Genoíno e o erro do PT com Heloísa Helena

Comentário ao post “A carta de Miruna Genoino em defesa do pai

Da Unb

Em livro, Genoíno confessa que PT errou com Heloísa Helena

Em livro biográfico que será lançado nesta segunda-feira (dia 4), o deputado federal José Genoíno (PT-SP) narra muito mais do que a sua trajetória petista, da infância pobre no Ceará, passando pela guerrilha, até o que ele qualificou de suplício pós-moderno com o mensalão.

Genoíno confessa, por exemplo, que o PT errou com Heloísa Helena. Dois anos depois de deixar a presidência do PT há dois anos, no auge do mensalão, um dos principais nomes do partido do presidente Lula começa a romper o silência.

No mês passado, Genoino ocupou pela primeira vez a tribuna da Câmara para dar sua versão sobre o mensalão e dizer que foi “condenado previamente”. “Sente-se que o mundo todo desabou sobre você e ninguém aparece para retirar os entulhos que o esmagam”, discursou.

Agora, o petista volta a se expressar pelas páginas da biografia autorizada José Genoino – escolhas políticas (Centauro Editora), escrita pela professora Maria Francisca Pinheiro Coelho. Concluído ainda em 2005, o livro será lançado apenas em São Paulo.

Na obra, dividida em seis partes, o deputado faz um mea-culpa: admite, por exemplo, que errou na condução política e nas relações internas do PT no período em que esteve à frente do partido. Um desses equívocos, segundo ele, foi a expulsão, em 2003, da então senadora Heloísa Helena (AL) e outros três deputados petistas (Babá, Luciana Genro e João Fontes). “Acho que o processo que vivemos em 2003 que levou à expulsão de parlamentares também prejudicou a construção dessa pactuação. Eu sofri muito nesse processo. Eu não comemorei. Para mim, foi uma derrota a saída deles”, diz o deputado, na parte final do livro, que reproduz três entrevistas feitas pela autora. Os erros do PT, no entanto, não pararam por aí, na avaliação dele.

“Acho que o partido devia ter tomado todos os cuidados de, ao governar o Brasil, mudar a forma de fazer política. […] O fato de não termos iniciado com a reforma política nos debilitou muito”, reconhece.“O partido não se preparou devidamente porque não definiu melhor o seu lado”. As entrevistas são uma espécie de complemento da obra, que aborda a vida do petista desde o seu nascimento, em 1946, no interior cearense, até 2002, quando ele perdeu a disputa pelo governo de São Paulo para Geraldo Alckmin (PSDB).

Nelas, ele fala sobre o mensalão, a chegada à presidência do PT e a derrota para o candidato tucano. Nada, contudo, parece incomodar mais o ex-guerrilheiro do que a denúncia aberta pelo Ministério Público Federal contra ele e outras 39 pessoas por participação no esquema financeiro intermediado pelo empresário Marcos Valério Fernandes. Suplício pós-moderno “Para quem viveu a tortura, agora [outubro de 2005] é como estar vivendo o suplício pós-moderno. Suplício pós-moderno é quando você vê sua imagem sendo afetada, sendo atacada, quando você fica meio cercado”.

“O projeto nosso era como uma árvore, nós tínhamos visibilidade, tínhamos raízes, mas faltavam galhos porque o PT ganhou a eleição, mas não ganhou a maioria, e na democracia a governabilidade supõe maioria”, conta Genoino, ao justificar o repasse de recursos para partidos da base aliada. Um dos principais nomes das CPIs do PC Farias e do Orçamento, Genoino considera uma “lição” o fato de ter sido convocado por uma comissão parlamentar de inquérito a depor na condição de depoente, como ocorreu na CPI do Mensalão.

“Hoje você está numa posição e amanhã pode estar em outra. É uma lição que o homem público precisa estar preparado quando convocado”.

O livro narra a infância pobre em Encantado, distrito de Quixeramobim, no interior do Ceará, onde nasceu, até o encontro com o padre João Salmito, que o levou, aos 13 anos, para prosseguir os estudos no município de Senador Pompeu. Detalha, ainda, a ida de Genoino para Fortaleza, a sua filiação ao PCdoB e a participação no movimento estudantil, que o levou para São Paulo; a ida para a guerrilha do Araguaia; as torturas e os cinco anos de prisão; a anistia e o retorno a São Paulo e, por fim, a chegada ao Congresso, em 1983, como um dos oito deputados eleitos pelo PT. Apesar de se manter distante dos holofotes e raramente se pronunciar no plenário, o deputado ainda exerce grande influência na bancada do PT e tem recebido manifestações de apoio e respeito de parlamentares da oposição desde que voltou à Câmara.

Mas o parlamentar expansivo e combativo de outrora deu lugar a um congressista discreto. Estreando este ano como parlamentar governista, após cinco mandatos fazendo oposição, Genoino diz ter se surpreendido com a radicalidade dos oposicionistas durante a crise. Ao admitir que o PT tratou a questão ética de “maneira condenatória”, o deputado afirma que a vingança “veio em dose dupla” contra a legenda.

Virtú e fortuna

Doutora em sociologia e professora da Universidade de Brasília (UnB), Maria Francisca Pinheiro Coelho recorre a conceitos usados por Maquiavel no clássico O Príncipe para ilustrar passagens da vida do biografado. Maria Francisca diz que Genoino, além de coragem e determinação (virtú), teve também sorte (fortuna) em sua trajetória política. Ilustra o argumento com o fato de ele ter sido preso na guerrilha do Araguaia, logo no primeiro ataque do Exército, em 18 de abril de 1972. Se não tivesse sido preso naquela ocasião, raciocina a autora, provavelmente Genoino teria sido morto em combate, como ocorreu com a maioria dos combatentes da guerrilha.

Segredos

Genoino conta no livro um segredo só revelado para a família depois de anos. É a filha que teve, fruto de uma relação extraconjugal, com uma militante do PT logo quando assumiu o primeiro mandato de deputado, em 1983. Genoino a manteve em segredo até 1999, quando contou o caso para a mulher e os dois filhos. “Foi na época da campanha das Diretas. Não a registrei no primeiro momento. Ela ficou um tempo só com o nome da mãe. Ela me trouxe a menina para eu ver. Registrei logo após a Constituinte, em 1988”, afirma.

Segundo Maria Francisca, o deputado havia pedido para ela não contar sobre a filha, mas que depois ele acabou liberando a entrada da história no livro. Outra revelação de Genoino era o sonho de comandar a Câmara. “A única coisa que sempre sonhei, mas que não consegui foi ser presidente da Câmara dos Deputados”.

Luis Nassif

1 Comentário

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  1. Genoíno x Heloisa Helena

    Não me surpreende o fato do José Genoino dizer que o PT errou com a Heloisa Helena. Ele não faz isso porque é uma pessoa de caráter  à toda prova mas, por que ele sabe que a Heloisa tem “munição” contra ele. No período da votação da nova Constituição do país, ele (Genoíno) zombou da Heloisa Helena quando a mesma chorou emocionada por uma lei, que não lembro qual, foi aprovada, dizendo que a “nobre deputada pode guardar as suas lágrimas”, ao que a Heloisa respondeu: “se o nobre deputado duvida da sinceridade das minhas lágrimas, eu me dou o direito de duvidar da sua coragem, porque o que se sabe é que enquanto seus companheiros morriam na frente de batalha na guerrilha, o senhor e outros,referido-se a José Dirceu,  corria pelo meio do mato como coelho assustado”. Houve um breve momento de silêncio e José Genoíno saiu de cena com cara de poucos amigos. José Genopino não tem nenhum apreço  pela Heloisa Helena, o que ele tem  é respeito, pois ela sabe muito do passado dele

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