Lula livre. Um homem contra milhões, por Wilton Moreira

Fiquei feliz, muito feliz com a soltura de Lula. Pelo que ele representa para o país, pela injustiça de sua condenação que o STF, parcialmente, corrige e pela esperança que ele nos traz. Se Bolsonaro se move nas sombras do medo e o ódio, Lula simboliza um facho de luz, de esperança e solidariedade num momento tão sombrio do país.

Mas uma coisa me inquietou quando vi tantos rostos felizes e aliviados como os de Gleisi Hoffmann e seus companheiros ainda no acampamento Lula Livre (o meu rosto deveria ser o mesmo). Parece que contra o fascismo militante de um terço da população e o fascismo silencioso/conivente do outro terço, que os especialistas políticos costumam denominar centro, só nos restou Lula como cavaleiro da esperança.

É Lula, temos a esperança, que pode conquistar o coração da terça parte da população que não apoia Bolsonaro e Moro abertamente mas simpatiza com sua paranoia fascista e moralista, tão niilista e destrutiva que só o prefixo anti dá conta de suas posições políticas: anti-minorias, anti-corrupção (dos outros), anti-comunista (seja lá o que isso for), anti-social, anti-cultural etc. Lula, cremos nós, pode convencer esta parte volúvel do eleitorado que o barco do bolsonarismo e do lavajatismo é o da insanidade, trazendo-os de volta à racionalidade.

E temos a esperança que Lula livre, mesmo não conquistando o coração do outro terço da população que é abertamente fascista, pode fazê-la baixar a crista e voltar à sua resignação reacionária pré-2013, silenciosa e constrangida de mostrar sua monstruosa face racista, misógina, homofóbica e carregada de ódio social contra os pobres.

Depositamos esperanças demais num homem só. Está certo que não é um homem comum e não duvido da capacidade de liderança de Lula e de ser até capaz de corresponder às expectativas que depositamos nele. Mas Lula não dura para sempre, ele ainda é um homem, e velho. E quando ele se for? Enquanto esteve preso, nós, o terço antifascista da população não mostramos nenhuma capacidade de reagir ao fascismo bolsonarista/lavajatista.

O que me preocupa é esta inércia da população em direção ao abismo, mesmo com a economia em crise. É esse sentimento de impotência em frear essa marcha insana para a autodestruição do país que, no caso de uma reeleição de Bolsonaro ou outro neofascista, como Moro ou Witzel, é certa. Não nos enganemos, a “utopia” fascista é só a da destruição e quando passaram um tempo relativamente longo no poder não deixaram pedra sobre pedra, vide Espanha de Franco, e Alemanha, Itália e Japão da década de 1930.

É Lula contra a maioria fascista – se somarmos os militantes e simpatizantes do bolsonarismo e lavajatismo. Um homem contra a insanidade de milhões. Não sou religioso, mas é o caso de pedir que Deus o ilumine. Chegamos a tal ponto de desânimo e desengano que o que pedimos a Lula não é a liderança de um projeto político, mas um milagre.

Redação

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