Lula tenta refazer a curva fechada de 2002, por Aziz Filho

Jornal GGN – Se Lula não for candidato do PT na eleição de 2018, seu substituto deve estar ciente de que precisará fazer de tudo para construir uma aliança ampla o suficiente para tornar as chances do partido reais, inclusive “dormir com o inimigo”. É o que diz Aziz Filho, em artigo divulgado no portal Os Divergentes, nesta segunda (23), analisando o percurso de Lula para reproduzir no próximo ano a mesma parceria que constituiu com os empresários em 2002, após abandonar “utopias de esquerda”.
Por Aziz Filho
Um dos fatores que levaram à eleição de Lula em 2002, sua quarta tentativa, foi a Carta ao Povo Brasileiro, na qual prometeu uma política econômica de centro, parceira do setor produtivo. A aliança do noivado pouco provável foi de ouro puro: o empresário mineiro José de Alencar como vice da chapa. Lula ganhou e cumpriu o acordo: desprezou as utopias da esquerda que o ladeavam desde 1989 e fez um governo no qual, segundo ele mesmo transformou em mantra, “a elite ganhou dinheiro como nunca”.
Pode-se discutir qual cônjuge traiu o pacto nupcial: o PT, ao descuidar-se da austeridade fiscal, ou “a elite”, ao deixar-se levar pelo tal “ódio de classe” travestido de combate à corrupção. O fato é que o cenário de 2018 reencontra o PT com o mesmo drama de 2002, além dos outros mais graves do ponto de vista ético. Nove em cada dez investidores dizem segurar o dinheiro por temer a eleição de alguém contrário às reformas de Michel Temer, ou seja, Lula.
Na caravana por Minas Gerais, que começa com um ato em Ipatinga em defesa da soberania nacional, o ex-presidente quer fazer a mesma curva que o levou ao pódio com Alencar. Na sexta-feira, vai comemorar 72 anos na Coteminas, ao lado de Josué Gomes, filho de José de Alencar e presidente da empresa fundada pelo pai. É difícil reeditar a dobradinha com Josué, que é do PMDB de Temer, mas Lula já faz ponte com outros empresários de peso.
Depois de subir nas pesquisas com o discurso do “nós contra eles”, agora precisa flertar com “eles” para reduzir a rejeição. Assim como no Nordeste, ele terá em Minas a companhia de vários políticos de partidos adversários, que não são bobos nem nada – e Lula também não é.
Os petistas apostam nas andanças do líder ou em seu poder sacrossanto de abençoar um poste caso as sentenças do juiz Sérgio Moro – a já consumada e as que virão – sejam confirmadas, impedindo sua candidatura. São três no banco de reservas: Fernando Haddad, Jaques Wagner e Fernando Pimentel, líder das pesquisas para o governo de Minas. Um deles, além de escapar da Lava Jato, terá de aprender com o padrinho a fazer de tudo para subir a rampa, inclusive dormir com o inimigo.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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  • Desestímulo aos investimentos

    Nove em cada dez investidores não investem seus capitais em razão da baixa expectativa de demanda efetiva. A baixa expectitativa de demanda efetiva decorre da alta taxa de lucro e da consequente desvalorização dos salários. Nesse sentido, as reformas do Michel Temer e a austeridade por ele impostas só pioram a expectativa de demanda efetiva, pois empobrecem ainda mais a população, ao tempo em que eleva absurdamente os lucros dos magnatas.

    • Seria bom se fosse verdade.

      Seria bom se fosse verdade. Mas não é; os "investidores" já demonstraram claramente que preferem ativamente a política concentracionária do governo Temer ao distributivismo do PT.

    • Excelente análise! Pena que

      Excelente análise! Pena que Meirelles "não sabe ler", apenas lucrar no mercado financeiro. 

  • Parei quando li:

    1 - "o PT, ao descuidar-se da austeridade fiscal": acebei de ver um gráfico numa apresentação para seus clientes de alta renda do banco suiço "CREDIT SUISSE" que mostra o contrário desta afirmação. Quem quer enganar quem?

    2 - "“a elite”, ao deixar-se levar pelo tal “ódio de classe” travestido de combate à corrupção": well, nas minhas andanças (cada vez mais raras) no meio desta tal "elite" paulista, continuo cruzando com corruptos notórios que não parecem muito preocupados. Alias Aécio Neves e J. Serra estão aí para me confortar nesta impressão. De novo: Quem quer enganar quem?

    Esses "divergentes" estão aí para divergir de quem?

     

  • As reformas de temer assim
    As reformas de temer assim como as de fhc servem somente para enriquecer a elite escravocrata do Brasil. Não vai atrair nenhum investimento , pois vão vender pra quem o que ? Com salário rebaixados , investimento estatal parados e altos juros, quem compra ? Então são reformas para enriquecer somente.

  • Taí!

    Taí a carinha "linda" do PT escancarada em sua realidade nua e crua: a Articulação em sua essência absoluta.

    Aliás, se algum dia houve outra cara no PT, hoje não há mais a pálida sombra dela.

  • Lula e suas alianças

    Para certos "esquerdistas", certo está o PSTU! Para tal tipo de gente, Zé Maria, com seu "purismo", é melhor que Lula! Ouso discordar.

  • poder sacrossanto de abençoar um poste

    Que tal um novo partido: o PANDA, o partido antagonista divergente?

    Os cães ladram e a caravana passa arrastando as multidões!

    É só alegria!

     

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