Por Milton Hatoum
O desgoverno é um caos calculado. Quase todos os dias é preciso plantar disparates, semear intrigas e gerar confusão. Essa lógica perversa é necessária para alimentar um incêndio sem fim, e fazer do fogo um prisioneiro da fogueira, como dizem os versos de João Cabral.
O antepenúltimo disparate do capitão reformado é a indicação de um ministro “terrivelmente evangélico” da AGU para uma vaga no STF. Ou seja, o fanatismo religioso como (anti)critério de excelência profissional. Resta saber como um magistrado “terrivelmente evangélico” daria um parecer jurídico num Estado laico. Ou seria o despacho de um juiz em estado de transe com o divino?
O penúltimo disparate do capitão foi a indicação do filho 03 para ocupar o posto de embaixador do Brasil em Washington. A filiação é o critério principal. A embaixada mais importante e a mais estratégica sob todos os ângulos pode ser dirigida por um neófito de extrema-direita. Neste caso, extremismo rima com nepotismo. Uma das qualidades do 03 é ter “fritado hambúrguer” no Colorado, como ele mesmo declarou.
Parece um pastelão filmado no submundo de uma republiqueta desta América. Mas não é um filme de quinta categoria. Não se trata de obra ficcional. Se essa indicação for aprovada pelo Senado, poderá gerar graves consequências para o país. Além disso, seria um insulto ao Itamaraty e à esmagadora maioria de seu corpo diplomático. E um insulto também à memória de grandes intelectuais e escritores que trabalharam no Itamaraty e honraram a cultura brasileira: Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Antonio Houaiss, Vinicius de Moraes, entre outros. Sem falar dos romancistas, poetas e tradutores, na ativa e aposentados.
O caos, a desfaçatez, a provocação, as ameaças, a violência (não apenas verbal) e a arruaça são fundamentais para ofuscar o desgoverno e sua irrefreável sanha de destruição de algumas conquistas políticas, de bem-estar social e direitos humanos. Por isso, o incêndio não pode ser debelado.
No futuro, esse desgoverno será relegado à insignificância e à obscuridade. Quem interpreta e julga o passado não são legisladores divinos, e sim mulheres e homens no mundo terreno.
Substituta de Sergio Moro, juíza admite erros no caso Tacla Duran, mas garante que não…
Incertezas políticas e internacionais estão por trás da disparada de preços do minério, diz professor…
A cada dia, ficamos esquecidos no dia anterior sem ter conseguido entender e ver o…
Exército aumentou o número de militares e opera hospital de campanha; Transportes se comprometeu a…
Escritor e membro do MPT, Ilan Fonseca propõe alternativas ao oligopólio que controla trabalhadores sem…
Barragem 14 de Julho, no interior do Rio Grande do Sul, rompe com as fortes…
View Comments
Consideremos que tal nomeação depende muito mais dos senadores do que do preclaro pai do coiso. E se os senadores aceitarem a indicação, serão mais criminosos e lesa-pátria do que o desbolsonazi. Nem sempre a aparência da loucura não passa por estar no mesmo clube de tiro com o filho... Então, olho vivo nos evangélicos, desabalados, bibliofídios, agroshows e outros tantos desclassificados que hoje acunham o congresso nacional. O bolsonada indicar o prolehamburguer é problema de família, mas, o senado aceitar é coisa pra jogar merda naquele prédio todo.
A mídia livre nos deve a descoberta e revelação de quem são os que realmente mandam no governo, orientam a destruição da economia e das instituições brasileiras, enquanto a troupe chefiada pelo guru faz maluquices ensaiadas, para desviar nossa atenção. Tudo parece um plano muito bem orientado - no centro da roda os palhaços, em volta os que batem as carteiras dos assistentes distraídos pelas palhaçadas.