De péssimos bofes, por Rui Daher

De péssimos bofes, por Rui Daher

Quem ainda não teve uma coluna a nos incomodar por quatro dias? Acho que poucos. Tanto que certa marca de margarina se incomodou com uma coluna minha e me fez retirá-la imediatamente.

Daí os maus bofes dos últimos dias, que já vinham inflados por Messias e seus meninos, acolhidos e acólitos. Ah, existe um para pôr panos quentes e servir de pequenos postes fixos quando necessário segurar arames farpados. Criador de gado, gosta.

Não pretendo, porém, deixar os queridos leitores e leitoras folgados, como a moça bonita, seminua, que reparei pela janela do carro sambar freneticamente, num bar da Vila Madalena, com um chapéu de general. Rezei para que o chapéu fosse homenagem ao saudoso sambista Blecaute, o “General da Banda”.

Repito: não irei poupá-los antes que saiam em seus bloquinhos ou sambem como se o asfalto estivesse pegando fogo, em pulinhos, como fazem certas apresentadoras da TV Globo. Vou apresentar-lhes um brasileiro feio em forma e conteúdo.

Ator, seria perfeito para Stephen King, Wes Craven, Lubitsch, como também foram Béla Lugosi e Vincent Price, em suas mais aberrantes personagens.

Conteúdo? Deixo para meus conselheiros do Dominó de Botequim (Darcy, Ariano, Melô e Dr. Walther) avalia-lo.

Curiosos? Trata-se do economista José Márcio de Camargo, para quem povo é uma abstração marxista. Vem babando ovo há tempos para conseguir um carguinho em qualquer governo de direita. Pensei que seria agora. Ainda não o conseguiu.

CV? Fácil. Formou-se economista na UFMG, há quase 50 anos. Por aí, pode-se calcular sua idade. Na escassez daquele tempo conseguiu doutorar-se no MIT. Desde então, só fez acompanhar o liberalismo que grassava nos EUA, em todas suas etapas e interesses. Até hoje, é professor titular de economia da PUC/RJ.

Suas aulas? Rótulos neoliberais de ajuste fiscal com empobrecimento da população. Passou bom tempo sócio da consultoria Tendências. Hoje, está na Genial [sic] Investimentos. Com tão pouca proeminência, as folhas e telas cotidianas gostam de ouvir José. Sabem que ele dirá o que querem publicar. É parça de Rodrigo Maia, o que me impede saber se do clube do Bolinha ou da Luluzinha, tão parecido o presidente da Câmara com os deliciosos personagens da história em quadrinhos.   

Para ganhar proeminência e ver se o Mito o chama para o governo, em 19 de fevereiro, forneceu entrevista à sucursal de “O Globo”, em São Paulo, Valor, com o título: “País pode crescer 3,5% se aprovar reforma rápido”.

Pronto. Aí está o que quer José Márcio de Camargo. Reformas. Mas, quais? Aquelas que irão beneficiar às populações pobres e miseráveis ou as mesmas que aí já estão a garantir uma das maiores concentrações de renda do planeta. Quer ainda mais, ô Zé?

Então era só isso? A situação econômica mundial não importou porra nenhuma? A incompetência do novo governo também não? Por que FHC não a fez, Zé?

Reformar o quê? Esgotos a céu aberto, casas em locais de risco, agricultura familiar abandonada, desemprego anormal perto dos índices a que Lula nos levou, universidades no Nordeste? Sinto-o infeliz, raivoso, revanchista, um neoliberal de fancaria.

Vai à praia no Rio? Deveria. Embeleza e alegra os bofes.

Entendam essa frase sobre a minuta da reforma da Previdência: “A minuta tem coisas que vão estar de fato na reforma, mas tem ‘fake news’, e tem coisas que não estarão lá, mas estarão”.

Não concorda quando a entrevistadora nega a evolução dos empregos formais, e aí vem com os “microempreendedores, pessoas jurídicas contabilizadas como conta própria”. A Uber, meu senhor, ou algo semelhante nos semáforos das grandes cidades?

Aposta em crescimento de 3 a 3,5%, mas se preocupa com a possibilidade de eventual guerra comercial.

Eventual? Já está acontecendo tontinho.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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  • Grato pela coluna, caro Rui. Emulando o português castiço de 50 anos atrás informo que uma certa marca de margarina, que me acompanha há décadas, não "vai estar" mais à minha lauta mesa matinal. Significa alguma coisa ? Pra mim sim, e muito. O "breakfast" (não resisti não colocar essa palavrinha), já muito melhor depois que aboli certas marcas escravagistas de café "vai ter" daqui pra frente um gosto mais gostoso sem esse creme vegetal (também não resisti). Abs.

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