O fim da mística bancária suíça, por Motta Araújo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Os bancos suiços guardadores de fortuna nasceram ao tempo da Revolução Francesa, ganharam grande impulso a partir do nazismo na Alemanha, quando alemães judeus e não judeus temerosos do regime arriscavam a vida transferindo fundos para a vizinha Suiça. Antes deles os franceses eram os maiores clientes, seguidos dos italianos,  mas a Lei Bancária de 1934 deu a retaguarda legal para as contas secretas, chamadas de “numeradas” porque era possivel assinar apenas um número sem identficar um nome que só era conhecido do sócio principal do banco. O método protegia os depositantes alemães porque houve tentativas da espionagem alemã descobrir dinheiro de judeus na Suiça e extoprquir do depositante sob ameaça contra a família.

Esses eram os “”banques privés””, de Genebra, Zurich e Basiléia, hoje ainda operam em prédios baixos e antigos, com diminutas placas na porta : Banque Banhote, Lombard Odier Darier Hench, Hottinger & Cie., Landholt * Cie., Pictet & Cie., Reichmuth & Cie., Bordier & Cie., E.Gutzwiller & Cie., Mirabaud & Cie, Rahn & Bodmer, Gonet & Cie., Morgue & Cie., o maior de todos é Julius Baar & Cie.

Mas há grandes bancos comerciais que não apenas administram fortunas mas operam em todos os ramos, os dois grandes são o Union des Banques Suisses, UBS e o Credit Suisse, com ativos de US$1,3 trilhão e US$1,1 trilhão respectivamente, ambos são grandes no Brasil, o UBS é o maior em operações de bolsa no País e o Credit tem uma grande gestora e corretora. O UBS é presidido no Brasil pela bela Sylvia Coutinho, que era uma top executiva do HSBC até tres anos atrás, encarregada de gestão de fortunas em toda a America Latina, depois longa carreira no Citibank.

Há tambem 24 bancos contonais que operam a maioria deles também em private banking, depois desse grupo de controle suiço, há os bancos de controle estrangeiro na Suíça, que já foram 145 em 2009, hoje são 129, com uma queda de 25% nos depósitos desse grupo, hoje em torno de 900 bilhões de dolares.

A lei bancária suiça de 1934 é coisa do passado, em 2009 foi modificada para considerar evasão fiscal crime na Suíça,  algo que a Lei de 1934 não considerava. A mudança foi por pressão dos EUA, que encontrou 8.000 contribuintes americanos com contas na Suiça com dinheiro não declarado.

A atração geral da Suíça como guardiã de fortunas veio da estabilidade política, neutralidade em guerras, confiabilidade na correção de seus banqueiros, então porque a  Suíça teve que ceder à pressão americana?

Porque o grosso do dinheiro estrangeiro depositado na Suíça ou sob administração de bancos suíços pelo seu volume (US$3 trilhões) só pode ser aplicado principalmente  nos EUA, não há lugar do mundo que possa absorver esses recursos com facilidade.

Se os bancos suíçs perderem sua licença de operar nos EUA não teriam como gerir esses recursos.

O fim do sigilo bancário acaba com as vantagens do sistema bancário suíço, hoje o mais policialesco do mundo, se alguem chegar com uma mala de 300 mil dólares para depositar em um banco suíço, a gerência chama a polícia imediatamente, qualquer transação suspeita é denunciada, o sistema vai derreter, como prova esse caso do HSBC.

Dinheiro sem origem ou com origem não comprovada não vai ter mais onde ser depositado porque cada praça está caindo sob as mesmas regras, embora aplicadas de forma não tão rígida, como é o caso de Monaco, Beirut, Singapura,  Uruguai, Panamá,   mas é uma questão de tempo, hoje o Tesouro americano monitora on line todos os paraísos fiscais do mundo.

O controle se dá pelo sistema mundial de transferência de fundos, conhecido como SWIFT, por onde passam todas as transferências internacionais. Se alguém transfere um milhão de dólares de Santiago para Viena, o Tesouro americano sabe da transação instantaneamente, uma off shore registrada nas Ilhas Virgens Britânica é conhecida pelos rastreadores americanos em poucas horas.

A Suíça perderá ao longo do tempo um dos principais ramos de sua economia, que responde por 160.000 empregos no País. Evidentemente que continuarão em menor escala, assim como emissão de titulos, financiamentos, etc.

O caso HSBC é típico dessa deterioração, a divulgação dessa lista não terá grandes efeitos práticos mas deve incomodar quem foi nela citado, deve gerar danos à imagem do banco perante seus clientes e juntamente com outros episódios parecidos deve mudar para sempre o mundo bancário suíço.

Quando tive meu primeiro emprego no Citibank de São Paulo, em 1959, no Departamento de Crédito, meu chefe Mr. Benjamin Cotton me deu de presente um volume do “The Bankers Almanac Yearbook 1956-1957” publicado pela editora Thomas Skinner, com 1573 paginas, tenho até hoje. O mesmo almanaque atual não daria 200 paginas, tal a concentração do sistema bancário em cada País e globalmente. O sistema bancário mundial será irreconhecivel daqui a 10 anos e o suíço certamente encolherá pela perda de razões de existir nessa dimensão que alcançou.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

25 Comentários

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  1. O fim da mística também da

    O fim da mística também da liberdade de informação e independência jornalística no ocidente. Mas o listão dos sonegadores mais cedo ou mais tarde virá à tona e a imprensa mundial perderá mais um naco de sua já pouca credibilidade.

    1. Porque essa fixação em

      Porque essa fixação em sonegadores? O grosso dos depositos na Suissa são de gente bem pior que sonegadores, ditadores, monarcas do Oriente Medio, traficantes de todos os tipos, a era dos sonegadores na Suissa acabou POR CAUSA DOS ACORDOS BILATERAIS entre a Suissa e os grandes Paises, o sonegador se ferra na Suiça, alias o dinheiro nem é aceito, isso depois de 2009.

          1. Existe 1,1 trilhão de dolares

            Existe 1,1 trilhão de dolares em notas-papel FORA dos EUA, evidentemente esse massa enore beneficia os EUA, é um emprestimo sem juros ao Tesouro dos EUA, os traficantes operam com malas de dinheiro, que não deixam rastro, registro, não pode ser seguido ou taxado, por ai vc explica um pouco da capacidade do ISIS comprar armas e munições, dos Boko Haram comprar comida, do trafico de drogas na fronteira do Mexico, na Russia há grande preferencia por malas de dinheiro, ninguem confia nos bancos e no Estado, assim no Cazaquistão, Azerbadjão, há quadrilhas especializadas no transporte de dinheiro em notas, é toda uma grande economia paralela fora do sistema bancario.

          2. US$ 100.000 e US$ 50.000

             Caro André,

             Há anos não vejo uma delas, mas vc. sabe se as notas de 50 mil e 100 mil dolares, emitidas na decada de 20 e 30, ainda “lastreadas” até o Nixon em ouro, são validas no valor de face ?

          3. Devem existir uma ou outra

            Devem existir uma ou outra mas o mundo do crime não quer essas notas que chamam muito a atenção, a de 100 é a preferida.

      1.   AA, você que entende do

          AA, você que entende do riscado por favor me diga: hoje em dia onde vai parar o dinheiro de narcotraficantes, traficantes de armas, ditadores, etc – Liechtenstein, Caymans, onde?

        1. Os paraisos fiscais europeus

          Os paraisos fiscais europeus estão hoje com um compliance muito rigido, Cayman é controlada pelo Tesouro americano, é a mesma coisa que Nova York, o dinheiro mais duvidoso opera na Asia mas tambem os bancos são menos confiaveis.

        2. “Rodando”

             L.B., não sei o que o AA responderia, mas sem me comprometer, muito, palpitarei a respeito, academicamente,

            Transaciona-se por varias off-shores, até mais de uma diariamente ( quanto mais operações forem feitas, após a entrada do dinheiro no sistema, mais dificil é rastrea-lo, mas o custo tb. aumenta), claro que tudo depende da quantidade de dinheiro envolvida, evita-se o maximo a utilização de bancos grandes ou mesmo médios em praças já muito visadas e monitoradas pela rede swift.

             Bancos oficiais e “oficiosos” – de oligarcas, das ex-republicas soviéticas asiáticas ( Azebaijão, Turcomenistão, Uzbequistão…), são seguros, mas o comissionamento é alto, até recentemente o Vietnã e outras praças do sudeste asiático proporcionavam tais serviços, digamos, mais discretos, assim como alguns bancos russos especializados ( tipo semi-bancos, aqui seriam mais conheciods como DTVMs ou Corretoras de Valores Mobiliarios), na Europa o ultimo lugar foi o Chipre que “caiu” ano passado, já com os russos a dificuldade não é “entrar” é “sair”.

             Outra forma, mais utilizada para pequenas quantias ( < US$ 1 Milhão ), muito presente nas operações financeiras tipo terrorismo de origem arabe/paquistanesa/afegã e traficantes independentes de armas e drogas destas regiões, é o “sistema hundi “, que não utiliza hj. qualquer tipo de papel, é totalmente baseado na confiança reciproca, cuja unica utilização de tecnologia moderna, são feitas através de mensagens codificadas em celulares.

              Existe tb. operações mais sofisticadas, nas quais o dinheiro frio não é remetido – não sai do país – somente titulos/compromissos de crédito, linhas codificadas alfanuméricas que representam uma operação financeira a ser liquidada no futuro, através de ações em bolsa de valores, tanto no mercado a vista, quanto de futuros, compra de “prejuizos”, aquisição de ativos depreciados ;nestas operações, o dinheiro frio, mas vivo, ou transformado em garantias fisicas ( tipo ouro, prata, platina – diamantes NÃO, é coisa de filme ), representado pelos titulos/compromissos, serve como garantia destas operações – claro que mediante comissões pagas a um terceiro, um tipo de “fide-comissio”, conhecido pelas duas partes.

  2. Eu ja trabalhei em bando,

    Eu ja trabalhei em bando, tanto de investimento quanto comercial, um mundo engraçado de chique e frescuras, que aceita o dinheiro e pelas ultimas noticias seja lá de onde for; mas só quando muito por que certa vez  fui quitar uma divida e tive que assinar um papel afirmando que aquela merreca saiu do meu parco salario.

  3. Riqueza se constrói assim…

    Nada se perde tudo se transforma, já dizia Lavoisier.

    Então pra onde vai a grande riqueza produzida pela população trabalhadora do mundo.

    Tá aí, acharam um destes lugares.

    E tem muita gente que defende o capitalismo no mundo.

    1. A Suissa é repositorio

      A Suissa é repositorio pequeno de fundos. Só um fundo de investimentos americano, o BlackRock tem US$4,4 trilhões de

      recursos investidos, mais que o total da Suissa. O conjunto dos fundos de investimentos globais, basicamente americanos, ingleses, canadenses e holandeses, tem 60 trilhões de dolares investidos, perto disso os 3 trilhões da Suissa inteira é pouco.

  4. A única coisa mística que

    A única coisa mística que resta é a capacidade do jornalismo brasileiro de obter informações sobre o Swissleaks para poder sonegá-las ao respeitável público. O jornalista do UOL virou “nãodarlista” mediante incentivo financeiro tucano em euros, dólares ou reais? 

  5. “guardadores de fortuna…

    “guardadores de fortuna… administram fortunas ..gestão de fortunas …guardiã de fortunas….ativos de US$1,3 trilhão e US$1,1 trilhão…em torno de 900 bilhões de dolares… US$3 trilhões… mala de 300 mil dólares…Ttransfere um milhão de dólares….Dinheiro sem origem…8.000 contribuintes…SWIF…. é presidido no Brasil pela bela Sylvia Coutinho, que era uma top…Virgens……..rastreadores americanos…poucas horas…. chama a polícia”

    Caramba que confusão!!!

    Isto mais parece um ‘barata avoa’ de dinheiro. Essa dinheirama me faz sentir um miserável residente da África subsaariana. Swif(com “t” no final) não era uma fabricante de enlatados? A ocultação da letra pode ser disfarce do tipo tirar um número da identificação de endereço. Bela…Top…virgem, ainda exista isso??? Os rastreadores yankees usam os chips  desenvolvidos pela holandeza Gemaco roubados, segundo Snowden, pelos zelosos defensores da liberdade?

    Isso é mais que o fim da mística bancária, é o fim do mundo! Chamem o ladrão!!!!

  6.   Belo artigo, AA.
      O azar

      Belo artigo, AA.

      O azar dos bancos suíços é não estarem localizados em um certo país tropical. Aqui – digo, lá, o jornalismo engavetativo não deixa passar uma.

  7. Apenas como adendo ao artigo,

    Apenas como adendo ao artigo, é preciso dizer que os EUA precisaram conter a farra na Suíça e nos outros infernos fiscais por causa de financiadores de extremistas que podem ter usado esses infernos para esconder dinheiro de origem espúria e que acabou financiando atividades terroristas não desejadas pelo Tio Sam.

  8. é o fim da mística

    é o fim da mística capitalista financista.

    só um ingenuo não percebe que banco não quer saber da cor

    do dinheiro nem de sua origem.

    quer é faturar com o dinheiro, claro…..

    mas um dia talvez possam ser todos estatizados…

     

    1. Sem vc comprovar origem voce

      Sem vc comprovar origem voce não passa da recepcionista do banco suiço. O mundo gira, o mundo muda, o que era verdade no tempo de nossos avós NÃO é mais verdade hoje, a definição de inteligencia é a capacidade de reciclar os conhecimentos, o burro não muda de caminho.

  9. Se o dinheiro desaparecer o Socialismo, com duas classes venceu?

    Falta o evento aglutinador, que é o gatilho para a socialização geral.

    O desatre que criará duas classes no planeta, os capazes de gerar o Caos e os submissos amedrontados com esta possibilidade.

    Estes, os criadores do caos, em número limitadíssimo, serão os criadores do dinheiro único e os emissores da moeda de curso forçado no planeta.

    O resto, é resto mesmo.

     

  10. [Entreato Digestivo Cultural patrocínio ItaúCultural lei nº… ]

    “O fim do sigilo bancário acaba com as vantagens do sistema bancário suíço, hoje o mais policialesco do mundo, se alguem chegar com uma mala de 300 mil dólares para depositar em um banco suíço, a gerência chama a polícia imediatamente, qualquer transação suspeita é denunciada, o sistema vai derreter, como prova esse caso do HSBC.”

    buenos

    conversa fim de noite de boteco chic nas quebradas anos 90’s – só sucessos musicais…

    (AA pode me corrigir lapsos de memória “alta” e a desinformação da periferia ignara)

    pelos idos de 1985 houve a quebra financeira do paulista ruralista banco Comind.

    … na calada da noite fim da ditadura um avião executivo clandestino decola de sampa

    abarrotado de malotes bancários com dólares dinheiro vivo papelada, com destino à Suiça.

    não lembro se aterrissou em Genebra ou Zurich, mas pousou, na calada, lá no paraíso…

    da janelinha do avião a tripulação e os operadores da viagem financeira ao portador

    observaram o aeroporto totalmente cercado de forças militares pesadas e ares agitados:

    tanques caminhões de assalto helicópteros de campanha e o escambau! de segurança.

    tremeram na base dentro do avião e depois do medo o desespero: a casa caiu! fudeu!

    o pequeno avião foi taxiado para um hangar determinado e lá permaneceu à espera…

    e nada de aparecer emissários contatos da casa bancária suiça para receber os malotes.

    silêncio suíço dentro do hangar e os operadores cagando de medo dentro do avião…

    resolveram descer do avião respirar… e ir atrás de um telefone e toca a ligar pro Brasil…

    – Tá toda a polícia suiça no aeroporto; liga pro embaixador!; liga pro ministro tal; liga para o general das quanta… e o desespero das ligações a cobrar pra salvar a lavoura arcaica…

    e foi então quando um deles passou por uma mesa e viu a manchete no jornal suíço:

    dando chamada garrafal para a reunião de cúpula…uma daquelas do degelo da guerra fria.

    todo o aparato militar não tinha nada a ver com suas ações financeiras em terras suíças…

    alívio abraços gritos de alegria e toca a ligar de novo pro Brasil pra dizer: tá tudo bem!

    no hangar festivo mesmo eles combinaram que depois daquela operação terminada

    pegariam o trem pra Paris e uma semana de festas e mulheres e jantares e compras…

     

     

     

     

     

     

     

  11. Meu caro Motta Araújo,
    este

    Meu caro Motta Araújo,

    este “post” foi de fato muito bom e acrescentador.

    Além de oportuníssimo, por conta do que ocorre com o HSBC, dá uma boa visada no histórico dos bancos suíços, muito conhecidos porque “lavam mais branco”, como disse Jean Ziegler, na década de 90. Tem alguma informação a mais sobre o que ele vem falando atualmente?

    Saudações.

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