A maior ameaça ao presente e ao futuro do Brasil está em Brasília, por Janio de Freitas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto Leonardo Benassatto/Reuters

Jornal GGN – A Câmara ditou o fim da crença do povo em seu país. Mesmo que seja unanimidade para a sociedade que Temer tenha que ser afastado e investigado, a maioria dos deputados votou com o chefe. O grupo minoritário não tem poder de decisão, e é o grupo minoritário que não tem acusações ou processos. A maioria é formada por citados, uma tropa de assalto decidiu, após receber um reforço de última hora. Com outras palavras é o que diz Janio de Freitas da performance de ontem na Câmara, quando votaram a favor de Temer e contra a Nação.

Em sua coluna na Folha, Janio vai mais longe. Fala da passividade do povo diante das mazelas enfrentadas desde o impeachment de Dilma, aquela que não cometeu crimes. Fala da passividade diante de crime urbano, quando os maiores crimes são cometidos em outra instância.

Leia o artigo a seguir.

da Folha

A maior ameaça ao presente e ao futuro do Brasil está em Brasília

por Janio de Freitas

Nada mais do que um dia comum. No país todo. O dia, no entanto, em que um portador das condições simultâneas de presidente e de acusado de corrupção deveria saber a resposta da Câmara dos Deputados à população que, tão perto da unanimidade, deseja vê-lo excluído do poder. E, por consequência, entregue às investigações da polícia e ao arbítrio da Justiça. Um dia comum só possível onde o povo, ainda que sabendo o que quer, desiste do país.

A correção do procedimento na Câmara foi contestada pela oposição ao acusado Michel Temer. Mas aí está uma recusa ao empenho da Câmara, pela quase totalidade dos seus partidos, de ampliar a sua coerência interna. Método incorreto para um acusado idem. E por isso mesmo posto no lugar da antecessora correta.

No mesmo sentido, o grupo minoritário dos deputados sem acusações e processos não tem poder decisório. Quem o exerce são os citados ou já sob processo por corrupção. Tropa de assalto cujo nível ético e político recebeu eloquente reforço de última hora.

Do final de junho ao correr de julho, o acusado Michel Temer introduziu no palácio presidencial e na residência oficial 20% dos deputados. Figuras da sua tropa, mas pouco confiáveis pelo chefe ou com novos preços no mercado da ordinarice inflacionada. Com todos, um a um, foram negociados a compra do voto e o pagamento em cargos ou em liberação de verbas, ou em ambos. O Tesouro Nacional paga, com os impostos.

Em tais circunstâncias, pode parecer que o alheamento e a passividade são a saída natural. Nos países que foram ou vão adiante, circunstâncias deprimentes soaram como convocação.

Por falar em passividade, outra visão dela foi exposta no Rio pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional. O general Sérgio Etchegoyen faz dura reprovação ao que considera a passividade da população diante das mortes de policiais. E fazer o quê, com que meios, além do pesar?

A passividade é outra. Afinal posta em ação, a Polícia Rodoviária Federal juntou-se com policiais civis e só, na “comunidade Jardim América”, subúrbio do Rio, foram recuperados 16 carros e 10 motos roubados, com 11 presos.

Houvesse ações constantes das polícias pouco usadas, não seria possível o acúmulo de roubos agora apreendidos. O resultado de uma só ação é suficiente para atestar que a passividade é dos comandos da segurança. E, por certo, muito mais roubos e seus autores estão à disposição de resultados policiais nas centenas de lugares isentados das ações.

Considerando-se o que se passa na Presidência, na Câmara e na maioria dos partidos, também não parece bem afinada a conclusão do general de que “o crime organizado é a maior ameaça à sociedade brasileira”, referindo-se à criminalidade urbana.

A recessão que corrói o Brasil não provém das favelas, estas concentrações de vítimas do desemprego, da ausência de ensino, da desgraça da saúde, da pobreza e dos preconceitos. E, sobretudo da passividade indiferente dos 10% de alta riqueza e da maioria da classe média, apoiadores do acusado Michel Temer. A maior ameaça ao presente e ao futuro do Brasil está em Brasília, tem palácios, torres, cúpulas – e muito roubo.

AINDA E SEMPRE

Sergio Moro vai tentar, até o fim da vida, explicações para a divulgação ilegal das gravações ilegais com a então presidente e Lula. Volta agora à do começo: “As pessoas tinham o direito de saber a respeito daqueles diálogos”. Mesmo que fosse o caso, o juiz Sergio Moro não tinha e não tem o direito de transgredir a lei, como fez em dose dupla. Impunemente -o que deveria incomodar quem vive de punir os outros.

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. independência e poderes.

    Natal, 03/08/2017.

    Ontem ficou provado, incondicionalmente, que, as relações entre os poderes do Brasil estão entrelaçadas por uma orgia de interesses inescrupulosos onde predomina a lei da vantagem absoluta guiada pelos interesses mais mesquinhos. Os três poderes estão funcionando não em regime de autônomos, mas sim, em regime societário inescrupuloso de total convergência de interesses.   

    A tão famosa independência de poderes, que alguns parlamentares ruminam em seus discursos demagogos e canalhas, é pura farsa, não passa de engodo com a única finalidade de enganar o cidadão.  

    O jogo de interesses os mais mesquinhos é a realidade que impera em nossos poderes, esta é a realidade incontestável.

    O compadrio dos poderes esta contaminado pelos mais torpes interesses de uma minoria que só vê seus interesses corporativistas, familiares e cumpliciadas.

    Claiton de Souza. 

  2. RAIOU O SOL NO PLANALTO CENTRAL DO BRASIL

                         E eis que vem o amanhecer.

                Amanhecer amargo feito de pura inevitabilidade.

                Não vem da energia que se renova e nos faz por os pés no chão pra um novo dia, onde novas conquistas serão obtidas. Novos horizontes vislumbrados.

                Vem apenas do fato, puro e simples que, para todos que andamos hoje por este mundo, ou o amanhecer espanta a noite, ou estaremos mortos. Os vivos devem enfrentar o sol.

                Mas que diacho de dia mais mal cheiroso!

                Paira nos ares desse jovem país, um cheiro de carniça. Aquele comumente encontrado nos lixões das nossas cidades, onde o povo joga, fingindo não ter noção, os dejetos da sua vida. Aquilo que não quer perto. Os restos putrefatos do que deveria ser seu lar, sua comida, seus entes queridos.

                O lixo que a sociedade tira da sala, pois vai contaminar seu lar. Empestear sua família. Espantar seus amigos.

                Aquele que nem mais debaixo do tapete cabe.

                O que não se consegue esconder no latão nos fundos do quintal ou nos porões do edifício.

                Nossa sujeira.

                Queremos longe. Fingindo que se desintegrou no processo.

                Não empesteia mais o nosso ar… Foi empestear mais adiante.

                Por mágica, andamos pelas ruas reclamando do lixo espalhado. Das montanhas de entulho. Como se tudo se produzisse por si. Como se fosse “da natureza” produzir podridão insepulta.

                Impressionante como nos tornamos capazes de ignorar nossa podridão.

                Como aprendemos, de alguma forma, a imaginar que aquilo que nos enoja, vem de fora! Não tem nossa composição. Não é nossa responsabilidade.

                E do lixo que vamos produzindo e acumulando, apodrecem nossos dias.

                Deteriora nossa existência.

                Destrói nosso futuro.

                Colocado no meio da cidade, o lixão apodrece a céu aberto, ponto de encontro de bandos de aves carniceiras e roedores insaciáveis, que da sua natureza, cuidam de ao menos diminuir nossa podridão material. A natureza, por sabedoria, não faz acumular podridão.. Criou seu próprio sistema de reciclagem e reerguimento. A matéria morta, carcomida ou não pela doença, é processada e transformada em nova vida.

                Nós não temos esse limite.

                Não temos consciência da nossa capacidade incontrolável de contaminar, destruir e acumular matéria putrefata. Simplesmente fazemos, mais e mais.. E acumulamos lá, como monumento à nossa estupidez.

                E assim segue a vida nessa nossa sociedade hipócrita, contaminada pelo chorume que escorre daquela montanha de lixo em meio a tudo, de cuja existência reclamamos na roda do bar e na mesa do café, deixando de lado sempre nossa própria responsabilidade pela produção e estocagem.

                Criamos o lixo irresponsavelmente dentro de casa. Dentro de nós mesmos.

                Acumulamos aos montes pelos cantos ou espalhamos pelas ruas, como se fosse natural. Como se fosse sumir…

                Levamos adiante o transporte e a estocagem, concentrando seu poder destrutivo e de contaminação, reclamando dos efeitos de toda essa nojeira, sem pensar que é nossa a paternidade do filho deformado.

                E então, quando a podridão incontrolável desmorona sobre nossas cabeças, num espetáculo vergonhoso de dimensões dantescas, ficamos todos aparvalhados, sentados em nosso sofá, reclamando que a TV deixou de transmitir a novela pra mostrar urubus e ratazanas pegando cada um sua porção de imundície e levar pra toca, onde mais tarde possa consumi-la em paz, longe dos holofotes momentâneos.

                E a massa, ao invés de tirar a bunda do sofá e mudar seu mundo, limpando de verdade a podridão das ruas, praças e principalmente do lixão, fica ávida, aguardando o fim dessa incomodação, sem pensar em sujar as mãos na limpeza e menos ainda, disposta a não produzir mais lixo.

                JOGA ATERRO POR CIMA.. disfarça o cheiro e espanta as câmeras por algum tempo.

                O DIA AMANHECEU!!

                Seguimos podres e infectados.

                Seguimos destruindo sonhos e o futuro de todos…

    Mas ele amanheceu.

                Seguimos cegos e inertes ante à nossa própria imundície.

                Mas amanheceu…

                É inevitável para aqueles que estão vivos.

                E, no ar, segue o cheiro de carniça e podridão…

  3. A situação só piora com mais

    A situação só piora com mais uma paulada na inteligência do povo brasileiro. 

    Os assessores de Temer tem por hábito atribuírem os problemas sociais ao povo, que são vítimas. Quando não é o general a achar que o povo deveria fazer alguma coisa em favor dos policiais mortos, é o ministro da edicação dizendo culpando as mães dos escolares, ou o ministro da saúde achando que os doentes inventam suas dores para encherem os centros de saúde do país. Faltam-lhe capacidade de gerir as pastas, porque não foram talhados para tais cargos, e por isso mesmo não se comportam como autoridades nos assuntos pertinentes às suas funções. 

    Ontem á noite, no jornal da Cultura, aquele Pondé, muito vaidoso, como sempre, disse que Temer ainda sair-se-á, como o próprio diria, presidente pelo voto do povo, afinal é preciso muita garra para ter tido a resiliência que teve, quando todos estavam contra ele, mas suas ideias de prosseguir com as reformas hão de continuar, e isso vai se repercutir positivamente no futuro. É de lascar!

  4. Não nos convidaram para essa festa podre

    Estamos tão desnorteados, tão sem voz, que não conseguimos mais sair do lugar-comum. O Brasil não saira de tanta rapinagem e desfaçatez sem traumatismos profundos desse governo e congresso. E quem deu dinheiro uma, duas vezes para comprar deputados, vai ter que continuar retirando o dinheiro do tesouro nacional para os bolsos de deputados. E os senadores, não vão ficar sem seu quinhão…  Mas o dia triste mesmo para esta nação (?) ja passou ha mais de um ano. No dia que entre deboches e perversidades, retiraram a presidente eleita por dinheiro e proteção judicial. O resto é a consequência.

  5. Calma, calma.
    Enquanto tiver

    Calma, calma.

    Enquanto tiver Lula pra bater, cracolândia, ateus, bichas,smartphones, vitória ou derrota do time de futebol de fulano, vida após a morte, starbucks, confluência fascista de grupo, direitos humanos pra bandidos, nada, absolutamente nada, pode estar errado.

    Enquanto essa fritura no cérebro continua, doses cavalares de futuro melhor, esperanças perdidas, os quietinhos jogando sujeira pra debaixo do tapete, carros sobre faixa de pedestres, bom…

    Somos todos assassinos.

  6. O general está certo…

    …por linhas tortas:

    a conclusão do general de que “o crime organizado é a maior ameaça à sociedade brasileira”

    Mas não é esse “crime organizado”, querido general.

    O senhor e nós todos sabemos quais os criminosos e Organizações são as que ameaçam o Brasil, estão nos palácios e na casa-grande daqui e de fora do País.

    EB defendendo os brincos e colares da Zona Sul e batendo calcanhares para o pulha e canalha!

    Triste papel general!

    1. O general está certo?????

      Este general que andou criticando/censurando as conclusões da Comissão da Verdade por ousarem relacionar seu genitor também general entre os criminosos do período 64/85, agora travestido de eminência fardada do presidente golpista, que não fica corado quando coloca em segundo plano o senhor ministro (ex-comunista) da defesa, ditando cátedra e superpondo-se ao mesmo ao deitar falação sobre quesões de segurança, enquanto cuida de “proteger” com meios modernos seu chefe maior, este mesmo que em conluio com Aécios e Cunhas, sob o guarda chuva midiático dos Irmãos Marinho, desde a derrota tucana no fim de 2014, cuidou de criar condições para que a monumental crise sócio-econômica se implantasse.

      Para um general de 4 estrelas, supostamente preparado para ajudar na solução de crises como as que atravessamos, sem recorrer aos métodos do período 64/85, soa muito mal atribuir à população indefesa qualquer parcela de culpa pela morte de policiais, especialmente se atentarmos para o detalhe de que o espetáculo dantesco da noite de 02/08 ocorrido em Brasília, no recinto do Plenário da Câmara dos Deputados, de consequências muito mais graves para toda a cidadania que a morte de alguns policiais militares num canto escuro de uma favela qualquer, não gerou manifestações populares significativas como aquelas, ordeiras e justas pelos motivos que as geraram, que resultaram na absurda colocação das forças militares nas avenidas de Brasília, ordenadas por Etchegoyen e condenadas por Villas Boas, em atendimento às pressões de corruptos notórios do porte de Temer, Maia e Jungman. 

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