O colapso da riqueza e a Revolução do Cashmere, por Luiz Alberto Vieira

Mobilização pró-Aécio em SP reúne cerca de mil pessoas

Artigo do Brasil Debate

Por Luiz Alberto Vieira

A revista britânica “The Economist” classificou como a “Revolução do Cashmere” a manifestação do dia 22 de outubro de apoio ao candidato de direita Aécio Neves.

Segundo a publicação, barões dos negócios e financistas não são conhecidos por tomar as ruas, mas nesta data milhares deles ocuparam a extravagante avenida Faria Lima, em São Paulo, para apoiar o candidato mineiro.

Pessoas vestidas com camisas bem passadas e com as iniciais bordadas empunhavam bandeiras de seu candidato, enquanto socialites bem vestidas entoavam frases contra o PT. Para os britânicos, faltaram apenas taças de champanhe na “Revolução do Cashmere”.

Os “revolucionários” estão fartos do intervencionismo estatal petista e o responsabilizam pelas baixas taxas de crescimento e pelo aumento da inflação. Muitos deles afirmam que o País nunca esteve tão mal.

Tais afirmações deixam economistas atônitos, uma vez que a renda desta parte da população teve substancial crescimento nos 12 anos de governo petista. A renda domiciliar real per capita do 1% mais rico aumentou 27% neste período, passando de R$ 9,6 mil para R$ 12,3 mil.

A parcela da população que pertence aos 10% mais ricos também não pode reclamar neste quesito, pois sua renda aumentou 29% no período, passando de R$ 3,4 mil para R$ 4,4 mil.

As análises deste comportamento costumam apontar o preconceito de classe e nossa herança colonial como causas. É certo que explicam boa parte do comportamento político da elite brasileira por séculos, mas há também causas objetivas que explicam o ódio dos ricos e da classe média alta ao PT, especialmente a dinâmica da riqueza.

Este é um dos raros momentos de nossa história que elite diz “there is no free lunch” com conhecimento de causa e não apenas como uma lição de moral para a choldra.

As possibilidades de enriquecimento e de construção de uma fortuna se tornaram bem mais exíguas durante o governo Dilma. Para isto, é preciso verificar as principais formas de acumulação de riqueza: imobiliária, acionária e dívida pública.

Ainda no Governo Lula, algumas fortunas foram erguidas no mercado imobiliário. A valorização dos imóveis era crescente, chegando a 30% ao ano em algumas capitais como Rio, São Paulo e Brasília. Com uma pequena entrada e negociação do ágio, os investidores puderam especular e ganhar polpudos rendimentos.

No entanto, esta fase de alta valorização dos imóveis acabou. Agora, para se vender um imóvel, é necessário um elevado desconto. Em São Paulo, construtoras chegaram a realizar um feirão, no qual os descontos chegaram a 40%, para desencalhar seu estoque.

Dados do Secovi (Sindicado da Habitação) apontam para uma retração de 43,8% na venda de imóveis novos em São Paulo, em relação a 2013.

Se, por um lado, não é possível mais especular no mercado imobiliário, por outro, os preços estão inacessíveis para quem pretende comprar seu primeiro imóvel. Desta forma, é possível esperar um longo ajuste neste mercado para que os preços se ajustem à capacidade de pagamento da população.

O desempenho do mercado acionário também não é dos melhores. Após registrar uma valorização de 515% durante o Governo Lula, o Ibovespa acumula uma desvalorização de 22,95%.

É fato que os desempenhos dos mercados imobiliários e acionários foram medíocres durante os anos FHC, mas os altos juros da dívida pública possibilitavam uma acumulação de capital com grandes retornos e baixíssimo risco.

Neste quesito, a realidade mudou muito nos últimos anos, apesar dos lamentos de economistas progressistas que comparam os juros vigentes com o restante do mundo.

Uma Selic em 11,25% permite um ganho real antes dos impostos de 4,75% ao ano. Este número é ligeiramente abaixo do rendimento histórico do capital no mundo de 5% ao ano apontado por Thomas Piketty em seu influente livro. Isto sem contar o breve período em que taxa de juros real ficou em 0% no governo Dilma.

Agora as possibilidades de fortuna ficam restritas a uma carreira exitosa ou a um longo e árduo processo de poupança, com grandes privações de consumo e símbolos de status. Isto pode ser demais para uma elite de origem aventureira, como já nos mostrava Sergio Buarque de Hollanda.

Redação

11 Comentários

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  1. iSSO é golpe do golpe.
         

    iSSO é golpe do golpe.

            Ou um contra golpe.

                Seu lá eu.

                Quem entende do assunto é o Nassa.

     

  2. motivo

    Agora as possibilidades de fortuna ficam restritas a uma carreira exitosa ou a um longo e árduo processo de poupança, com grandes privações de consumo e símbolos de status.

    É por isso que Aécio e sua turma não gostam do governo do PT.

    Agora tem que trabalhar para poder receber.

    Heresia!!!

     

  3. Excelente. Os três pontos

    Excelente. Os três pontos atacados são realmente centrais. No fundo o esnobismo e o preconceito são tudo a que se resume essa elite “aventureira”. Para imitar o estilo de vida do atlântico norte (e do cinema e da publicidade) é necessário concentrar a renda ao ponto de levar a maioria quase à indigência. Celso Furtado já ensinou isso há décadas; e não tem estrangeiro que não reconheça isso em uma rápida olhadela para o Brasil. Triste é ver quem vive do trabalho imitando essa turma. São os imitadores dos imitadores…. Mera tropa de choque de gente vulgar.

    Para aqueles que acreditam que os que vivem da especulação imobiliária e financeira e da extorsão por dívida estão cheios de vontade de investir e trabalhar vale a leitura.

    Alguém – perdão por não lembrar – já postou aqui um gráfico com a evolução da desigualdade no Brasil. Ou seja, apesar de tudo ela diminuiu atingindo os níveis do começo da década de 60. Não desprezo esse fato. É a estrutura social brasileira que está sendo movida.

    A pergunta que fica é se as forças reacionárias vão ganhar novamente. Eles estão confiantes; já ganharam uma vez.

    Suspeito que essas conversas de dilma com o empresariado têm sido nesse diapasão: preservar as instituições democráticas. O que eles exigem é que o governo siga a cartilha e a ideologia deles; fazendo-lhes todos os favores. Nessa semama mesmo ela recebeu um dos filhos do roberto marinho… Enquanto isso os empregados dele ficam só botando lenha na fogueira; e a tropa de choque fazendo provocações.

     

  4. A Revolta da Chibata (do lado da empunhadura)

    Os “revolucionários” do colarinho branco se reunindo na rua para protestar????? Que coisa mais démodé!!!!

    Melhor fariam se se reunissem em clubes privativos como o Country, a Hípica ou o Yatch. o efeito de suas manifestações seria o mesmo, mas as manifestações ficariam muito mais classudas e charmosas. Não se fazem mais “donos da república” como antigamente. Triste sina! Serem alijados do poder e não ter a perspectiva de voltar a ele pelos meios legais…

  5. nada mais ridículo do que uma

    nada mais ridículo do que uma manifestação de ricos

    que contestam a distribuição de renda.

    são de uma irresponsabilidade social inominável.

    e tem pobre que ainda aplaude e é capaz de

    ir atrás, subserviente a essa canalha aventureira…

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