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Um lento desaparecer

Ben Bernanke, o chefe da Federal Reserve, confirma: a produção de Dólares não para.
Já nem se fala de Quantitative Easing, agora é uma fábrica que trabalha sem pausas.

Continuando a comprar 85 biliões de Títulos do governo americano por mês, a Fed arrisca criar as condições dum holocausto financeiro: basta uma voz acerca da inflação dos EUA acima do esperado e todos os mercados começariam a vender a uma velocidade vertiginosa.

A aposta é: nada disso vai acontecer,  porque “as pressões inflacionárias estão sob controle”. Era a mesma presunção que levou Alan Greenspan a manter as taxas de juros demasiado baixas por muito tempo: se a crise despoletou em 2008, foi também por causa destas escolhas..

Não é uma coincidência que, após o anúncio de Bernanke, o preço do ouro tem aumentado quase 5%: todos sabem qual o real valor do Dólar hoje, que se aproxima do zero absoluto, é papel, atrás do qual não há investimentos, não há crescimento, mas apenas contas para pagar (e cofres privados para encher).
O medo é constituído pelos possíveis cenários duma desvalorização oficial nos próximos dias.

Que fique claro: nada disso tem a ver com a Modern Money Theory, com a criação de dinheiro sem dívida em favor dos investimentos. Aqui falemos de dinheiro privado (de poucos, e não dos Estados) garantido pela dívida pública (de todos).

Mario Draghi, o chefe do Banco Central Europeu, diz que ” o risco sistémico agora é inferior ao passado”: fala ele que, enquanto presidente do International Stability Board (Conselho de Estabilidade Internacional), nem pressentiu o flagelo económico-financeiro que depois chegou em 2008.

A verdade é que os riscos sistémicos nunca foram tão elevados porque os orçamentos dos Países e dos bancos nunca estiveram tão entrelaçados.

Desde que os banqueiros centrais assumiram a tarefa de nos “salvar” da crise económica, ninguém está a salvo . A lógica desta super-burocracia internacional é perversa: Bernanke está preste à abraçar a sua dourada reforma e passar a batata quente da maior massa monetária da história nas mãos do seu sucessor.
Irresponsáveis perante as pessoas, comprometem o futuro de todos sem arriscar nada de próprio. Irresponsáveis por causa dos actos que ameaçam o sistema financeiro global, para garantir os privilégios e as reformas deles.

Na Zona NEuro o fantasma duma falência repentina dum País (Grécia? Portugal? Espanha? Italia?) parece ter sido afastado: não que a situação tenha melhorado, é que os dono da finança global têm aprendido a evitar falências. Suavizam, amaciam e camuflam os problemas com vários artifícios financeiros (os taisQuantitative Easing, LTRO, etc…). Basicamente: imprimem dinheiro. Usam os poderes dos bancos centrais para cobrir os buracos, justo o suficiente para evitar a falência e colapso. Desta forma, não haverá uma queda improvisa mas um lento desaparecer. 

O jogo ficou descontrolado entre Outubro de 2008 e Março de 2009, mas foi apenas ao longo de poucos meses. O que também é normal: faz parte do sistema um periódico “descontrole controlado”. Algo que traz vantagens também: saber isso e aprender a gerir um crash significa poder ganhar muito, não apenas dinheiro mas também poder.

Por isso, não haverá falência, porque sabem de poder criar todo o dinheiro que for preciso, tudo a partir do nada. E quando for preciso, simplesmente é criado. Mas pouca: apenas o suficiente para que os perigos duma falência fique abafado e tudo continue a funcionar, mas nada mais. Porque assim continuamos fracos, a vender as propriedades, as empresas e os bens públicos.

Mas quem pagará a conta? Como será possível apagar uma dívida pública global que é difícil até quantificar? Como elimina-la? Porque de paga-la nem se fala: é impossível.
Uma guerra? Ou quê mais? 

A política gerida pelos banqueiros produz danos inimagináveis​​.

(…e bom fim de semana!)

 

Redação

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