Moro maior que Bolsonaro?, por Wilson Luiz Müller

Moro maior que Bolsonaro?

por Wilson Luiz Müller

Por que estamos todos discutindo se Moro é maior ou menor que Bolsonaro? A discussão foi artificialmente introduzida pelas pesquisas da Veja e da Folha de São Paulo. Como tudo envolve interesses políticos, seria ingenuidade crer que esses dois veículos,  representantes do establishment, fizessem as perguntas que fizeram por simples curiosidade.

As últimas semanas revelaram o desconforto de vários setores da direita civilizada com os rumos que Bolsonaro vem impondo ao país, principalmente pelo risco real de estar preparando o terreno para justificar um golpe ditatorial. Há duas motivações principais para as perguntas feitas nas pesquisas: a libertação de Lula e a dificuldade do establishment em “fabricar” outro candidato fora do entorno bolsonarista. Sendo difícil fabricar o candidato ideal (o que já foi demonstrado na eleição de 2018 com a derrota acachapante dos tucanos), qual poderia ser o candidato bolsonarista com o qual a direita civilizada se sentiria mais à vontade? Bingo! Sim, acertou quem disse Moro.

É fácil demonstrar que as pesquisas tiveram esse objetivo. A revista Veja simulou disputas de Lula contra Bolsonaro ou contra Moro. Com isso os pesquisadores queriam saber se Moro conseguiria rivalizar um embate eleitoral contra Lula. O objetivo de medir o desempenho de Moro fica mais claro ainda quando a revista faz uma simulação de disputa entre Moro e Bolsonaro. Qual é a finalidade de simulação de uma disputa impossível? Pois desde a eleição de 1989, um candidato do PT esteve entre os dois finalistas da eleição presidencial, nada indicando que será diferente em 2022.

A pesquisa da Folha de São Paulo vai no mesmo sentido da Veja, tentando medir o tamanho do eleitorado que estaria com Lula, Bolsonaro e Moro. Mas a Folha avança para uma estratégia capciosa, que levaria a maior parte dos leitores a uma conclusão falsa de que Moro é maior do que Bolsonaro. Com base em quê muitos analistas chegaram a essa conclusão? Com base em premissas que comparam coisas diferentes, portanto premissas falsas.

O presidente Bolsonaro é avaliado, pelas pessoas pesquisadas, em relação ao governo como um todo, contra o qual existe uma oposição crescente. Ele é comparado, entre outras coisas, com os seus opositores, como por exemplo Lula. A avaliação que as pessoas fazem de um ministro do governo Bolsonaro parte de parâmetros completamente diferentes, pois um ministro é avaliado principalmente pelas informações que as pessoas possuem dele. Não há aqui a contraposição, ou comparação, com o desempenho de políticos de outro campo ideológico. Além disso, é sabido que um percentual muito reduzido de pessoas acompanham o noticiário envolvendo a atividade dos ministros. Ao se comparar o percentual obtido por Moro como ministro ao de Bolsonaro como presidente está se comparando jaca com jaboticaba, só porque as duas frutas iniciam com a mesma letra.

Se a comparação tivesse algum validade estatística, poderia se dizer também que Damares e Paulo Guedes são bem mais populares que Bolsonaro, com índices de 43% e 39% de aprovação, enquanto que Bolsonaro tem apenas 30%. Levaríamos a sério uma pesquisa que indicasse Damares ou Guedes com apoio popular capaz de enfrentar Lula numa eleição? Por que leva-se a sério então a comparação entre Moro e Bolsonaro?

Pode-se, por intuição ou por conhecimento da realidade política do país, concluir que Moro é um candidato mais forte que Bolsonaro nesse momento. Porém, mesmo isso é bastante discutível, pois, apesar do desgaste do presidente, ele ainda tem muito mais carisma e poder de fogo do que Moro  para se manter como a opção mais viável no campo da direita e extrema-direita. O que não se pode é afirmar, com base nas pesquisas citadas, que Moro tem maior aprovação do que Bolsonaro.

Ao que tudo indica, o establishment por enquanto conseguiu atingir seu objetivo. Melhor que um candidato ideal passar vergonha com 4% dos votos é um candidato bolsonarista  que ao menos seja mais limpinho e cheiroso do que o criador. Resta saber se Bolsonaro acredita nessas pesquisas. E, em acreditando, se está disposto a aceitar a contingência de não ser mais necessário para o establishment, sendo melhor – inclusive para ele próprio – apoiar Moro do que correr outros riscos desnecessários.

Wilson Luiz Müller – Membro do Coletivo Auditores Fiscais pela Democracia (AFD)

Redação

Redação

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  • Não existe grandeza nem no Bolsonaro, nem nos seus Ministros nem nos seus eleitores. Portanto, o $érgio Moro não é maior do que o Bolsobosta. O Bolsobosta é que é menor do que $ergio Moro.

    Quanto ao resultado das pesquisas do Datafolha, observe-se que apenas 93% dos entrevistados conhecem o $érgio Moro. Em outras palavras, o $ergio Moro foi aprovado por 53% de 93%. Ora, 53% de 93% equivale a 49% e não a 53%, como noticiou o G1.

  • Quanto delírio....... A reportagem é uma porcaria, e os comentários...... A "Dilma" Rui Ribeiro, citando percentuais, tenta apresentar insignificância em um número de 93%. Sem contar que o bandido de nove dedos está solto momentâneamente, mas tem seus direitos políticos suspenso, logo não será candidato nem a síndico. Grande perda de tempo, a pesquisa e a reportagem.

    • 4% é um percentual insignificante?

      As Moretes não têm noção. Se tivessem, não seriam Moretes.

      Moretes gostam de ler porcarias. Isso me lembra o Flávio Bolsonaro, que afirmava que não queria porcaria de foro privilegiado mas não sai do $TF, pedindo que parem de investigá-lo em razão de ele ser $enador e, portanto, ter foro privilegiado.

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