos:

      1) Você defende a segregação racial da sociedade, como faz Rothbard, Block e Hoppe?

      2) Você defende a supressão da liberdade de expressão para quem não concorda com seus ideias libertários, como faz Hans-Hermann Hoppe?

      3) Você defende a remoção física de homosexuais, ambientalistas, comunistas, democratas, entre outros, da sociedade, como faz Hoppe?

      4) Você defende que empregadores tenham o direito de discriminar racialmente seus funcionários, como faz Peter Schiff?

      5) Você defende que os negros recebam salários menores, por serem, segundo seu guru Walter Block, “geneticamente menos inteligentes que os brancos?

      6) Você defende que a escravidão foi boa para os negros, como faz Block?

      Esse foi só um resumo do tipo de lixo que é disseminado por essas figuras ilustres do Instituto Mises, vamos aguardar sua manifestação a respeito.

       

    3. Marxismo?

      Aliança, quem na América latina, inclusive nos governos chamados de esquerda, ainda se reclama do marxismo? Esses governos podem ter monte de defeitos, mas acusá-los de serem marxistas é desconhecer o sentido da palavra.

      Esperava um pouco mais de consistência na sua crítica…

    1. Graças a divisão de progressistas e traição da terceira via

      “Um gabinete para o ajuste que virá

      O macrismo designou um gabinete com ex-gerentes de empresas e amigos das patronais agrárias. As multinacionais podem comemorar porque seus ex-CEOs farão tudo que for possível para resguardar seus lucros e por seus PROntuários farão às custas de golpear sobre as condições de vida dos trabalhadores com desvalorização, achatamento dos salários, tarifaços dos serviços públicos e transporte e novo endividamento. Se podem cumprir seus planos ou não, dependerá da relação de forças, mas não se pode duvidar de suas intenções.

      A Argentina que vem aí é um país “atendido por seus donos” ou pelos CEOs de seus donos.”

       

  3. A analise está muito boa mas

    A analise está muito boa mas a Argentina e um Pais completamente imprevisivel e acho muito cedo para conclusões definitivas. Tudo o que de ruim para os trabalhadores o autor vaticina que pode ocorrer sob o governo Macri JA ACONTECEU.

    Queda de renda, desemprego, crescimento estancado, inflação, não é o Macri quem vai fazer, a Cristina já fez e é porisso que seu candidato perdeu. A politica economica da Kirchner com seus “boyzinhos” improvisados no Ministerio foi irresponsavel e de uma absoluta incompetencia, a falsificação de estatisticas como método de propaganda, a vulgaridade da propria pessoa da Presidente com seu ar vamp-coquete de teatro de revista, nada disso podia levar a Argentina à posição que merece ter no mundo,  Cristina deixou a Argentina completamente ISOLADA economicamente, politicamente, diplomaticamente, estrategicamente, um Pais pária apesar do riquissimo capital humano e historico.

    1. Caro Andre Araujo

      A situação econômica atual da Argentina se assemelha e muito ao que tínhamos no Brasil até 2014. Ou seja, os índices de emprego estão bons e não há queda da renda dos trabalhadores, muito antes pelo contrário. O crescimento econômico está de fato estagnado e a inflação é de dois dígitos. 

      Escrevi no texto que a partir de 10 de dezembro, quando Mauricio Macri vai assumir, ajustes de grande importância terão que ser feitos na Argentina, mais ou menos como os ajustes que estão sendo feitos agora no Brasil. Estes ajustes, com maior ou menor intensidade, seriam feitos também por Daniel Scioli, se ele tivesse vencido. 

      O governo de Cristina Kirchner levou até o limite às políticas de altos subsídios para a energia elétrica e para setores econômicos diversos, além de aumentar constantemente as aposentadorias, pensões e o salário mínimo. Igual ao que tivemos aqui, o orçamento estourou de vez. 

      A brusca mudança econômica que se abateu sobre os países em desenvolvimento neste ano de 2015 força a que estes mesmos países tenham que se ajustar, geralmente através da desvalorização cambial num primeiro momento. 

      O agravante da situação econômica argentina, que ainda não se ajustou, é que o governo de Cristina Kirchner acabará com o maior déficit público verificado desde 1982, além de ter queimado grandes contingentes das reservas internacionais para tentar manter a economia (o Brasil manteve completamente intactas as suas reservas internacionais).

      É neste sentido que digo que o ajuste que Macri fará terá como consequência uma grande agitação social e uma oposição virulenta. Pois não é isso o que temos visto no Brasil em 2015? E é isso que veremos na Argentina a partir do ano que vem. As pessoas não vão gostar nenhum pouco do ajuste que virá logo ali adiante. 

      1. Meu caro Diogo, em certo

        Meu caro Diogo, em certo sentido a recuperação argentina será mais facil, apesar da falta de reservas. A classe media argentina tem há decadas um colchão de economias em dolares guardados para enfrentar crises, algo que aqui não existe.

        A Argentina tambem tem pouca diida externa uma vez que desde 2001 o Pais não toma emprestimos.

        E tem a vantagem de não ter uma Lava Jato, operação que na melhor das intenções vem destruindo boa parte da economia brasileira no afã de combater a corrupção, é o barbeiro funcionando como cirurgião, fazem um imenso estrago achando que

        estão salvando a patria, assim como o Grande Inquisidor queimava os hereges achando que estava salvando suas alamas.

  4. Macri tem o apoio do Partido

    Macri tem o apoio do Partido Radical, com ampla penetração nos municipios e no Congresso, com uma estrutura partidaria nacional. Sem o Radicalismo (partido de Alfonsin e De la Rua) nao teria chegado ao poder.

    O peronismo nao oscila entre as extremas direita e esquerda. Teve nos ’70s essas duas facções nas suas filas (Triple A e Montoneros), uma devenida em forças paramilitares da repressão (Triple A), outra exterminada pela repressão (Montoneros).

    Desde a volta da democracia, em ’83, foi do neoliberalismo (Menem) ao Populismo de esquerda (Kirchner)

    Macri chega ao poder com um discurso populista de direita, entendendo o populismo como uma retórica que busca construir uma hegemonia a partir de um setor da população, representado por um de nós ou por um lider aspiracional (o caso de Macri) que, tendo identificado uma demanda central (cambio/ mudança) que costura todas as outras demandas (segurança, economia, crescimento, corrupção), encontra um inimigo (o kirchnerismo) ao qual se opōe, e que impede atender essa demanda. É o que fez o Kirchnerismo durante a primeira década do século, reerguendo o sentimento nacionalista após o default contra o capital internacional e os banqueiros.

    A situação argentina é muito mais simples de resolver do que a brasileira, pelos motivos que Araujo citou no seu comentario. A contradição está justamente nesse fato: Cristina é denostada pelos eleitores de Macri e pela midia e o establishment internacional, mas entrega o pais numa transição infinitamente mais ordenada que Alfonsin en ’89 e De la Rua em ’02, por méritos próprios. 

    A maior parte das mudanças que o kirchnerismo implementou nos seus 13 anos de governo vão continuar: do ponto de vista social (Asignação por filho, Matrimonio igualitario, fim das anistias para crimes da ditadura, recuperação da memória), enquanto infraestrutura (reestatização de YPF e AA, lancamento do ARSAT), ciencia e tecnologia (o que fez com que Macri mantivesse o mesmo ministro de Cristina no cargo) e educação (novas universidades).

    Os deméritos são por demais conhecidos: baixo crescimento, alta inflação, corrupção. Não há desemprego galopante nem falta de consumo. A imprensa sim é impiedosa, e ela perdeu a batalha para desmontar o oligopólio Clarín.

    Resta saber se o governo de Macri vai ter o apoio dos capitais argentinos no exterior, do campo, que tem mais de Usd8B para liquidar já, se as paritarias (convenios coletivos de trabalho recuperados pelos Kirchner) serao mantidos, e se a cojuntura internacional para 2017 melhora (2016 não sera fácil mas ele conta com a complacência geral do 1ro ano de governo).

     

     

     

    1. MACRI, UM FALSÁRIO.

      Amigo, acreditas nas promesas desse sujeito, que representa a CIA, por intermédio da

      Embaixada americana em Buenos Aires, juntamente com o ex-peronista Massa?

      Então coloque seu sapatinho na janela que Papai Noel vai pôr seu presentinho nele! 

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