Por que a mídia faz silêncio sobre a greve histórica que está parando Florianópolis, por Joaquim de Carvalho

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Diário do Centro do Mundo

Por que a mídia faz silêncio sobre a greve histórica que está parando Florianópolis

por Joaquim de Carvalho

Os servidores públicos municipais de Florianópolis estão em greve desde o dia 16 de janeiro. É a maior paralisação da categoria e, como mostram as imagens do último ato dos funcionários, realizado na segunda-feira, a adesão é cada vez maior.

Basta comparar as imagens desse ato com o do início da paralisação para constatar que, apesar das pressões que as lideranças dos funcionários estão sofrendo, inclusive de prisão, o número de manifestantes aumentou muito.

“Nenhum direito a menos” é o grito de guerra dos servidores em greve. A origem da paralisação está num conjunto de medidas enviadas pela prefeitura que acabam com o plano de carreira dos funcionários, aprovado em 2014, e cortam outros direitos dos servidores.

Durante a campanha eleitoral, no ano passado, a possibilidade de cortes no salário dos servidores chegou a ser debatida, e o candidato eleito, Gean Loureiro, que é do PMDB, disse que buscaria alternativas para o equilíbrio fiscal.

Mas uma das primeiras medidas dele, ao ser eleito, foi enviar à Câmara Municipal um pacote de medidas que atingem em cheio os direitos dos servidores públicos. A esse pacote, ele deu o nome de Floripa Responsável.

“Vamos fazer um corte muito duro, em todas as suas despesas, incluindo benefícios que não se enquadram mais na realidade financeira do município”, disse o prefeito ao enviar o pacote para a Câmara.

Pela sua proposta, benefícios como licença-prêmio, percentual de horas extras e a incorporação de todo e qualquer benefício a cada cinco anos de trabalho devem ser modificados. Já a gratificação por atividade especial deve ser extinta.

A previdência municipal também deve ser alterada. Em uma das propostas, a contribuição do servidor passa a ser de 11% para 14% e do município de 14% para 28%. Também será enviada a proposta de previdência complementar.

Para dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis, falta transparência da prefeitura no debate sobre o ajuste fiscal.

“A gente tem cobrado a publicação de um balancete da prefeitura, para ver se comprova a questão de 58% de comprometimento da folha. Há informação de que os terceirizados entram nessa folha, o que é ilegal. Os servidores estão sendo penalizados pelo prefeito, afetados em direitos, o que destrói a carreira funcional”, disse.

Santa Catarina é o berço do Movimento Passe Livre. Em 2000, centenas de estudantes marcharam pelas ruas da cidade até a Câmara Municipal, onde deixaram um abaixo assinado com mais de 20 mil assinaturas em favor da tarifa zero para ônibus municipais. Não foram atendidos, mas continuaram organizados e chamavam a si mesmos de Juventude Revolução.

Em 2004, quando a prefeitura aumentou a passagem de ônibus, eles voltaram às ruas, desta vez com muito mais gente: milhares de pessoas fecharam as principais vias de Florianópolis e muitos permaneceram nelas por quatro semanas até que a prefeitura revogou o aumento.

As manifestações ficaram conhecidas como A Revolta da Catraca, e o movimento já tinha mudado de nome. Era o Passe Livre, e o exemplo  começou a se espalhar por outras capitais.

Assim como aconteceu em 2004, com a juventude na rua, a imprensa nacional ignora a paralisação dos servidores públicos municipais de 2017, embora os efeitos para a população sejam evidentes. Só funcionam os serviços essenciais, como postos de saúde, ainda assim com número muito reduzido de funcionários.

Os guardas municipais quase não são vistos patrulhando as ruas, já que se estima que 70% tenham aderido à paralisação. As creches estão abertas, mas com metade dos funcionários, que não quiseram prejudicar as mães que trabalham e que, por isso, organizaram um sistema de rodízio.

Mais do que resistir a medidas que ferem a essência do funcionalismo público – uma das medidas incentivam a terceirização –, os líderes do movimento grevista têm consciência de que os eventos de Florianópolis são o ensaio do que vem por aí, em todas as cidades.

Com quase 40 anos de atraso, administradores brasileiros alinhados às diretrizes do governo Michel Temer ressuscitaram o espírito de Margaret Tatcher e elegeram os culpados para a crise: os servidores da base do funcionalismo público. O desfecho da greve histórica de Florianópolis interessa a todos os brasileiros.

https://www.youtube.com/watch?v=irrRU90zO_A height:394

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

9 Comentários

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  1. À primeira vista, as medidas

    À primeira vista, as medidas parecem bem razoáveis. Os servidores têm que por os pés no chão, o Brasil não suporta mais tantos benefícios sem base financeira. E fazer greve onde o prejudicado é o povo em geral, não o empregador, e sem corte de ponto, é mais que fácil.

    1. Engraçado que o senhorio não

      Engraçado que o senhorio não precisa ser razoável, o banco não precisa ser razoável, a padaria da esquina não precisa ser razoável. Ou seja, só o trabalhador precisa ser razoável, ou seja, aceitar calote. Aos credores dos trabalhadores não se pede nada parecido.

    2. Os servidores têm os pés no

      Os servidores têm os pés no chão, precisam pagar suas contas, precisam se alimentar, precisam alimentar seus filhos. Muitos professores, servidores, estudaram investiram em suas carreiras e merecem ter a recompensa. Não são regalias,não são benefícios, são conquistas. Se você que é contra pense em se manter com uma redução de salário em torno de 30%, aumento de desconto de para previdência de 11% para 14%. Portanto para de falar sem fundamento.

  2. PQP! Eu moro em Santa

    PQP! Eu moro em Santa Catarina. Assisto todos os dias o telejornal local ao meio-dia na RBS (mea culpa) e não sabia dessa greve. Depois dizem que a mídia não controla o país.

  3. Quem precisa ser razoavel são

    Quem precisa ser razoavel são os empresarios que sonegam impostos e vereadores que não cobram. Quem precisa botar os pes pro chão é classe media metida a rico que não sabe que vai voltar à pobreza se continua apoiando os ladroes vestidos de terno e gravata. E fazer greve é muito corajoso porque um mes sem salario ja é façanha, tem que ajudar com tudo

  4. Respondo: porque a mídia é

    Respondo: porque a mídia é comandada por um monte de hipócritas que ficam o tempo todo dizendo que saúde e educação são prioridades, que o país precisa avançar em educação , que os trabalhadores dessas área deveriam receber uma remuneração justa, que lhes possibilitasse uma vida tranquila. Entretanto quando chega a hora do vamos ver, em que um prefeito que infelizmente conseguiu se eleger e com 18% dos votos , ataca esses mesmos trabalhadores e, que essa mesma mídia diz serem essenciais, essa mesma mídia aqui em Fpolis, e tenho ouvido todos , todos os dias o Bom Dia Santa Catarina (jornal medíocre da Globo, matinal, medíocre porque a encheção de linguiça e a repetição de matérias são vexaminosas.Fora que não praticam de forma alguma como todos sabemos, a liberdade de imprensa já que emitem opinião e não chamam a outra parte, deixando de lado o fato de que são uma concessão pública . Tenho assistido para ver o tamanho da investida contra os servidores municipais. E vêm então dizer que os ”mais pobres estão sofrendo” com a falta de aulas, que saúde e educação são ”serviços essenciais” e que por isto a greve é ”inadmissível”. Ô aí de dentro da caixinha falante: alguém te perguntou? Mas eles se arvoram o direito falar o que é de seu interesse. E se danem o pessoal da saúde e educação se vão te salários insuficientes para uma vida tranquila e não bastando uma vida de dificuldade e intranquilidade financeira o prefeito Gean Loureiro do golpista e traidor PMDB, lhes presenteia com a perspectiva de uma aposentadoria de fome. E depois de prestar ”um serviço essencial” à nação. Mas primeiramente Fora Temer e, em segundo lugar mas muito mas muito mais importante: saúde e educação não são ”serviços essenciais” são DIREITOS, DIREITOS essenciais do cidadão e dever do estado. A diferença é de 180 graus porque serviço se paga e direito não tem preço. Agora quanto aos absurdos , ao retrocesso na liberação de construções em uma cidade que é espremida entre o mar e a montanha, que sendo de médio porte tem um congestionamento de grande metrópole, isto a mídia não vocifera contra todos os dias. Mas é claro pois o retrocesso na permissão das construções vai aumentar a densidade demográfica nas áreas da classe média mais baixa. Então os ”mais necessitados”, que se danem não é? Porque os mais ricos moram em locais de acesso mais fácil . Desejamos a todos os trabalhadores de Floripa e consequentemente aqueles que exercem o direito de educação e saúde pública, vitória em sua luta. Força!

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