Outro dia, no intervalo de uma partida de futebol de várzea, presenciei dois eleitores do Bolsonaro lamentando a dependência que o Brasil tem da China no tocante a importação de respiradores e máscaras.
Ambos chegaram a conclusão que o Brasil deveria promover uma substituição de importações. Se um desavisado ouvisse a conversa, iria pensar que tratava-se de dois defensores da intervenção do estado na economia.
Essa confusão ideológica mostra que muitos que agitam a bandeira da direita não sabem que apito tocam. Não é difícil encontrarmos cidadãos mais idosos que se dizem liberais, e sentem saudades do milagre econômico ocorrido na ditadura militar entre 1968 e 1973.
Naquele período, os militares lançaram o PED – programa estratégico de desenvolvimento, um plano em que o livre mercado foi um simples coadjuvante. Naquele período, o Brasil cresceu, em média, 11% ao ano.
Segundo a economista Jennifer Herman – UFRJ, além da conjuntura interna e externa serem favoráveis ao crescimento, havia uma grande capacidade interna ociosa e ampla liquidez no mercado internacional com empréstimos a juros baixos. Ademais, o governo adotou políticas de tabelamento de juros, controle do câmbio, congelamento de salários e controle de preços.
Fossem os militares liberais, não haveria espaço para políticas com aquele escopo, inclusive, controle de preços. Os liberais de “carteirinha” que leem este artigo – principalmente aqueles da escola austríaca -, sabem muito bem que controle de preços é um verdadeiro sacrilégio.
Fernando Henrique, na década de 90, foi mais liberal porque deixou os preços livres e não adotou qualquer política dirigista estatal. Quem não lembra da frase: a melhor política industrial é não ter política industrial, dita pelo então ministro da fazenda Pedro Malan?
Contudo, atualmente, esses debates sem lógica até que são compreensíveis, pois vivemos num mundo onde a China comunista defende o livro mercado e os EUA de Trump defende o protecionismo. Pode?
Destarte, a ciência econômica torna-se um terreno árido e nebuloso para amadores que tratam do assunto somente nos fins de semana enquanto assistem a um futebol de várzea.
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Sim, além de biólogos, infectologista, sociólogos, economistas, specialistas em política internacional...todos sentados no botequim da esquina, decidindo a nossa sorte!