A miopia da ‘nova guerra fria’ sob a perspectiva anti-Rússia e anti-bolivariana, por Toste

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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
 
Miopia ou má-fé?
 
Por Toste
 
Comentário ao post “Xadrez da incógnita militar e do pós-Temer
 
Ou o “observador” em questão é um completo amador ou é abertamente mal intencionado. Surfar na onda da “nova guerra fria” lançando mão dessa perspectiva anti-Rússia e anti-bolivariana é francamente ridículo. Qualquer observador minimamente atento há de lembrar dos alertas emitidos ainda em 2013 por aliados estratégicos (solenemente ignorados por Dilma e pelos líderes progressistas – que custaram e ainda custam a admitir o erro de análise por medo de pagarem de teóricos da conspiração) sobre as estratégias de guerras híbridas soft que foram aqui implementadas a partir das tais jornadas de junho, visando uma mudança de regime.
 
Lembrando que a guerra híbrida, como se sabe, pode ter mais de um objetivo final – sua finalidade última pode ser tanto uma clássica mudança de regime quanto a falência total do estado e caos prolongado (vide primaveras árabes), o que a diferencia dos golpes típicos de antanho na América Latina. 

 
Que este “observador” tenha acordado para essas estratégias só agora, com esse olhar turvado pelo ideologismo mais tosco e primitivo da atualidade, é sério indicador de que as garras do deep state americano estão fincadas bem mais fundo do que gostaríamos de admitir. Isso tudo vai muito além do golpe dos boçais do congresso e dos cruzados do judiciário.
 
A próxima e triste consequência desse discurso do chanceler (que vai buscar suas ordens diretamente na fonte) é erguer publicamente a falsa bandeira do inimigo externo – já que a cisão interna parece perder força a cada dia.
 
Está tudo explicado tatibitate no livro imprescindível do Andrew Korybko, que sistematizou o conceito original. O tweet do Snowden logo após a divulgação dos grampos em Dilma segue sendo a mais melancólica constatação do nosso atraso intelectual e ingenuidade no campo das disputas internacionais. Podemos prender a respiração e repetir a máxima do “no end in sight”. 
 
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Redação

10 Comentários

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  1. O cachorrinho vai aos EUA falar com o Rex

    “O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, reuniu-se hoje (2) com o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, em Washington. Na reunião, os dois trataram de temas de interesse comum, como investimentos, segurança e cooperação na área jurídica. Um dos principais assuntos, segundo Nunes e o Departamento de Estado dos Estados Unidos, foi a situação da Venezuela.

    Aloysio Nunes disse que ele e Tillerson trataram da “preocupação com a deterioração da situação política e suas consequências e também da deterioração das condições de vida [na Venezuela]”.

  2. Rindo de que babaca…

    Enquanto o Tio Sam range os dentes diante de situação tão inacreditável – o golpe que ficou baratinho para eles americanos – o vira-lata é só risos….tá rindo de que babaca…

    Porque o Sen. Aloysio Nunes foi a Washington um dia depois da votação do impeachment?

    https://theintercept.com/2016/04/18/porque-o-sen-aloysio-nunes-foi-a-washington-um-dia-depois-da-votacao-do-impeachment/

    Na foto o vira-lata com Rex, que substituiu Hillary Clinton à frente do Departamento de Estado

  3. Toste, parabéns pela sintese

    Toste, parabéns pela sintese sobre a tal guerra 2.0…a título de ampliar este debate que deveria ser abraçado pelo povo brasileiro, vai aqui um artigo do Pepe Escobar sobre o tema

    “(…) Certo é que os acadêmicos brasileiros independentes já estão lançando as bases para pesquisar a Lava Jato não como uma operação anti-corrupção simples e maciça; mas como estudo de caso final da estratégia geopolítica dos Exceptionalistas, aplicada a um ambiente globalizado sofisticado, dominado por tecnologia da informação e redes sociais. Todo o mundo em desenvolvimento deveria ficar inteiramente alerta – e aprender as relevantes lições, já que o Brasil está fadado a ser visto como último caso da Soft Guerra Híbrida.

    http://operamundi.uol.com.br/dialogosdosul/guerra-hibrida-a-nova-guerra-do-seculo-21-no-brasil/14012017/

  4. Isso também: Guerra 2.0 e a inocência de Marcelo Tass

    Buscando por guerra 2.0 deparei-me com este artigo de 9/12/2010, com certeza, naquele momento visto como “teoria da conspiração”, aliás, uma bela desculpa para fugir do assunto, é que é ótimo para os espertalhões de plantão tipo Hillary Clinton que, como se sabe, ao perceber a audiência de Marcelo Tass, foi rápida no gatilho e o cooptou para sua guerra

    “(….) Não muito diferentes das Guerras tradicionais, na Guerra 2.0 perfis são cassados (agora em redes sociais), meios de financiamento são bloqueados (agora através de cartões de crédito), os centros de comando são atacados (através dos sites) e a reputação das lideranças dos inimigos são atacada de todas as formas, com o objetivo de gerar dúvidas em seus seguidores e desviar a atenção dos seus discursos. E se violações ainda maiores não estão em curso, nesse caso, isso se deve a capacidade de mobilização e de comunicação já conquistadas.

    https://segurancaedemocracia.wordpress.com/2010/12/09/a-primeira-guerra-2-0-ainda-e-uma-luta-pela-liberdade/

    O caso Marcelo Tass diz respeito ao vazamento de pelo menos 7 email pelo WikiLeaks,

    http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/altamiro-borges-como-o-imperio-ganha-coracoes-e-mentes.html

    Como Hillary ganhou Marcelo Tass..,..

    https://jornalggn.com.br/noticia/como-hillary-clinton-cooptou-marcelo-tas

     

    O caso Marcelo Tass diz respeito ao vazamento de pelo menos 7 email pelo WikiLeaks

     

    MARCELO TAS

    De: Cheryl Mills
    Para: Hillary Clinton
    Data: 2011-08-13 21:05 Assunto: MARCELO TAS

     

    NÃO CLASIFICADO Departamento de Estado dos EUA Caso No. F-2014-20439 Doc. C05784203 Data: 30/09/2015 PUBLICAÇÃO

    COMPLETA

    De: Mills, Cheryl D <[email protected]>

    Enviado: segunda-feira, 15 de agosto de 2011 4: 5AM A: Assunto: Fw: Marcelo Tas

    De: Ross, Alec) Enviado: domingo, agosto 14,201107: 19PM Para: Mills, CherylD; Jacobson, RobertaS Assunto: Fw: MarceloTas

    Cheryl + Roberta: Sempre impressionado pelo pensamento / análise de Tom. O abaixo interessante … • Alec Ross Assessor Principal para Inovação Escritório do Secretário de Estado

    De: Shannon, Thomas A Enviado: domingo, agosto 14,201105: 22PM

    Para: Ross, Alec3 Cc: Chapman, ToddC Assunto: RE: MarceloTas

    Alec: Obrigado pela sua nota. Esta é uma grande notícia,

    E um exemplo muito poderoso do que você conseguiu realizar. O conteúdo dramático das mensagens de mídia social da Síria e seu esforço para ampliá-lo tem tido um impacto positivo aqui. À medida que a violência e o assassinato aumentaram, os argumentos tradicionais utilizados aqui em defesa da soberania do governo da Síria e para manter o Brasil à margem desse evento foram corroídos. Vale ressaltar que a recente missão do IBSA a Damasco foi um exemplo de como o Brasil, a Índia e a África do Sul sentiram que não podiam trabalhar no contexto do BRICS devido a diferenças significativas com os chineses e os russos sobre os direitos humanos. Mesmo essa missão, no entanto, será uma fonte de problemas para os países que participaram. As imagens muito tradicionais de diplomatas sentados em conversa com o presidente sírio e ministro dos Negócios Estrangeiros ficaram surpresas com as imagens das mídias sociais da violência que continuaram no mesmo dia, com 15 mortos. As promessas feitas por Bashir e sua FM na reunião, e que foram repetidas no comunicado divulgado pela delegação visitante do IBSA, contrastavam fortemente com as imagens de tanques disparando em multidões. Existe uma desconexão entre o tradicionalismo dos especialistas em assuntos externos e o mundo emergente das mídias sociais. Os tradicionalistas ainda não entendem o que enfrentam e confiaram na inercia relativa da maioria dos brasileiros em relação aos assuntos estrangeiros. No entanto, isso está mudando o caso do Departamento de Estado dos EUA não especificado no número F-2014-20439 Doc. C05784203 Data:

    30/30/2015 rapidamente , e os eventos na Síria poderiam ser o que define uma nova etapa na construção de conteúdo popular na política externa do Brasil. Atenciosamente, Tom

    De: Ross, Alec Enviado: sexta-feira, 12 de agosto de 2011 12:31 PM

    Para: Shannon, Thomas A Cc: Chapman, Todd C Assunto: Marcelo Tas

    Tom, pequena coisa que pensei que você acharia de interesse; Você me ouviu falar sobre como devemos cultivar “influenciadores das mídias sociais” com a finalidade de validação e ampliação de nossa mensagem. Embaixada Brasília preparou um café para mim e Marcelo Tas durante a minha breve viagem ao Brasil em abril. Visita muito positiva. Esta manhã, exporei alguns conteúdos relacionados à Síria no Twitter. Tas pegou, construído em uma tradução em português, e depois divulgou aos seus quase 2 milhões de seguidores no Twitter.
    Isso então ricocheteou os círculos brasileiros de mídia social onde foi ampliado para que, literalmente, milhões e milhões de pessoas no Brasil (talvez 10M +) tenham lido o conteúdo que fomos. Mais importante ainda, eles não pensam nisso como algo que o USG está empurrando, mas sim Marcelo Tas. Ao traduzir e divulgar o próprio conteúdo, tornou-se seu editor e validador. É uma coisa pequena, mas uma coisa boa; Um exemplo de como usar “redes” para amplificação e validação local. Meu melhor, Alec Alec Ross Consultor Sênior para Inovação Escritório do Secretário de Estado (202) 647-6315 [email protected] Mais importante ainda, eles não pensam nisso como algo que o USG está empurrando, mas sim Marcelo Tas. Ao traduzir e divulgar o próprio conteúdo, tornou-se seu editor e validador. É uma coisa pequena, mas uma coisa boa; Um exemplo de como usar “redes” para amplificação e validação local. Meu melhor, Alec Alec Ross Consultor Sênior para Inovação Escritório do Secretário de Estado (202) 647-6315 [email protected] Mais importante ainda, eles não pensam nisso como algo que o USG está empurrando, mas sim Marcelo Tas. Ao traduzir e divulgar o próprio conteúdo, tornou-se seu editor e validador. É uma coisa pequena, mas uma coisa boa; Um exemplo de como usar “redes” para amplificação e validação local. Meu melhor, Alec Alec Ross Consultor Sênior para Inovação Escritório do Secretário de Estado (202) 647-6315 [email protected]

     https://wikileaks.org/clinton-emails/emailid/27096 No video baixo, a inocência de Marcelo Tass e a esperteza americana: podemos usar Marcelo Tass se for o caso…

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=7tZQDZQiepc%5D

     

  5. Enquanto estavamos distraidos

    Enquanto estavamos distraidos com a divisão bolivarianos vs não bolivarianos, os EUA avançavam com sua tática e deu no que deu, certo.

  6. Macacos!!

    Não são vira latas! São sim MACACOS! Isto é o que é a elite brasileira! Me lembram o seriado antigo Lancelot Link onde tinham chipmanzés vestidos de humanos. São idênticos estes bisonhos brasileiros querendo ser americanos!

  7. Nova guerra fria: faz sentido?

    Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: a ideia de nova guerra fria faz sentido a meias, como síntese discursiva com certo apelo retórico.

    Da mesma maneira como a primeira guerra fria não era a confrontação diplomática, propagandística, de inteligência e de armamentismo entre o “mundo livre” e o “mundo novo” da utopia socialista, mas sim a confrontação entre dois blocos de poder geopolítico, também a nova guerra fria insinua-se como a mesma coisa, sem ser o que declara: a “democracia americana de livre-comércio” contra “o ingerencismo autoritário sino-russo”.

    Quem cair na leitura estreitamente ideológica (mesmo que seja só para qualificar um dos lados e manter silêncio sobre o outro) estará caindo numa esparrela.

    Fundamentalmente, o que desenha essa confrontação de amplo espectro é, de um lado, a posição geopolítica unipolar (agonísticamente patriocinada pelos Estados Unidos) e, do outro, a posição geopolítica multipolar (que emergiu de forma mais contundente com a ponta de lança — a essas alturas já um “nariz de cera” — do bloco dos BRICS).

    O que vem atrás da posição multipolar são os interesses de autodefesa e protagonismo energético da Rússia, o interesse da China por uma nova matriz comercial internacional no balanço entre matérias-primas e produtos industriais e, finalmente, de uma nova arquitetura financeira que apague o protagonismo do dólar e do petróleo do Golfo.

    Muito menos que político-ideológica, essa contraposição geopolítica é mais econômica e militar. E a emergência de uma vantagem relativa do eixo Rússia-China tornou-se, de fato, a maior dor-de-cabeça para a pretensão hegemônica dos Estados Unidos.

    E é aí que entram as estratégias de cada lado. Pode-se dizer que a estratégia de ação adotada pelo interesse de manutenção da unipolaridade norte-americana tem como pais fundadores Leo Strauss e Zbignew Brzezinki, e como versão mais atualizada a estratégia do “caos construtivo”, que é o substrato lógico para aparentes absurdos como, por exemplo, a remoção de Muamar Ghadafi da Líbia para tornar a Europa à mercê de vagas de imigrantes e bandos terroristas. É sob o guarda-chuva dessa estratégia de ação e intervenção que se podem entender as revoluções coloridas, as primaveras árabes, as operações de mudança de regime (Bálcãs, Ucrânia, América Latina…).

    A estratégia da multipolariadade segue o caminho contrário: construir uma nova institucionalidade internacional, em todas as frentes, para além dos organismos hoje existentes e manietados pela hegemonia norte-americana. É aí que surgem coisas como o fórum dos BRICS, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), os projetos de alternativas ao SWIFT, o projeto da nova rota da seda etc etc.

    Não que se propugne com isso um juízo de valor, mas, no atual estado do embate geopolítico, pode-se dizer que a estratégia de ação unipolar é francamente destrutiva, enquanto a estratégia multipolar é francamente construtiva.

    Da mesma maneira como tanto as experiências anticoloniais como as oligarquias estabelecidas nos países locais encontravam sintonia de interesses com um ou outro bando da antiga guerra fria, também o mesmo vem tendencialmente ocorrendo com novas inquietações e velhos interesses regionais frente à “nova guerra fria” (claro, de modo algum tão fria assim…). E também não há nada de novo na dubiedade das oscilações (que o digam o caso turco e o caso filipino).

    Portanto, não deixa de ser prudente identificar vários níveis de relação, afinidade e validação entre posição geopolítica, estratégia de ação e interesses locais. Esses níveis não são imediatamente redutíveis (ou dedutíveis) uns aos outros, numa espécia de totalização lógica suficiente (como fazia a ideologia da guerra fria, apropriada de forma bastante débil-mental pelos militares brasileiros, e ainda hoje por eles assim reconhecida).

    Uns níveis podem explicar contextos de indução para outros, mas não subordinação lógica exaustiva. Em lugar de um planejamento demoníaco, os fatos podem ser movidos por aproveitamento de oportunidades oferecidas por outras razões (caso tunisiano, punch turco, jornadas de junho de 2013 no Brasil).

    Ingenuidade seria, a meu ver, buscar totalizações mecânicas, por um lado, ou recusar qualquer interação entre níveis, por outro.

    E, em se tratando de mentalidade militar, prefiro ficar com a advertência prudente do Nassif: “ao pouco conhecimento que o mundo externo tem da corporação militar, corresponde o pouco conhecimento da corporação sobre o mundo externo”.

  8. Essa foi a lição mais dura do golpe!

    “as garras do deep state americano estão fincadas bem mais fundo do que gostaríamos de admitir”

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