O reacionário, o niilista e o democrata, por Sergio Saraiva

O reacionário, o niilista e o democrata, por Sergio Saraiva

Quando a maioria da população não quer uma nova ditadura, mas desiludida com Bolsonaro, um quarto dessa população abaixa as armas e manda a democracia à merda.
A Folha publica neste 01 de janeiro de 2020 uma interessante pesquisa sobre apoio da população brasileira à democracia.
A manchete é um tanto quanto contraditória – “apoio à democracia cai no primeiro ano do governo Bolsonaro” – para em seguida afirmar “pesquisa aponta crescimento da parcela da população que avalia como negativo o legado deixado pela ditadura militar”.
Assim, teríamos ao mesmo tempo perda de poio à democracia e conscientização do mal que fazem as ditaduras.
Vamos então separar a manchete da análise estatística.
O apoio do brasileiro a democracia
Pelos dados da pesquisa, podemos estimar que a grande maioria dos brasileiros apoia a democracia – algo como 65% da população. Já os reacionários jamais estão abaixo dos 10% e há que se pensar por que ainda temos algo como 20 milhões de pessoas amantes da ditadura.
Mas o dado mais interessante e assustador que a pesquisa traz é de que para cerca de um quarto dos brasileiros – 25% – tanto faz viver em uma democracia ou em uma ditadura. E esse niilismo, tão típico dos brasileiros, é nosso maior risco à democracia.
Democracia – quanto mais melhor
O interessante nessa pesquisa é que ela apresenta dados de longo prazo – 30 anos – desde 1989 até 2019. Em outras palavras, praticamente o período da redemocratização. E, ao contrário da intenção da manchete, o apoio à democracia cresceu conforme a população foi vivenciando-a. Passou de 43% em 1989 para 62% em 2019.
Filhotes da ditadura
Porém, a informação mais relevante da matéria é a de que sempre houve apoiadores da ditadura.
Eram 20% em 1989 – às vésperas de nossa primeira eleição depois da Ditadura de 64 – hoje são 12% da população. Caiu o apoio à ditadura, mas ele nunca esteve abaixo de 10%.
Não e à toa que Bolsonaro se elegeu por 28 anos para o Congresso ainda que tenha sido um deputado omisso por todo esse período. Ele representa essa parcela reacionária da população – os filhotes da ditadura.
Os analfabetos políticos, os niilistas e os desiludidos
Aqueles para quem tanto faz ditadura ou democracia – sempre formaram um contingente em torno de 20% da população. Eram 22% em 1989 e são os mesmos 22% em 2019.
Esse grupo varia em relação aos que apoiam a democracia, ganha e perde componentes. E, embora a Folha não subdivida das datas no gráfico, não é difícil estimar que o período em que o niilismo atávico do brasileiro em relação à democracia foi menor foi justamente o período do PT no poder – acensão e queda e todo o movimento popular compreendido entre esse dois momentos.
Bolsonaro – e a volta do pendulo niilista – esperança e desilusão
E finalmente chegamos à manchete: “apoio à democracia cai no primeiro ano do governo Bolsonaro”.
Não aumentou o apoio à uma nova ditadura. Esse apoio está no seu nível mais baixo – 12%. Mas houve um novo movimento pendular entre o apoio à democracia e o niilismo.
Paradoxalmente, a eleição de Bolsonaro em 2018 representa o pico do apoio do brasileiro à democracia 69%.
Porém, em apenas um ano, Bolsonaro conseguiu consumir toda essa esperança depositada pelo povo na sua própria capacidade de pelo voto colocar no poder e dele retirar os bons e maus governos. E a desilusão e o niilismo voltaram a crescer – em 2019, são 22% da população – que somados aos 4% que não souberam responder à pesquisa, nos levam a algo como um quarto da população de desiludidos.
Retroagimos à 1989. Alguma novidade?
PS: a Oficina de Concertos Gerais e Poesia deseja a todos os seus fregueses e amigos um 2020 de saúde e realizações.
Redação

Redação

Recent Posts

Trump considera sanções contra países que deixem de usar dólar

Taxação cambial, tarifas e restrição a exportações estão entre punições avaliadas pela equipe do candidato…

12 horas ago

Governo federal confirma continuidade da homologação de terras indígenas

Força-tarefa composta por ministérios, Funai, AGU e Incra busca acelerar processo; quatro processos devem ser…

13 horas ago

A conexão Nuland–Budanov–Tadjique–Crocus, por Pepe Escobar

A população russa deu ao Kremlin carta branca total para exercer a punição máxima e…

13 horas ago

Elon Musk vira garoto propaganda de golpe que pagou por anúncio no X

Golpe inventa uma nova empresa de Elon Musk, a Immediate X1 Urex™, que pretende enriquecer…

13 horas ago

Governo Milei segue com intenção de lançar ações do Banco de La Nacion no mercado

Apesar da retirada da lista de privatização, governo Milei reforça intenção de fazer banco oficial…

14 horas ago

Prêmio Zayed de Sustentabilidade abre inscrições globais

Prêmio para soluções sustentáveis passa a aceitar inscrições em português; fundos de premiação chegam a…

14 horas ago