Um dos efeitos colaterais do distanciamento físico que nos impôs o combate à pandemia da COVID-19, neste caso desejável, foi a melhoria da qualidade do ar e a redução da poluição ambiental, como aponta uma recente pesquisa da NASA.
Por outro lado, nesse mesmo período, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE-Brasil) apontam que o desmatamento da Amazônica bateu recorde, tendo aumentado em 51% em relação ao mesmo período de 2019 – desapareceram 796 quilômetros quadrados de mata. A Floresta Amazônica está em perigo e seu ecossistema pode, em breve, entrar em colapso. É bem estabelecida na literatura científica a relação entre a devastação florestal, a fragmentação da paisagem e de ecossistemas, com a proliferação de doenças em especial as zoonoses, doenças transmitidas de animais para humanos.
Um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica – Ministério da Economia), realizado em 2015 mostrou que a cada 1% de destruição da floresta amazônica, correspondia 23% de aumento na incidência da malária.
O debate bastante estreito que tem atrapalhado a reflexão necessária que o momento nos exige, coloca em oposição a saúde e a economia. Mas como muito bem colocou Manuel Castells, em recente artigo (“A hora do Grande Reset”, Outras Palavras – 05/05/2020), “só existe futuro se pensarmos em uma reencarnação coletiva da nossa espécie[…]. A saúde pública é nossa infra-estrutura de vida, e é fundamental fortalecer o sistema de saúde e o setor público para poder organizar a sociedade e a economia. Ele conclui enfatizando que esta é a hora do grande reset, para uma nova forma de vida, outra cultura, outra economia.
Dentro e fora de governos, individual e coletivamente encontramos iniciativas tentando nos fazer ver que precisamos de fato mudar. Tenho refletido em família sobre a opção pelo veganismo. Para além da escolha alimentar, sua filosofia é a de harmonia e profundo respeito à natureza.
Em março deste ano, entrei em distanciamento social assim que retornei de Santiago do Chile, onde estive para o lançamento da Red de Líderes “Convergencia para la acción”, constituída pela liderança da ex-Presidente do Chile e atual Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU, (e também médica pediatra) Dra. Michelle Bachelet. A rede é integrada por 70 líderes de 18 países da América Latina e Caribe, e nesta sexta lançou o projeto “Aires Nuevos para La Primera Infancia”. Entre os principais objetivos do projeto está o de promover a redução da contaminação e a melhoria da qualidade do ar, com foco na primeira infância, e ampliar o seu monitoramento.
A iniciativa alinha-se fortemente com pelo menos 6 entre os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030. Em seu pronunciamento durante o lançamento do projeto, Bachelet ressaltou que a contaminação do ar é uma tragédia silenciosa, já que é baixo ainda o nível de medição na maioria dos países, e responsável por aproximadamente 7 milhões de mortes anuais, afetando mais as populações mais pobres e as crianças.
A urbanização desordenada, o tipo e local de habitação, poluentes oriundos da indústria, meios de transportes, calefação nos países com inverno mais rigoroso, estão entre os agentes causadores da contaminação do ar.
O plano chileno de descontaminação do ar levado a cabo entre 2013 e 2019 resultou na redução aproximada de 400.000 casos anuais de urgências respiratórias em crianças de 0 a 4 anos de idade.
Um estudo econômico feito em Israel, considerando a localização das escolas e a qualidade do ar, identificou relação entre a exposição à poluição e a capacidade de concentração e aprendizado das crianças. Além de estarem mais suscetíveis por encontrarem-se em fase de crescimento e desenvolvimento, as crianças têm um ritmo respiratório em média duas vezes superior ao dos adultos, e inalam portanto, mais toxinas.
São apenas dois exemplos, mas sem dúvida há tantos outros, que nos empurram na direção de rever nossos valores, nossas escolhas, nossas prioridades e nosso estilo de vida. Se até então adiávamos o assunto, a pandemia nos recoloca-o de forma decisiva. Será que seremos capazes do Grande Reset? Vamos buscar um novo normal como sociedade? A vida é muito mais frágil do que quisemos acreditar até aqui, e o desenvolvimento sustentável, a redução das desigualdades, o bem-estar das pessoas são os elementos fundamentais que devem nos guiar, e não podem mais esperar para se tornarem prioridade absoluta.
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Com todo o respeito ao seu trabalho, a professora deveria se retirar do projeto Aproxima-Ação, da Pró-Reitoria de Cultura da USP. Infelizmente, na reitoria, há casos assombrosos de violência institucionalizada que mereciam detalhes.
Das duas uma: ou ela não sabe ou compactua com eles.