A interrupção do programa Socinfo

Por Adailton Silva

Caro Nassif,

Gostaria de lhes sugerir que elaborasse um estudo prospectivo e comparativo de como estaria o Brasil e os programas e relações internacionais na área da “Information Society”, caso o Programa Sociedade da Informação – Socinfo – não tivesse sido “engavetado” pelo governo Lula em 2003.

O programa Socinfo foi instituído em 1999 pelo governo federal, concebido a partir de um estudo conduzido pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT) e que faz parte do conjunto de projetos que compõem o Plano Plurianual 2000–2003 (PPA), com um aporte de recursos previsto de R$ 3,4 bilhões, sendo coordenado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

O objetivo do Programa SocInfo é integrar, coordenar e fomentar ações para a utilização de tecnologias de informação e comunicação, de forma a contribuir para a inclusão social de todos os brasileiros na nova sociedade e, ao mesmo tempo, contribuir para que a economia do País tenha condições de competir no mercado global. A execução do Programa pressupõe o compartilhamento de responsabilidades entre os três setores: governo, iniciativa privada e sociedade civil. Para tanto, se desdobra em sete grandes linhas de ação: “mercado, trabalho e oportunidades”, “universalização de serviços e formação para a cidadania”, “educação na sociedade da informação”, “conteúdos e identidade cultural”, “governo ao alcance de todos”, “P&D, tecnologias-chave e aplicações”, e “infra-estrutura avançada e novos serviços”.

O programa foi concebido a partir das ideias de nomes como Tadao Takahashi, Carlos José Pereira de Lucena, Ivan de Moura Campos e Silvio Meira.

Foi desenvolvido o “Livro Verde da Sociedade da Informação no Brasil” [1]. O programa estava plenamente alinhado aos programas e tendências mundiais da Internet Society [2] e em plena cooperação com programas internacionais da área [2, 3]  e outros. 

O Programa Socinfo estava estrutura para atuar e integrar ações nas seguintes áreas [1] e era um integrador interministerial:

   I – Mercado, Trabalho e Oportunidades

   II – Universalização de Serviços para a Cidadania

   III – Educação na Sociedade da Informação

   IV – Conteúdos e Identidade Cultural

   V – Governo ao Alcance de Todos

   VI – P&D, Tecnologias-chave e Aplicações

   VII – Infra-estrutura Avançada e Novos Serviços

De 2000 a 2002 o Programa Socinfo trabalhou intensivamente. Nas áreas de Inclusão Digital, Universalização de Serviços e Identidade Cultural, por exemplo, o Socinfo estava pronto para implantar em todo país 15mil Bibliotecas Digitais em conjunto com o Ministério da Cultura, MCT e Minicom, com recursos do FUST (Fundo para Universalização dos Serviços de Telecomunicações). 

Foram projetadas 5 Tipos de Bibliotecas Digitais, cada tipo de acordo com o tamanho e o perfil da instituição que abrigaria a infraestrutura (Bibliotecas Municipais, Estatuais, Federais e Organizações Não Governamentais). Cada tipo de biblioteca contaria com um Kit de Computadores e Impressora conectados em rede local com conexão Internet banda larga. O Kit também contaria com uma coleção de de 500 a 5000 livros físicos. Os instrutores e multiplicadores já estavam treinados e capacitados. Estimava-se que cada Biblioteca atenderia, em média, um público direto de 2 mil pessoas, totalizando 30 milhões de usuários. Hoje a Internet tem aproximadamente 43 milhões de usuários [4].

Como aplicação integradora entre as Bibliotecas, foi desenvolvido pela Agência Cidadão em Campinas e pela Unicamp (utilizando uma linguagem de programação chamada Zope), um sistema de colaboração de conteúdos (textos, áudio, vídeo, fórum de discussão, mediação, etc). Os conteúdos criados pela própria comunidade local seriam compartilhados nesse sistema de colaboração. Talvez essa aplicação de colaboração, se tivesse sido efetivamente implantada, fosse uma das primeiras redes sociais da Internet, pois na ápoca não se falava em Orkut, nem em Facebook e Youtube.

Passados 10 anos, hoje o Brasil não conta com um programa formal para a “Sociedade da Informação”. As iniciativas da área, se e quando existem, não são integradas. Pelo contrário, são dispersas, duplicam esforços, não otimizam a aplicação dos recursos. O Brasil perde expressivo “terreno” na liderança e na representatividade regional no que se refere “Internet Society”, passando de líder e protagonista, a mero expectador e seguidor.

Por isso, seria muito interessante um estudo prospectivo e comparativo de como estaria o Brasil e os programas relacionados nacionais e internacionais na área da “Information Society”, caso o Programa Sociedade da Informação – Socinfo – não tivesse sido “engavetado” pelo governo Lula em 2003.

Att.

Adailton Silva

Algumas Referências:

[1] Livro Verde da Sociedade da Informação – http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/18878.html

[2] Information Society – http://www.isoc.org/

[3] ALLIS – Alliance for Information Society Program – http://ec.europa.eu/europeaid/where/latin-america/regional-cooperation/alis/index_en.htm

[4] Número de usuários de internet no Brasil cresce 13,9% em um ano e chega a 43,2 mi

http://blog.planalto.gov.br/numero-de-usuarios-de-internet-no-brasil-cresce-139-em-um-ano-e-chega-a-432-mi/

 

Luis Nassif

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