Ainda sobre a proposta da nova família , por Matê da Luz

Teve gente que ficou braba a valer por eu ter escrito sobre novela da Globo aqui e sinto muito que a gente não tenha o mesmo humor pros assuntos, mas o que eu queria mesmo era começar a conversar sobre estas questões que são verdadeiramente absurdas em contraponto ao que vem sendo proposto como formação familiar.

Verdadeiramente absurdas como o abuso sexual e psicológico que houve na novela, e foi “só” por isso que a temática entrou aqui, visto que abusos sexuais e psicológicos são fatos mais corriqueiros do que muita gente quer acreditar que sejam – e isso é tão mais relevante de dialogar sobre do que se a pessoa é ou não é filha de sangue; se as pessoas que compõe um casal são do sexo oposto ou se quem compõe uma família é um par do sexo oposto mais os filhos de sangue. 

Olha, eu não me enquadro nenhum quesito pra ser parte de uma família, nenhuminha mesmo e, então, deve ser por isso que é bastante complexo escrever sobre este tema. Não complexo no sentido de estar me sentindo excluída, mas complexo no sentido semi-absoluto de “escuta, por que mesmo existe a menor possibilidade disso ser aprovado constitucionalmente?”. 

Daí fui procurar meus amigos advogados, afim de entender como é que pode algo tão retrógrado e pautado pela exclusão pode ser considerado. Procurei pelo Whatsapp, jornalista que não sou e, apesar das mensagens terem sido apontadas como “lidas”, não obtive retorno de nenhum deles. Sem brincadeira, um destes amigos que procurei ignorou solenemente minha pergunta e, horas depois, iniciou uma conversa me chamando pra jantar. Fui e repeti a pergunta ao vivo. Ele se limitou ao retorno: “sério? não tenho nem coragem de pensar que isso possa estar em verdadeira demanda”. Respondeu e se fez entendido, pra mim. 

Então, novelas fora, e ainda bem que sou irrelevante na opinião de alguém que também não sei quem é (mas por respeito à simples existência não julgo como irrelevante pra mim, tanto que está sendo citado num texto meu e, opa, acho que ninguém se importa em ser citado no texto de alguém que considera irrelevante, observemos), recoloco a pergunta: será que não temos assuntos mais importantes de fato para que a vida siga com mais dignidade (e amor) do que questões “morais e cívicas”? Será que eu, ofendida que estou, não consigo enxergar com olhos de além-self para ver o que esta demanda de novo formato de família tem de bom? Esta proposta só existe com base em mlindres de opção sexual? Será? Será? 

Me ajuda nessa? 

Mariana A. Nassif

Mariana A. Nassif

View Comments

Recent Posts

Comunicação no RS: o monopólio que gera o caos, por Afonso Lima

Com o agro militante para tomar o poder e mudar leis, a mídia corporativa, um…

11 horas ago

RS: Por que a paz não interessa ao bolsonarismo, por Flavio Lucio Vieira

Mesmo diante do ineditismo destrutivo e abrangente da enchente, a extrema-direita bolsonarista se recusa a…

12 horas ago

Copom: corte menor não surpreende mercado, mas indústria critica

Banco Central reduziu ritmo de corte dos juros em 0,25 ponto percentual; confira repercussão entre…

12 horas ago

Israel ordena que residentes do centro de Rafah evacuem; ataque se aproxima

Milhares de pessoas enfrentam deslocamento enquanto instruções militares sugerem um provável ataque ao centro da…

13 horas ago

Governo pede ajuda das plataformas de redes sociais para conter as fake news

As plataformas receberam a minuta de um protocolo de intenções com sugestões para aprimoramento dos…

14 horas ago

As invisíveis (3), por Walnice Nogueira Galvão

Menino escreve sobre menino e menina sobre menina? O mundo dos homens só pode ser…

16 horas ago