O feminismo na vida real e vai, filha, ser gauche na vida!, por Matê da Luz

Por Matê da Luz

Por definição, gauche significa esquisito, deslocado, estranho, diferente. É, portanto, um dos maiores desejos que alimento para a minha adolescente de recém completos 17 anos. 

À atual exposição de temas absolutamente relevantes não só ao futuro, mas especialmente ao presente no que diz respeito à vida em sociedade se faz necessária a análise de tantos pontos que, ao meu ver, deveram ser considerados antigos, ultrapassados e, por que não dizer?, fora de moda. Na minha opinião, não há nada que nos faça perder mais tempo do que invadir a privacidade alheia e, enfim, tomar decisões que desrespeitem as escolhas individuais – aquelas que não impactam na sociedade.

Exemplo: a homossexualidade. Quando a política interfere nas leis e no comportamento de alguém, invade o espaço reservado ao indivíduo que, por sua vez, tomou uma decisão que impacta tão somente na própria vida. O mesmo acontece com o aborto, uma vez que o nascimento de uma criança só diz respeito a quem vai criá-la – e não à sociedade propriamente dita. Este argumento, por aqui, se faz valer quase absoluto, já que o meu direito começa onde termina o seu, salvo quando minhas ações impactam alguém além de mim: base do respeito, um conceito tão simples que deveria ser praticado como premissa rotineira, não é mesmo? 

Não. 

As atuais decisões políticas do País (ainda se escreve com maiúscula, apesar dos pesares literais), colocam as minorias como responsáveis pelo desequilíbrio sócio-econômico enquanto, na verdade, outras ações coletivas têm impacto muito mais profundo e efetivo na construção do todo – por exemplo, o aumento salarial descabido dos parlamentares. Vamos lá, exercite a inteligência: o que interfere mais na vida de qualquer outro ser: a escolha sobre a própria sexualidade ou o rombo nas contas públicas? 

Estou sendo apartidária aqui, fazendo uma análise generalizada (mas que faz sentido, visto que um governo é um conjunto de açõs em prol do país, não é isso?). 

Daí que, no meio disso tudo, minha querida adolescente convoca um grupo de meninas e meninas para um encontro na sala e, então, na vida real, adminisra um diálogo aberto sobre as questões relacionadas ao feminismo e à necessidade de incluir vozes e atitudes de todos – e não só das mulheres – no contexto. Não fosse também o conteúdo fino, digno de reprodução (que, infelizmente, ela não autorizou porque “nem todo mundo fica confortável sendo gravado”, ai, como é linda e generosa e, ai, como eu sou coruja com mil e um motivos para assim ser!), eu diria que a nobreza desta reunião por si só foi a concepção e o aceite por parte de tantos interessados em colocar as mãos na massa após as palavras serem soltas no ar – porém, saíram dali meninos e meninas afins e dispostos a escutar mais, a escutar melhor e, muito bom!, a colocar em prática as pequenices que fazem as grandes mudanças. 

Orgulhosa, apesar das nuvens densas que andam teimando em voltar a me rondar, desejo que mais jovens multipliquem atitudes como estas, além de tomar pra si o que lhes é de direito – escolas, saúde, convivência fora dos grupos do Facebook (que sim, são importantes, mas podem ser ferramentas que escondem verdades que só os olhos revelam). Têm meu apoio e admiração, essa juventude que revoluciona fazendo barulho sim, mas que transporta os gritos de guerra pra vida real. 

Vai, filha, ser gauche na vida, porque do jeito que o mundo está, é uma delícia ver você sendo assim, esquisita, deslocada, diferente e estranha, muito melhor do que o que andam dizendo que é normal. 

Mariana A. Nassif

Mariana A. Nassif

View Comments

  • Do jeito que você fala parece

    Do jeito que você fala parece que sua luta foi em 64. Você é jovem, bora lutar moça!

  • Eu acho uma tremenda covardia

    Eu acho uma tremenda covardia esse negócio de apartidario. Agora é crime ter partido???

    • A covardia maior é ser "macho" e não assumir a defesa da fêmea.

      Então, é como sua atitude, que desconversa, que tenta levar a discussão para um plano qualquer, para assim disfarçar sua covardia de "macho".

  • Vida

    Concordo. Ser esquisito em tempos de esquizofrenia, chega a ser uma vantagem. Precisamos reformular nossas culturas em tempos tão banais. Quanto ao aborto, acho que cabe em várias situações, mas não podemos banalizar. Dizer que o nascimento de uma criança só diz respeito a quem vai criá-la, é banal em relação à vida. Vida do outro, não deve ser considerado do âmbito privado. Infelizmente muitos pais que não adotaram o aborto, banalizaram também, quando trataram os filhos como bem privado, educando para que estes fossem imagem e semelhança. Muitas vezes dando até o próprio nome ao filho.

    ***Sugiro que o texto seja digitado e corrigido no word, antes de postar.

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