A farsa da retomada da economia sinalizada pelo imposto de agosto, por J. Carlos de Assis

A farsa da retomada da economia sinalizada pelo imposto de agosto

por J. Carlos de Assis

A utilização da receita tributária de agosto como indicador de retomada da economia é mais uma farsa de  Henrique Meirelles e Michel Temer para apaziguar aliados no Congresso, os quais  já se revelam incomodados pela combinação de depressão econômica e corrupção presidencial. O aumento da receita no mês, em relação a julho, se deveu essencialmente ao Refis e aos impostos baseados em lucro, assim como a imposição de imposto sobre combustíveis.

O grande público não sabe o que é Refis. Para descrevê-lo sucintamente, é o prêmio que o Governo dá, regularmente, aos sonegadores de impostos. Sob a alegação de que a arrecadação por baixo, agora, é melhor do que arrecadação do imposto cheio, posteriormente, o Governo desesperado por dinheiro faz qualquer negócio, inclusive viciando os sonegadores nas práticas de jamais pagar tributos em dia, pois o que vem depois é sempre mais barato.

Naturalmente, dinheiro do aumento de Refis não pode ser considerado indicador de retomada da economia. Só é recolhido uma vez. Não resulta de aumento da atividade econômica. Ao contrário, em termos estritamente econômicos, retira dinheiro da atividade econômica para transferi-lo à fogueira especulativa do Governo, na medida em que qualquer aumento de receita na atual situação fiscal brasileira se transforma em pagamento de juros.

O aumento dos tributos sobre lucro (IRPJ, CSLL) também não sinalizam retomada de crescimento. Lucro reflete uma atividade econômica passada, não atual. Uma empresa lucrativa hoje pode quebrar em um mês. Sua contribuição ao crescimento da economia pode ser nula, já que, como o do Refis, o aumento de sua arrecadação também vai para a voragem financeira administrada pelo Banco Central e pela Secretaria do Tesouro.

Outro tributo que supostamente teria crescido, o PIS/Cofins sobre os combustíveis, na verdade aparece como tendo crescido mas de fato foi aplicado pela primeira vez. Mais grave é que, não sendo um sinalizador de aumento de atividade econômica, esse tributo é um sinalizador de contração, porque significa a retirada de recursos do setor privado para, mais uma vez, queimar na especulação financeira comandada pelo Governo.

Anos atrás, fiz um trabalho para a ANEOR-Associação Nacional de Empresas de Obras Rodoviárias, propondo o aumento da CIDE-Contribuição para Intervenção no Domínio Econômico aplicada sobre combustíveis. Eu me convenci de que não haveria forma alternativa de conservar e ampliar a infra-estrutura logística brasileira sem recursos desse tipo. Como qualquer imposto, ela retiraria recursos do setor privado. Entretanto, seria imediatamente devolvido sob a forma de obras. E salvaria nossa infra-estrutura de transportes, que está absolutamente degradada.

Nos anos seguintes, sob diferentes governos, assisti ao presidente da ANEOR, José Alberto, travar uma batalha inglória pela adoção do imposto. O importante, no caso, é que sua arrecadação possibilitaria fazer um fundo de investimento que poderia multiplicar seu poder de financiamento. Nada. O que vejo agora é o indefectível Henrique Meirelles impor ao país um imposto estritamente financeiro, sem qualquer vinculação com o setor produtivo, e que certamente vai contribuir decisivamente para a a retração econômica no país – e propagando a farsa de que é esses impostos são indicadores de retomada!

 

Redação

Redação

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  •   Pelo menos um setor está

     

     

    Pelo menos um setor está crescendo:

    https://br.sputniknews.com/sociedade/201709229409708-brasil-suicidio-mortalidade-mulher-homem/

    Se considerarmos as cagadas do STF a começar pela legitimação do golpe contra Dilma Rousseff, não dá mais para criticar o suicídio (que proporciona lucros para os papa-defuntos).

    De fato, é melhor estar morto do que ser roubado pelo usurpador e humilhado pela ,  e .

    Já perdemos o país e não temos mais Constituição, autonomia política, soberania popular e Judiciário isento. Só nos resta ter uma sepultura.

    Morto não vota, mas pelo menos não paga para sustentar a máfia do PMDB/PSDB e os juízes ladrões que ganham acima do teto.

    Quando a política laica foi interditada por pastores/bispos e os direitos são revogados, o suicídio se torna um ato extremamente politizado.

     

     

     

  • mais uma vez

    As receitas não estão se realizando como o previsto no orçamento. Há uma clara defasagem entre o previsto e o realizado e não é crível que esse descompasso se ajustará no último trimestre. Vamos aguardar a divulgação do relatório de resultado do Tesouro Nacional, no próximo 29. Então veremos se esse discurso de agora se sustenta.

    Boto todas as fichas no não.

     

  • A economia não ter retomado

    A economia não ter retomado seu crescimento é um fato óbvio, até porque, não há milagres para se reverter tão rápido o resultado da maior recessão da história, causada por equívocos desastrosos decorrentes de políticas econômicas baseadas unicamente no consumo e numa desoneração fiscal sem planejamento, em completa e total dissonância com a macroeconomia, iniciada lá em 2006, e intensificada a partir de 2011.

    Contudo, farsa não pode ser considera, uma vez que não há indícios de números ou resultados forjados e isso já é algo positivo, pois, demonstra que esse Governo, pelo menos, não manipula sua contabilidade com o fim de maquiar os resultados, como aconteceu no Governo anterior.

    Há sim sinais de estagnação, mas piora da economia é pouco provável. E, diante desse contexto, uma pequena dose de otimismo lançada pelo Governo ao tentar demonstrar uma eventual retomada da economia não pode ser assimilada negativamente.

    Por fim, é visível a limitação e o engessamento da atual equipe econômica, que se justifica politica e não tecnicamente. Todavia, é inegável que os resultados não apontem mais para a direção que Guido Mantega e seu sucessor, o bem intencionado Joaquim Levi e companhia, nos empurrou. Mas, que serviu bem para confirmar a velha e sábia máxima popular: “De boas intenções o inferno tá cheio”.

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