Professores apoiam protestos de estudantes contra teorias que ignoram crise financeira

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Enviado por Gão

da Carta Maior

Acadêmicos apoiam alunos em protestos contra o ensino de economia

Em carta ao The Guardian, professores argumentam contra o “compromisso intelectual dogmático” em favor da ortodoxia e contra a diversidade intelectual.

Philip Inman, do The Guardian

Photograph: Mark Benedict Barry/Corbis

Um grupo proeminente de acadêmicos da área de economia passou a dar respaldo aos protestos de estudantes contra o ensino de economia neoclássica, engrossando a pressão para que as universidades mais importantes façam reformas em cursos que, segundo críticos, são dominados por teorias de livre mercado que ignoram o impacto da crise financeira mundial.

Acadêmicos de algumas das instituições de ensino de maior prestígio no Reino Unido, incluindo as universidades de Cambridge e de Leeds, declararam que alunos têm sido enganados por seus cursos, e acusaram os organismos de financiamento à educação superior de serem uma barreira a reformas.

Em ataque surpreendente às agências que provêm bolsas de estudo e pesquisa, eles disseram que uma “monocultura intelectual” é reforçada por um sistema de financiamento estatal baseado na avaliação de revistas científicas “que são muito enviesadas em favor da ortodoxia e contra a diversidade intelectual”.
 
Em carta ao The Guardian, os acadêmicos declararam que um “compromisso intelectual dogmático” com teorias de ensino baseadas na racionalidade de consumidores e trabalhadores com demandas ilimitadas “contrasta agudamente com a abertura de ensino em outras ciência sociais, que frequentemente apresentam paradigmas divergentes”.
 
Eles disseram: “alunos podem, atualmente, obter um diploma de economia sem jamais terem sido expostos às teorias de Keynes, Marx ou Minsky, e sem terem aprendido nada sobre a Grande Depressão.”
 
As críticas fazem coro aos protestos na Universidade de Manchester. Os alunos de lá, responsáveis por formar a Post Crash Economics Society, disseram que seus cursos pouco se empenharam em explicar a razão dos economistas terem falhado em alertar sobre a crise econômica, mas tiveram grande foco na formação de profissionais para integrar o mercado financeiro.
 
No início deste mês, um grupo internacional de economistas, respaldados pelo Institute for New Economic Thinking, de Nova York, prometeram revisar os programas de ensino econômico e oferecer às universidades um curso alternativo.
 
Em congresso realizado pelo Tesouro Britânico, em seus escritórios em Londres, eles prometeram oferecer um programa de ensino de primeiro ano pronto para ser ministrado no ano acadêmico de 2014 e 2015, contemplando o ensino de história econômica e um conjunto mais amplo de teorias econômicas concorrentes.

O debate sobre o futuro do ensino econômico é resultado de vários anos de discussão sobre o papel da academia, sobretudo nos Estados Unidos, no provimento de uma base intelectual para a farra dos empréstimos e dos negócios que levou à crise econômica de 2008.

O volume de empréstimos pessoais bateram recordes em vários países, e os negócios dos estranhos derivativos, frequentemente financiados com instrumentos de dívida, subiram a um nível em que pouco executivos de bancos entenderam sua vulnerabilidade no momento de uma estagnação de crédito.

Muitos economistas, incluindo o vencedor do prêmio Nobel em 2013, Robert Shiller, afirmam que as correntes ortodoxas de economia ensinam, erroneamente, teorias baseadas na manutenção de mercados abertos competitivos e na ideia de que compradores e vendedores bem informados eliminam o risco dos preços dos ativos crescerem para além de um nível sustentável por um período prolongado.

Os acadêmicos, liderados pelo professor Engelbert Stockhammer, da Universidade de Kingston, disseram: “Nós entendemos a frustração dos estudantes com a maneira como a economia é ensinada na maioria das instituições no Reino Unido.”

“Há uma comunidade vibrante de economistas pluralistas no Reino Unido e em toda parte, mas esses acadêmicos foram marginalizados dentro da profissão. As deficiências na maneira como a economia é ensinada estão diretamente relacionadas a uma monocultura intelectual, que é reforçada por um sistema de financiamento universitário baseado em revistas acadêmicas fortemente enviesadas em favor da ortodoxia e contrárias à diversidade intelectual”, declararam.

 

Tradução de Caio Hornstein.
Créditos da foto: Photograph: Mark Benedict Barry/Corbis

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

12 Comentários

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  1. Pois é, este é o caminho que

    Pois é, este é o caminho que a editora abril vem fazendo, mesmo que lentamente, num país onde os poderosos tudo podem e o resto, o resto é gado.

  2. Importantissimo

    Nassif, é com você  mesmo! assunto muito importante que deveria ser motivo de muito destaque. Se Max foi banido das universidades é porque a religião econômica nazista venceu e predomina no mundo. Com religião e com o seu deus, o dinheiro. Um dos maiores pensadores da humanidade foi banido das universidades e meio acadêmico porque é, como diz a revistinha do esgoto, “comunista”. E incrível, das universidades também. Assim caminha a humanidade.

    Se se nega uma vertente do pensamento, qualquer que seja, é porque venceu o obscurismo, o nazismo. O pig está ai.

    1. Comunismo X nazismo econômico

      Penso que num mundo tri-dimensional, com todas as manifestações naturais  ocorrendo simultaneamente nas oito direções, reduzir tudo a um Fla X Flu ideologicamente perneta é muito pouco.

      Em todo caso lhe concedo o benefício da dúvida, traga os dados que embasam tão estapafurdia afirmação.

  3. O poder

    O poder se mantém controlando tudo.

    O preço da liderança é a eterna vigilância.

    Que as maracutais que o Armínio usa não são ensinadas na escola, não é preciso ser gênio para perceber.

    Tá tudo dominado, uma academia que não ensina nada, facilita o controle dos escravos, pois a crítica e o embasamento teórico para a revolta é zero.

    Nada que a Astrologia, Tarot e Geometria não supere com um pé nas costas e os olhos vendados, é lógico.

  4. O mestrado em economia no Brasil

    Essa situação fica clara no Brasil quando se olha para o sistema de seleção para o mestrado.

    Nos programas mais disputados – USP, PUC-RJ, FGV-RJ e FGV-SP, não necessariamente nessa ordem – o processo seletivo limita-se a provas objetivas de Microeconomia, Macroeconomia, Matemática e Estatística (a USP ainda considera a nota de Economia Brasileira como 10% da nota final).

    Esse modelo implica que para ingressar nesses centros o candidato precisa apenas dominar o conteúdo dos manuais que teve de consumir durante a graduação. A capacidade de reflexão em momento algum é considerada, o que considero grave num processo que seleciona futuros pesquisadores. UFRJ  e Unicamp, por exemplo, consideram a prova discursiva de Economia Brasileira, mas a chacota durante a graduação é que pra lá só vão “os comunistas”.

    Ou seja, essa seleção fecha com chave de ouro uma graduação como a descrita no texto. Na USP, só estudei a Grande Depressão porque optei por fazer História Econômica II, Keynes nos chega bastante depurado pelos manuais de macro e Marx… ah, umas duas aulas ou três aulas em Clássicos do Pensamento Econômico e em Introdução às Ciências Sociais, ambas no primeiro ano, com tempo suficiente até o fim do curso pra que ninguém se lembre de nada. A crise de 2008/2009? Nada.

    Em síntese, as futuras celebridades do pensamento econômico brasileiro são peneiradas assim, entre pessoas que dominam brilhantemente o manuseio da teoria ensinada, mas cuja capacidade crítica não é avaliada em nenhum momento.

    Chegam ao mestrado preparadíssimos… para a digestão de tudo o que engoliram durante a faculdade.

     

     

     

    1. “só estudei a Grande

      “só estudei a Grande Depressão” concluiu que foi uma crise de super produção?

      Explica para nós, mortais comuns, o que é a lei de Say?

      1. Leia a frase inteira e tente

        Leia a frase inteira e tente entender o argumento do texto com que ela se relaciona antes de desviar o assunto.

        Sobre seu outro comentário, não sei que curso de economia esses “liberais” fazem pra só estudar Keynes (aqui falo de estudar Keynes de fato e não o que dizem que é Keynes).

        De fato não leem Mises e Hayek e duvido que leiam Marx. Como já escrevi, a exigência de leitura é quase nula.

  5. Estranho os alunos “liberais”

    Estranho os alunos “liberais” falam exatamente o contrário, só se estuda keynes, nunca Hayek, Mises.

    Eu acho importantissimo estudar Marx, Hegel, Keynes para saber exatamentew o que não se deve fazer.

    Pergunta para um universitário brasileiro se ele já leu Ayn Rand, Eric Voegelin, Murray Rothbard,Eugen von Böhm-Bawerk,Russell Kirk, Mises, Hayek,Frédéric Bastiat a resposta será não.

     

     

     

     

    1. já leu?

      Pergunto ao Aliança Liberal se ele já leu Robert Resnick, Alonso & Finn, Mario Cantù e Umberto Cordani. Não leu e não sabe quem são. Vai procurar no Google, meu filho. Citar esses nomes que você citou para parecer muito esperto não me parece muita esperteza. Já leu Karl Marx, Aliança? Sei que nunca leu. Escreva uma das fórmulas matemáticas usadas por Marx em O Capital e mostre se há erros, como nas equações de Maxwell.(Maxwell não era economista, por favor…). Você não sabe porque palpita sobre o que não sabe e nem tem ideia do que se trata. E quando não souber, cale-se, cálice, cale-se!

      1. Vamos ser mais práticos,

        Vamos ser mais práticos, Responde como uma economia socialista resolve o problema do cálculo econômico. Ate onde eu sei há uma impossibilidade do cãlculo econômico no socialismo.

        A tese  é : Sem a propriedade privada dos meios de produção, não existem mercados. Sem mercados não há formação de preços genuinos, sem preços não é possivel realizar cálculo econômico, ou seja, não se pode estimar a importância e a escassez dos bens de produção, sem o que uma alocação racional de recursos é impossivel.

         

         

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