Texto original (em alemão); http://orf.at/stories/2061076/2061071/
Como Reagan “permitiu” a AIDS
Em um artigo de 5 de Junho de 1981, vários médicos descreveram a doença de cinco jovens homossexuais (homens) em Los Angeles. Eles sofriam de uma inflamação pulmonar muito rara. Dois dos pacientes já estavam mortos quando publicaram o primeiro relatório científico, 30 anos atrás, sobre a doença fatal de deficiência imunológica. Ninguém sabia ainda que o vírus desconhecido era a causa.
A história da AIDS é também a história de uma omissão grave. A homofobia e a ignorância asseguraram o desenvolvimento sem impedimentos da doença durante décadas. Desde então a doença já fez mais de 25 milhões de vítimas fatais, o que foi significativamente mais do que todas as vítimas civis e militares da Primeira Guerra Mundial.
“A vingança da natureza contra os gays”
Principalmente o Presidente Ronald Reagen – quando em seu primeiro mandato a doença ficou conhecida – ignorou o perigo de uma epidemia de AIDS.
Pelo contrário, a doença era perfeita para sua visão de mundo homofóbica e foi utilizada por ele para atender a sua base eleitoral cristã-fundamentalista-conservadora-de-direita e seus preconceitos e aversões a homossexuais. Segundo o jornal “San Francisco Chronicle”, o porta voz do presidente Reagan, Pat Buchnan, chamou a AIDS literalmente de: “a vingança da natureza contra os gays”.
Apesar, mês após mês, do aumento assustador das taxas de infecção e do pedido de pesquisadores e profissionais de todos os níveis da área de saúde para fornecer dinheiro para a pesquisa da doença, o governo Reagan reagiu com indiferença.
Longo silêncio de Reagan
Mesmo em 1 de Fevereiro de 1983, quando já haviam sido registrados 1.025 casos de AIDS e, pelo menos, 394 mortos somente nos EUA, Reagan permaneceu calado. Cerca de um ano mais tarde, o Centro Americano de Controle e Prevenção de Epidemias relatava 4.177 doentes de AIDS e 1.807 mortos – mas Reagan permaneceu em silêncio.
Em um jantar na Casa Branca, a primeira dama Nancy Reagan mostrou-se preocupada com um de seus convidados que, aparentemente, teve uma perda enorme de peso – em Julho de 1985 foi anunciado que a estrela de Hollywood Rock Hudson era doente de AIDS. Assim, a epidemia ganhou pela primeira vez um rosto conhecido mundialmente. Mas Reagan continuou sem falar nada sobre essa doença que se espalhava rapidamente.
Em 1985, o congressista democrata Henry Waxman escreveu no Washington Post que “é surpreendente que o presidente fique calado apesar de 6.000 americanos morrerem, e que ele possa ignorar a existência de uma epidemia. Talvez seus conselheiros estão convencidos de que ele não tem escolha, porque a Nova Direita juntou fundos justamente através de um sentimento anti-gay”
Seis anos perdidos
A administração Reagan – diretamente questionada sobre o tema em 1982 – levou tudo para o ridículo, para a piada. Enquanto isso o Centro Americano de Controle e Prevenção de Epidemias tinham pouquíssimos recursos disponíveis para lutar efetivamente contra a propagação da doença nos EUA (salon.com). E faltava também um plano geral de controle da epidemia.
Somente no final do seu segundo mandato – maio de 1987 – Reagan deu suas primeiras palavras sobre o tema na 3. Conferência Internacional sobre AIDS, em Washington. Naquele momento 36.058 cidadãos americanos já haviam sido diagnosticados com AIDS e 20.849 já tinham morrido em decorrência do vírus HIV. A doença já havia se espalhado para 113 países e matara mais de 50.000 pessoas.
Elisabeth Taylor havia anteriormente, em uma carta quase que implorado e frisado a Reagan, que suas palavras ajudariam “demais na libertação da doença de seu estigma arcaico (doença de homossexuais) e no esclarecimento das pessoas de que não era mais uma doença de uma minoria. Pode acontecer com todos. Não é culpa de ninguém e um problema de todos”.
De “piada de mau gosto” a “inimigo de Estado”
Demorou 13 anos até que o então presidente dos EUA, Bill Clinton, declarou a AIDS como um “inimigo de Estado” dos EUA. A epidemia podia derrubar governos, criar caos na economia mundial e provocar conflitos étnicos, assim explicou Clinton sua decisão. Seu governo disponibilizou amplos fundos para a pesquisa e prevenção da AIDS. Mas de certa forma já era, naquele momento, tarde demais: Anos a fio de recusa deliberada do governo americano sob o comando de Reagan em reconhecer seu perigo para a população, facilitou a propagação da epidemia de forma significativa.
Tradução livre K.T.
Links:
Elizabeth Taylors Brief an Reagan
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