Na Alemanha, imprensa fala em “provas ralas” na condenação de Lula

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Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
 
Jornal GGN – Os jornais alemães repercutiram a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sentença proferida pelo juiz Sérgio Moro dentro da Operação Lava Jato. 
 
O Die Zeit aponta que o combate à corrupção no Brasil se misturou com objetivos políticos de “forma demasiadamente óbvia”, lembrando que Lula lidera as pesquisas de intenção de voto para 2018. 
 
O Süddeutsche Zeitung afirma que o “caçador de corruptos alcançou sua maior presa”, afirmando que Moro poderia se passar por um James Bond tupiniquim. O jornal destaca que o juiz afirmou, na sentença, a condenação do ex-presidente não lhe traz satisfistação pessoal. “No máximo, metade dos brasileiros acredita nele”, diz a publicação alemã.

 
Já o Der Tagesspiegel ataca mais fortemente o juiz de Curitiba, falando que a condenação de Lula tem “provas ralas” e que Moro se tornou o super-herói da direita no Brasil. “Entretanto, super-heróis talvez sirvam para bons vingadores, mas não para bons juízes”.
 
Leia mais abaixo: 
 
Da Deutsche Welle
 
O Brasil na imprensa alemã (19/07)
 
Jornais destacam condenação de Lula, chamando atenção para qualidade das provas contra ex-presidente e levantando questionamentos sobre as intenções políticas no combate à corrupção no Brasil.
 
Die Zeit – O grande show da corrupção, 14/07/2017
 
Para começar falando na parte mais clara de toda esta confusão política: na verdade, este processo contra Lula foi bastante construído. (…) Há declarações incriminatórias contra ele, mas também há muita coisa que o inocenta, e sequer um único documento que mostre o ex-presidente como proprietário do apartamento reformado.
 
(…)
 
O problema é que o combate à corrupção se mistura de forma demasiadamente óbvia com intenções políticas. Lula é, apesar de seus 71 anos, o candidato de seu Partido dos Trabalhadores para as eleições presidenciais de 2018. Nas atuais pesquisas, ele se encontra claramente à frente de todos os outros candidatos, e é considerado como um excepcional talento político – e demagógico.
Este é um cenário de horror para os partidos conservadores e liberais do país, os quais depuseram a presidente Dilma Rousseff em 2016, em um sensacional jogo de intrigas políticas.
 
(…)
 
E este é o problema para a democracia brasileira: a nova frente implacável contra a corrupção, que poderia significar um grande passo adiante para a democracia no Brasil, tem sido há muito vista como um mero show político. Os apoiadores de Lula querem que o “grupo criminoso” em torno do atual presidente Temer vá para a cadeia, os conservadores querem a mesma coisa para Lula, mas não conseguem chegar a um determinador comum.
 
Süddeutsche Zeitung – Caçador de corruptos brasileiro pega sua maior presa, 14/07/2017
 
Com seus ternos sempre escuros, gravata fina e olhar ameaçador, ele poderia passar por um James Bond brasileiro. Sua ascensão ao estrelato começou quando assumiu em 2015, no Tribunal Federal de Curitiba, a Operação Lava Jato, que agora é a maior campanha anticorrupção na história do Brasil. Moro se colocou, assim, à frente de uma jovem geração de juristas que organizaram algo até então algo impensável no país: eles lançaram investigações sérias contra os empresários mais ricos e os políticos mais poderosos, Moro os condenou em série a longas penas de prisão. Assim, balançou não só um sistema bem estabelecido, mas todo o aparelho do Estado. Também porque ele ofereceu repetidamente aos condenados perdão em troca de denúncias, mantendo ativa a onda de investigações. Agora ele chegou aonde sempre quis, segundo seus críticos. No prêmio principal: o ex-presidente Lula.
 
A controvérsia sobre esta decisão não envolve apenas a questão da validade das provas, mas o modo de trabalho de Moro. Uma vez, ele determinou que Lula fosse levado de casa por 200 policiais para um interrogatório. A televisão estava informada. Pouco tempo depois, divulgou para a imprensa uma conversa privada grampeada entre Lula e sua sucessora, Dilma Rousseff. Isso foi constrangedor para ambos, mas fortaleceu todos aqueles que sempre haviam acusado Moro de promover uma caça às bruxas. O juiz se sentiu obrigado a ressaltar em sua sentença que a condenação de Lula não lhe traz satisfação pessoal. No máximo, metade dos brasileiros acredita nele.
 
Der Tagesspiegel – Golpe de Estado disfarçado, 16/07/2017
 
Ele quer ser julgado pelo povo, não por um tribunal, afirmou Lula a seus seguidores. Foi quando o juiz Sérgio Moro condenou o ex-presidente brasileiro a nove anos e meio de prisão, apesar das provas ralas. Assim, Moro confirmou aquilo do qual muitos o acusam há muito tempo: que ele decide menos por critérios jurídicos do que por critérios políticos. Em caso de dúvida, contra a esquerda.
 
No processo para Lula, entretanto, muito mais está em jogo. Porque, se a sentença de Moro for confirmada em instância superior, Lula não poderá concorrer novamente à presidência em 2018. Dessa forma, o sutil golpe de Estado da direita no Brasil estaria completo. Para ela, a reeleição de Lula no próximo ano seria um cenário de pesadelo. E o fato de o político de 71 anos estar na liderança em todas as pesquisas, como candidato de seu Partido dos Trabalhadores, faz o alarme tocar.
 
Só isso pode explicar o fato de o juiz Moro ter ficado tão obcecado pela condenação de Lula. O processo em questão apurou se uma empresa de construção reformou um apartamento de Lula em troca de favorecimento para obtenção de contratos para o grupo. Lula negou que fosse o dono do apartamento, e embora a questão da propriedade não tenha sido esclarecida totalmente, Moro o condenou.
 
Assim, Moro se tornou o super-herói da classe alta de direita no Brasil. Entretanto, super-heróis talvez sirvam para bons vingadores, mas não para bons juízes.
 
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Redação

5 Comentários

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  1. Parabéns!
    Moro vai precisar

    Parabéns!

    Moro vai precisar cavar mais a própria sepultura.

    A cada dia, assim como Gilmar e Barbosa, mais longe da Justiça e da Democracia.

    A justiça internacional o espera junto com a história.

  2. A própria conta de propina não perfectibilizou a corrupção?

    Antes da perfectibilização da corrupção com o suposto abatimento do preço do apartamento e do custo reformas da conta geral de propinas da OAS destinadas ao PT, a própria conta geral de propinas da OAS destinadas ao PT não perfectibilizou a corrupção?

    Antes do abatimento, a corrupção estava imperfectibilizada?

  3. Manifesto

    “Anda, acorda, desperta se dormes, que teus filhos já clamam por ti” — Olavo Bilac

     

    Nassif: onda está essa Nação? Onde esse Povo, desarmado até de propósitos? 14 de Julho já passou no calendário. Mas a data é só alusiva. Vamos, meu Povo, derrubar mais essa Bastilha, mesmo que as Armadas do “Rei” possam até vir em socorro dos gatunos (Don Raton & Cia). Mas, o que temos a perder, que estamos sem Moral e sem Decência?

    Num Pais onde o Judiciário é  e, em sua maioria, contra governos de tentdência sociais e que vai de reacionário a corrupto. Num Executivo e Legislativo onde ladrões e outros naipes de bandidos passeam à luz do sol pelos gabinetes administrativos. Lugar onde suas Forças Armadas têm a pachorra de infiltrar milicos para vigiar os movimentos populares e conspirar contra governos democraticamente eleitos. Num cenário político e social destes que temos a perder? Qual o horizonte do Povo?

    Onde o presente é sombrio, que futuro se pode esperar?

    Vamos ouvir o poeta — “Anda, acorda….”

  4. Projeto de ditadura do Judiciário prestes a ser enterrado:

    Globo vs. Temer: o exemplo mais ilustrativo da tragédia brasileira

    Por Romulus

    A Globo nunca ficou do lado perdedor…

    Assim, em constatando a derrota final dos Procuradores, não hesitará 2 segundos antes de jogar o PGR Rodrigo Janot e o MPF ao mar…

    À Globo, no curto prazo, basta que siga a Lava a Jato de ~Curitiba~…

    (que visa exclusivamente a Lula e ao PT!)

    É verdade que o “passo maior que as pernas” – a guerra total contra ~toda~ a classe política tocada pela Lava a Jato de ~Brasília~ – animou a Globo (e a Finança) num primeiro momento…

    Afinal, a implantação da “Noocracia (escamoteada!)/ “‘Democracia’ à iraniana” no Brasil – seu projeto de longo prazo – estava a apenas um passo…

    Mas aí…

    Chegou o Ortega y Gasset e estragou a “festa”:

     

    “Entre o ser e o crer que já se é…

    … vai a distância entre o sublime e o ridículo”

     

    – Certo, Globo/ MPF/ Janot??

     

    LEIA MAIS »

    http://bit.ly/GLOBOxTEMER

     

     

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