Prezados Geonautas,
O professor Jorge Arbache, faz uma reflexão instigante e provocadora, o vídeo dele, que diria, é uma síntese do documentário sobre o pré-sal (ambos abaixo). Realmente, tão ou mais importante que o ‘ouro negro’ do pré-sal, é o aprendizado do processo para desenvolver tecnologia para retirar o óleo do fundo (produção hoje com 300 mil barris dia do pré-sal- 15% da produção da Petrobrás), e aplicar esse aprendizado, esse processo de aprendizado, em outras áreas do conhecimento tecnológico, educacional, saúde, …, pois “a próxima guerra será por cérebro“.
Olhando no horizonte de algumas décadas, qual o futuro que vislumbrava e alertava-nos, Celso Furtado, no discurso de posse da ABL em julho de 2003, que leva muita similaridade com seus alertas sobre a geopolítica global dos anos 50, o rearranjo de forças globais (que a elite tupiniquim não ouviu, foi “Um bonde chamado desejo“).
A responsabilidade dos cientistas:
(…) “O interesse crescente pelos trabalhos científicos e suas aplicações tecnológicas é traço marcante da civilização ocidental. As grandes civilizações orientais haviam amealhado uma massa enorme de conhecimentos, mas não chegaram a captar as complexas relações entre conhecimento ordenado (ciência), a riqueza ordenada (bens e serviços), e a faculdade normativa de exercer o poder. Hoje, esse quadro já não é mais o mesmo: as posições de vanguarda do Ocidente na ciência e em suas aplicações, que o singularizaram até o fins do século XIX, esvaneceram-se nos últimos decênios do século XX. Com efeito, as projeções mais recentes a respeito da distribuição espacial dos frutos do desenvolvimento, tanto econômico como científico, indicam que nos próximos dois a três decênios o mundo Oriental terá alcançado, ou mesmo superado, o Ocidente.”
Celso Furtado, “A responsabilidade dos cientistas” (Celso Furtado Essencial, p:489).
A Sociedade Ocidente está em ‘State of Denial’, absolutamente na defensiva, há duas décadas no mínimo, para os novos desafios globais. A propalada crise econômica, que tem como pano de fundo uma profunda crise de valores ocidentais e globais, “A crise da filosofia messiânica” (1950), diria Oswald de Andrade. A novidade do Ocidente é um Papa latino “del fim del mundo“, como ele se definiu, ou seja, o fim do mundo é aqui, somos nós, latinos.
A revista The Economist (Carta Capital, maio de 2010), em reportagem especial nos trás em números, quase uma década depois de Celso Furtado, cenário demográfico global para 2030, na qual 85% da população mundial se concentrarão entre Ásia, África e América Latina. Europa e EUA com 15% da população global. O cenário diz que cerca de 3 bilhões de pessoas ascenderão a nova classe consumidora, ou seja, 48% da população mundial (fato inédito na história humana). No Brasil, desde a re-fundação do país, nosso divisor de águas, a Constituição de 1988, mais de 40 milhões ascenderam a classe consumidora, embora dois terços dos favelados estejam nas estatísticas da nova classe consumidora. Em fins dos anos 80´s, o PIB nominal entre USA e EU somavam quase 70%, hoje somam por volta de 50%, a trajetória descendente é clara, quanto será em 2030: 30%? 20%?
O acordo comercial, ‘a toque de caixa’, entre USA e EU, que de certa forma já existe na prática, é na verdade uma política de falta de visão ocidental sobre o futuro, princando com fogo: um tiro no pé?
O ocidente faz manifestação, como “Occupy Wall Street”, “Indignados da Espanha”, com total espaço na mídia global , pois querem manter as conquistas e o padrão de vida fantásticos adquiridos após a segunda guerra, o Brasil e o mundo emergente é para construir um padrão de vida que nunca tivemos em nossa história.
No início dos anos 70´s, Henry Kissinger perguntou ao Primeiro ministro Chinês, Zhou Enlai, o que ele pensava (perspectiva histórica) sobre a revolução francesa. Resposta: “É ainda muito cedo para dizer”. Guardadas as devidas proporções, de certa forma a sociedade ocidental ainda está digerindo a pergunta e a respectiva resposta. Pois permanece a velha pergunta secular da geopolítica: quem vai controlar o mundo e sob quais condições?
Ao sul do equador, a questão que paira no ar, será que vamos conseguir (e em quanto tempo) inverter os paradigmas tupiniquim desde o século XIX, que sintetizo aqui nos pensamentos de Joaquim Nabuco e Euclides da Cunha:
“O povo é melhor que sua elite“, derivado de pensamento de Joaquim Nabuco sobre o povo brasileiro, comparando a relação da elite europeia com o povo europeu, com a elite brasileira e o povo brasileiro.
“A elite brasileira só tem olhos para o outro lado do atlântico“, Euclides da Cunha.
Também sou otimista, a esperança é a última que morre, dizia nossos avós, precisamos entre outros, equacionar o nosso ‘nó górdio’ secular, “O Encontro Marcado” (Fernando Sabino, 1956), que ainda não aconteceu, que nas palavras do poeta popular, Patativa do Assaré, a separação da sociedade entre “o andar de baixo e o andar de cima“. O século XXI está apenas começando, creio que temos alguma chance para meados do século e a segunda metade. Claro que estou falando com a ironia sarcástica machadiana, a perspectiva de um olhar póstumo ala Brás Cubas, pois mesmo sabendo que não verei, sou otimista, pois a algo no ar além de aviões de carreiras.
A busco do brasileiro do séulo XXI, do ‘Hércules-Quasímodo’, ao ‘Riobaldo’ urbano, ao ‘João Miramar’:
Será que vamos assimilar a cultura do ‘Pau Brasil’, devorar e abrasileirar macunaimamente e antropofagicamente, como um Riobaldo urbano, a cultura europeia e global, ou continuaremos sendo devorados, ‘cordialmente’, por eles?
Quem viver verá!
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