Dá trabalho só ter trabalho, por Matê da Luz

trabalho

substantivo masculino

1. 1.

   conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim.

   “t. manual”
2. 2.

   atividade profissional regular, remunerada ou assalariada.

   “t. de tempo integral”

Esta é a definição do dicionário, que pode ser levada ao pé da letra e sem maiores problemáticas na vida de tantas e tantas pessoas. Eu, por aqui, faço parte do time dos indignados, aqueles que estão intimamente relacionados com os “algo mais” da vida, numa complexidade (tantas vezes) difícil de explicar. Se é difícil de explicar em palavras – e eu amo as palavras! – imagine de dar conta! Mas é aí que toda a beleza do desenvolvimento vem se mostrando, sempre em gerúndio, é claro, e todo este sentido maior faz cada vez ais sentido até mesmo aqui, neste mundo de limites. 

E o trabalho, pra mim, passa a ser ofício, transbordando meus dons e sonhos e desejos e deixa de ter este significado do dicionário. Sim, é claro, eu (assim como todas as pessoas deste mundo, indignadas ou não) preciso pagar contas e ter meus fins determinados. Porém, exercer uma função diária e rotineira somente com este propósito estava (quase que literalmente) me matando. Quero dizer: eu peciso de dinheiro para pagar minhas contas, para gerar e movimentar meus sonhos e para, inclusive, semear um tanto mais do que acredito ser possível e saudável pra vida. Mas ter este dinheiro no ciclo comum da definição padrão tem se mostrado inviável durante meus anos de envolvimento no mercado de trabalho: ou sou demitida por insubordinação – termo maravilhoso para nós, os criativos – ou acabo me demitindo por, hum, de novo e sempre, indiganção. E fico sem dinheiro. Sacou o ciclo? 

Então eis que o trabalho teve que ser todo reformatado em mim: primeiro que, por esta definição padrão, eu “nunca ter tomado jeito”, já que os trabalhos tradicionais não couberam em mim e sequer eu coube neles. Segundo que, isso é bastante triste, a definição criativa de trabalho é pouqíssimo explorada e explicada como possível para nós, os seres humanos. Quem “ousa” trabalhar com criatividade, com projetos de sonhos e com a realização pessoal é “o maluco”. Perceba. (sim, isso acontece também dentro das áreas “criativas” do mercado de trabalho: as agências de publicidade, atualmente, mais estimulam algo próximo da escravidão e do comprometimento bizarro do que acolhem e exploram as aptidões criativas de seus funcionários). Daí que há de ter tamanha coragem pra ser maluca e ir, trabalhando naquilo que não somente faz sentido mas no que de fato entrega as definições de “fim” válidas e validadas pra mim, pra você, pra cada um. 

Como lição pra hoje, sugiro celebrar nossas capacidades individuais e interpessoais – ah! os encontros nesta caminhada são verdadeiros presentes, receba-os! – e trabalhar naquilo que cada um de nós veio fazer: este, de fato, há de ser o principal fim pro nosso começo, o da realização – sejá lá o que realizar signifique pra você.