Sobre corpos negros e branquitudes, por Renata Corrêa

Sobre corpos negros e branquitudes, por Renata Corrêa

Em dezembro do ano passado um segurança do Carrefour espancou e matou um cachorro. Minha timeline foi o puro suco da indignação. Eram textos, vídeos de youtubers, charges de cartunistas. Um ato bárbaro que chocou muita gente.

Ontem um jovem negro chamado Pedro foi assassinado pelo segurança do super mercado Extra da Barra da Tijuca. Testemunhas avisaram: ele está desacordado, sai de cima dele, a mão dele está roxa! E o segurança respondeu: Eu é que sei. 

Ele é que sabe. Pedro foi levado ao hospital e depois de várias paradas cardiorrespiratórias morreu.

Minha timeline tem algumas manifestações pontuais. Nada nem perto da indignação provocada por conta do cachorro espancado.

O racismo estrutural e a branquitude dizem que um jovem negro não é inocente de saída. É um corpo perigoso. “Tem que ver o que ele fez”. Já o cachorro é um ser inocente, indefeso. Nessa lógica perversa a vida do cachorro vale mais comoção. A vida de mais um menino negro é só a vida de mais um menino negro.

Nós brancos temos que nos responsabilizar por essa des-sensibilização. O assassinato de corpos negros é tão comum, virou algo da esfera da “segurança pública” com aura de legitimidade. Matar pessoas não é legítimo. Temos que colocar isso na cabeça. Assim como o nazismo matava judeus legitimamente, como maridos matando esposas adúlteras por forte emoção legitimamente, amparados pela lei. É IMORAL, é nossa decadência como humanidade.

Não é sobre segurança. É um massacre. Tem um atirador na cidade da polícia atingindo moradores do Jacaré. Caçando moradores. E ninguém faz nada. Temos sensibilidade para um animal, mas não temos sensibilidade para prantear a morte de um menino sufocado no chão de um supermercado. Precisa o atirador atingir um cachorro agora para que a questão ganhe relevância?

O racismo estrutural é problema nosso também, das pessoas brancas. Chega de corpos negros mortos e da nossa imobilidade criminosa para lidar com isso.

 

Redação

Redação

View Comments

  • O judiciário brasileiro e o protetor de todos os desmandos que acontecem neste país, desde que não sejam praticados por pretos, pobres, prostitutas e petistas.
    Se tivéssemos algo parecido com poder judiciário e polícia este segurança louco e despreparado estaria atrás das grades e o supermercado teria de arcar com pesada indenização à família do assassinado.
    Mas, o supermercado e o segurança louco têm a proteção do judiciário e nada acontecerá com eles.
    E os seguranças e policiais loucos poderão seguir matando, com a benção do moro, com certeza o maior de todos os ladrões.

  • Quanto ao segurança é bom evitar o julgamento prematuro ele alega que a vítima tentou roubar sua arma a mãe da vítima confirma que ele estava alterado , o fato é que o rapaz morreu , eu espero um julgamento justo e não midiático ...

Recent Posts

Promoção da equidade de gênero no trabalho avança, mas tropeça nas pequenas empresas

Em meio a desigualdades salariais, assédio e lacunas legais, advogada destaca avanços e desafios para…

37 minutos ago

A melhora no mercado de trabalho, por Luis Nassif

O maior empregador continua sendo o serviço público, seguido de Empregador sem CNPJ (ou seja,…

2 horas ago

Justiça determina novo prazo para prescrição de ações de abuso sexual infantil

Em vez de contar a partir do aniversário de 18 anos da vítima, prazo agora…

12 horas ago

O que diz a nova lei para pesquisas com seres humanos?

Aprovado pelo Senado, PL segue para sanção presidencial e tem como objetivo de acelerar a…

12 horas ago

Da casa comum à nova cortina de ferro, por Gilberto Lopes

Uma Europa cada vez mais conservadora fala de guerra como se entre a 2ª e…

12 horas ago

Pedro Costa Jr.: Poder militar dos EUA não resolve mais as guerras do século XXI

Manifestantes contrários ao apoio dos EUA a Israel podem comprometer a reeleição de Biden, enquanto…

13 horas ago