Estranhezas da segunda onda, por Gustavo Gollo

Informações sobre a pandemia do coronavírus tem chegado de forma desconexa, ao ponto de tal incongruência estar sendo escamoteada

Estranhezas da segunda onda

por Gustavo Gollo

 

Nossa avaliação sobre o pandemônio depende de informações como a letalidade do vírus, o número de casos e o de óbitos pelo mundo afora. Tais informações, no entanto, têm-nos chegado de maneira obviamente desconexa, de modo que tão gritante incongruência parece estar sendo escamoteada. É o que mostrarei.

Os meios de comunicação têm dado credibilidade aos gráficos de casos e mortes que vêm sendo atualizados dia a dia em praticamente todos os países do mundo. É surpreendente descobrirmos tão generalizada dedicação diária quando a comparamos com a falha escabrosa composta pela supressão do recenseamento decenal da população brasileira em 2020 (lembrando que o censo já havia sido estabelecido como suplemento de governabilidade em tempos bíblicos).

A dedicação imensa manifestada em tão generalizada presteza contrasta com o desinteresse, ou incapacidade, na interpretação dos dados apresentados, ou a brutal dissonância apresentada por eles teria clamado por explicações. Refiro-me aos gráficos de casos e óbitos, especialmente de países europeus, revelando uma segunda onda de casos marcada e intensa, mas acompanhadas por gráficos de mortes que não refletem a mesma intensidade. A mais ligeira passada de olhos sobre ambos os gráficos suscita de imediato a questão: por que a segunda onda de covid que está assolando intensamente a Europa não traz com ela uma segunda onda de óbitos de proporções equivalentes, ou, por que a letalidade da segunda onda do vírus está tão branda na Europa? Poderemos reduzir mais de 10 vezes a letalidade do vírus se descobrirmos como fizeram os europeus?

Os gráficos de casos e óbitos na França, Reino Unido e Holanda mostrados acima ilustram nitidamente o caso. A marcação em amarelo sinaliza a segunda onda de mortes, muitíssimo menor que a primeira onda, à sua esquerda. Note que que no momento a segunda onda de casos agiganta como um maremoto, na parte de cima do gráfico. A segunda onda de óbitos na Europa chegou umas 30 vezes mais fraca do que a primeira.

O fato é gritante e extremamente significativo. A redução superior a 30 vezes na letalidade do vírus deveria ter chamado enorme atenção. Deveríamos, em consequência, ter em mente que o vírus se encontra, agora, fortemente atenuado, ou aventar hipótese alternativa para a interpretação do dado.

Tem-se sugerido a explicação, bastante duvidosa, de que a mudança decorreu da maior quantidade de testes supostamente efetuada durante a segunda onda, revelando agora um número mais preciso de casos. Tal conclusão deveria suscitar, de imediato, a constatação de que o vírus é muitíssimo menos letal do que se chegou a temer a princípio. Em quase toda a Europa, a proporção entre as notificações de óbitos e casos é inferior a 1%. Como a maior parte das infecções é assintomática, os números sugerem uma letalidade significativamente abaixo de 0,1%, estimativa muitíssimo menor que a que gerou todo o pandemônio, quando alardeada meses atrás.

É muito mais provável que a redução da proporção de óbitos para casos decorra de vários fatores, tendo sido o desespero inicial e a ânsia por acentuar uma letalidade gigantesca durante a primeira onda, os principais responsáveis pelo erro. É provável que para cada 30 óbitos atribuídos a covid durante o início do surto na Europa, apenas um deles tenha sido causado, de fato, pela doença. A sugestão é absurda, mas qualquer sugestão razoável o será, dada a incongruência entre os dados nos 2 momentos. Dados disparatados clamam por explicação igualmente absurda.

O absurdo é corroborado por outras informações.

Os 3 países têm número de casos aproximados, mas o total de óbitos na África do Sul aproxima-se de metade da quantidade de mortes nos países europeus, em consonância com a baixa letalidade do vírus em toda a África no início da infecção. Paradoxalmente, vemos uma inversão nos dados atuais, com a quantidade de óbitos explodindo agora, inexplicavelmente, na África. Note que o valor de novos óbitos na África do sul elevou-se ao dobro do dos países europeus, apesar de decorrer de um décimo de novos casos! Em sentido exatamente contrário ao que ocorre na Europa, a letalidade do vírus na África vem ganhando corpo estarrecedoramente, mais uma discrepância gritante a ser explicada.

Outro absurdo que chama atenção são as taxas de óbitos gigantescas no México e na Bolívia. Como que para coroar o absurdo, descobrimos que México e Bolívia, países cuja letalidade chegou a ultrapassar os 15% por certo tempo, são sempre os primeiros a notificar seus dados, juntamente à China, orgulhosa de seu controle sobe a doença. Mais provável que por orgulho, é que México e Bolívia venham sendo submetidos a algum tipo de humilhação, sendo obrigados a realçar seus dados injustificáveis apresentando-os antes de todos.

Bolívia e Qatar encontram-se juntos, na trigésima quarta e trigésima quinta posições, respectivamente, com quantidades de casos tanto recentes quanto totais similares. A discrepância entre os óbitos ocorridos em ambos os países, no entanto, é gritante! O que poderia justificar o contingente de 8.377 mortos por covid na Bolívia?, número quase 40 vezes maior que o ocorrido no Qatar, ambos com números equivalentes de casos.

Brasil tem aproximadamente o mesmo número de novos casos que a França, mas quase 10 vezes mais óbitos no dia.

A China se orgulha de ter assinalado seu último óbito por covid em 17 de abril. Desde então, nenhum dos 2.900 casos registrados na China resultou em óbito! A China, aliás, apesar da população gigantesca tem apenas 0,2% dos casos em todo o mundo, ocupando a quinquagésima primeira posição em número total de infectados, ou seja, 50 registraram mais casos de covid que a China.

A letalidade no Rio de Janeiro é mais que 5 vezes maior que em Santa Catarina.

Mas, que conclusão, afinal, pode ser tirada de tudo isso? Concluo apenas que os dados apresentados revelam incongruências tão significativas que a única certeza que eles atestam é a estranheza geral sobre toda a informação que alimenta esse pandemônio.

Redação

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