O Brasil pós-Temer, uma tragédia nacional. Parte 3: “whoever wins… we lose”
por Cesar Cardoso
(Lembrando: a parte 1 e a parte 2.)
“whoever wins… we lose” é uma tagline popularizada pelo filme Alien vs Predador, de 2004; significa que, não importa quem vença a batalha, a humanidade perderá. Esta tagline serve perfeitamente para o Brasil de 2017, porque não importa quem vença, as corporações estatais+rentismo+mídia ou o Grande Acordo Nacional, o Brasil perde.
***
Em qualquer situação, a democracia brasileira recuará a níveis inferiores ao preconizado pela Constituição de 1988; seja nos limites ao questionamento aos privilégios do rentismo e das corporações estatais, seja pela volta aos tempos do clientelismo, a participação popular será desestimulada ou mesmo banida. Vejo não apenas limites ainda maiores a mecanismos de democracia direta, mas também a imposição de limites à organização social via sindicatos, associações sociais e congêneres.
Os mecanismos formais da democracia representativa certamente continuarão em pé, o que significa que qualquer lado vencedor vai poder bravatear ao mundo que a democracia brasileira saiu fortalecida; no entanto, este discurso não resiste à prática de uma democracia formal que promove a retirada da sociedade da discussão política – incluindo aí a terrível ideia de unificação da data das eleições, para que as pessoas lembrem de política apenas uma vez a cada 4 anos, deixando o resto do período a política na mão dos “políticos”, que certamente prosperará cada vez mais até que o Congresso passe quase unanimemente.
***
Da mesma maneira, ambos os lados em luta concordam que o Estado deve desconfiar, espionar e controlar seus cidadãos; além da ABIN efetivamente se tornar o SNI com outro nome (e, olhem só, quando Dilma tentou tornar a ABIN uma agência de inteligência moderna e descolada dos militares a decisão foi revogada na primeira medida provisória de Temer), certamente haverá uma forte ofensiva contra os princípios do Marco Civil da Internet de uma rede livre e sem vigilância estatal, seja pela boa e velha desculpa-padrão da “luta contra o crime”, ou mesmo da espionagem política assumida.
E ainda sobre internet: não me assustaria se o infame artigo 222 da Constituição, o que garante que o setor de radiodifusão aberta é o único setor constitucionalmente protegido do capital estrangeiro, seja estendido para a internet, retirando concorrentes como El País Brasil, BBC Brasil e BuzzFeed News Brasil (!) do mercado, deixando o caminho livre para os G1, R7 e UOL da vida.
***
Em termos econômicos, nenhum dos dois lados se compromete com uma política econômica que promova o desenvolvimento industrial, científico e tecnológico. Foco único na inflação, câmbio subvalorizado, recuo do estímulo do Estado à economia… a política econômica praticada no primeiro governo FHC, com suas inevitáveis crises cambiais e recessões de origem externa, certamente vai ser o template do que virá.
Talvez o Grande Acordo Nacional tente atrair indústrias de montagem, com pouquíssimo efeito em emprego e desenvolvimento mas muito efeito psicológico, mas as corporações estatais, que como todos os deslumbrados que se prezam acreditam demais nas modas que surgem no exterior, vão falar em startups e outras coisas do gênero enquanto destroem qualquer atividade econômica que não seja a exportação in natura de produtos primários.
E, em ambos os casos, teremos décadas de crescimento de voo de galinha.
***
A fuga de cérebros já começou, e não há motivo para acreditar que parará a curto prazo. Mas, como fuga de cérebro só é matéria de jornal quando o órgão de comunicação, por algum motivo financeiro, quer convencer seu público que a solução é mandar seu filho estudar no exterior…
***
A privatização de educação e saúde está em marcha, foi acelerado pela PEC da Morte, e em algum momento será completada.
Em termos de assistência e desenvolvimento social; em vez de um sistema organizado, voltaremos ao tempo do assistencialismo, em vez de LBA, certamente “obras sociais” de políticos e igrejas.
***
Grupo Globo e igrejas evangélicas são os grandes instrumentos de controle popular, e numa situação em que o Estado vê a população como um potencial inimigo, é importante não incomodá-los. Talvez as corporações estatais pelo menos finjam – como já fingem hoje em dia – que estão combatendo a ocupação das rádios e TVs abertas pelas igrejas evangélicas. Mas é e será tudo jogo de cena.
***
Poderia ficar aqui listando pelo menos mais dez efeitos, mas o que está listado já é depressivo demais. Melhor passar logo para a parte 4, onde daremos 4+1 motivos para não haver eleição presidencial em 2018 e, para alívio de todos, terminarei esta viagem.
Substituta de Sergio Moro, juíza admite erros no caso Tacla Duran, mas garante que não…
Incertezas políticas e internacionais estão por trás da disparada de preços do minério, diz professor…
A cada dia, ficamos esquecidos no dia anterior sem ter conseguido entender e ver o…
Exército aumentou o número de militares e opera hospital de campanha; Transportes se comprometeu a…
Escritor e membro do MPT, Ilan Fonseca propõe alternativas ao oligopólio que controla trabalhadores sem…
Barragem 14 de Julho, no interior do Rio Grande do Sul, rompe com as fortes…
View Comments
Qual o seu objetivo?
Qual o seu objetivo com esses posts?
Fazer todo mundo desistir de lutar e ficar em casa?
Estimular migração em massa?
E ainda tem mais uma parte?
Para conseguirmos propor
Para conseguirmos propor saídas ao que aí está, precisamos entender o que está acontecendo. Análise de conjuntura é o básico.
Quem quer se iludir, que
Quem quer se iludir, que procure uma Igreja. Existem milhares por aí...