Um pouco de Jung em momentos de crise, por Matê da Luz

Por Matê da Luz

Ai, que fase! Bombas explodindo ali e acolá – algumas não metafóricas, não é mesmo, polícia civil? Pendendo pra um lado ou pro outro, acaba por excluir e exigir que cada um de nós tome partido, também não somente no sentido figurado. 

Diferentes rodas – das de choro às de chororô – são pautadas pelo clima tenso/desesperador que contagia quem ousa viver. Crise, crise, crise: independente do próximo passo, da decisão futura, a crise está instaurada. Parabéns aos envolvidos! 

Há, enfim, uma parcela da sociedade, que vem se revelando aos poucos, ainda com mais coragem após o vídeo do Wagner Moura (olha o mimimi aparecendo nos comentários, “Matê cita ator global no post, logo o post não presta!), que clama por um cenário ainda não apresentado oficialmente: a reforma política, o terceiro caminho dentre os opostos aparentes. 

Carl Jung, pra quem não conhece, por favor, clique aqui, defende uma teoria onde apresenta a tensão extrema como fator necessário para que a solução invisível apareça. Diz ele que é absolutamente possível que mudanças ocorram em situações amenas, mas que são elas, as crises, que, quanto mas profundas, promovem as tão esperadas transformações. 

Haja apego na psicologia moderno/tradicional para seguir e continuar lutando, munindo de armas possíveis que hoje, ao meu ver, se apresentam muito mais como novidade imprescindível do que como caminho do meio, justamente pela premissa de novo, não antes experimentado, a ser implementado por uma fatia da população que não acredita no governo nem na oposição, mas que quer fazer valer o título de País democrático que atualmente, bem, já não mais nos cabe. 

 

Mariana A. Nassif

Mariana A. Nassif

View Comments

  • Gostei

    Parabéns pelo texto, é o retrato de nosso país. Onde obrigatoriamente temos que ter um lado. Desfazendo amizades, conflitos familiares por causa de politica, guerra no mundo cibernético de noticias e falsas noticias, ameaças, xingamentos, a barbarie enfim.

    Espero que a tormenta esteja chegado ao seu climax, mas essa esperança torna-se cada vez menor, pois a cada dia uma nova "noticia", uma nova delação, uma nova ação judicial, está feia a coisa no Brasil.

    Não vejo quem possa salvar nosso país do caos. A oposição não aceita que DILMA governe, parte da midia não deixa o judiciario julgar fazendo ilações, a judicialização da politcia esta no auge.

    Não vejo nem como alternativa , uma intervenção internacional, pois , quem quer que venha ajudar, será criticado por algum lado.

    Enfim, nascemos brasileiros.

  • Jung

    Jung, assim como a filosofia oriental, acreditava na integração e complementação dos opostos  ( yin- yang ). Eles precisam um do outro para dar sentido pleno ao universo e  à alma.  A situação hoje no brasil está rachada, há uma fenda intransponível entre quem assalta o poder e quem defende. Inclusive, muitos que assaltam defendem o extermínio dos seus opostos...Do outro lado, muitos ( embora em menor número )também pensam assim ....Se os radicais prevalecerem, a luta fratricida será inevitável ! A erradicação pela violência da complamentaridade e equiulíbrio dos opostosé impossível, nem Hitler nem Mussolini, nem Stalin conseguiram ! O que passsa hoje, é um absurdo total, seja em Jung, seja em qualquer outro pensador que não seja adepto do fascismo de Mussolini !

  • Parto com dor

    Visão interessante. Não há parto de nova realidade sem dor. 

    Leonardo Boff também escreveu sobre crises no ano passado: "É neste contexto que acaba um aprofundamento da natureza da crise para sairmos melhores dela. Desde o advento do existencialismo, especialmente com Sören Kierkegaard, a vida é entendida como processo permanente de crises e de superação de crises. Ortega y Gasset num famoso ensaio de 1942, com o título Esquemas das crises mostrou que a história,  por causa de suas rupturas e  retomadas, possui a estrutura da crise. Esta obedece à seguinte lógica: (1) a ordem dominante deixa de realizar um sentido evidente; (2) reinam dúvida,  ceticismo e uma crítica generalizada; (3) urge uma decisão que cria novas certezas e um outro sentido; mas como decidir se não se vê claro? mas sem decisão não haverá saida; (4) mas tomada uma decisão, mesmo sob risco, abre-se, então, novo caminho e outro espaço para a liberdade. Superou-se a crise. Nova  ordem pode começar.

     A crise representa purificação e oportunidade de crescimento. Não precisamos recorrer ao idiograma chinês de crise para saber desta significação. Basta nos remeter ao sânscrito, matriz de nossas línguas ocidentais.

    Em sânscrito, crise vem de kir ou kri que significa purificar e limpar. De kri vem crisol, elemento com o qual limpamos ouro das gangas e acrisolar que quer dizer depurar e decantar. Então, a crise representa um processo critico, de depuração do cerne: só o verdadeiro e substancial fica, o acidental e agregado desaparece."

    http://www.jb.com.br/leonardo-boff/noticias/2015/07/20/para-entender-o-fenomeno-da-crise/

     

  • da frase de jung -
    tornar

    da frase de jung -

    tornar consciente a escuridão,

    seria um

    bom lema a partir de agora...

  • Bem oportuna essa citação do

    Bem oportuna essa citação do Jung.

    Faço outra analogia. Imagine que vc viveu a vida inteira em um quarto escuro. Vc nunca se preocupou em arrumar ou limpar o quarto. Daí um belo dia vc abre a janela e deixa a luz do sol entrar, iluminando tudo e mostrando toda a sujeira e desarrumação que estavam escondidas pelas trevas. Sua primeira reação é a de culpar os outros pela sujeira e a bagunça, mas se esquecendo sua parcela de culpa no acúmulo da sujeira e da bagunça. 

    A transparência atual veio como o sol, trazendo a luz toda a sujeira, bagunça, contradições e trevas antes ocultas.

    Daí culpamos os outros pela atual situação sem nos darmos conta que fomos nós que elegemos quem elegemos, toleramos a intolerância, adotamos uma ética de conveniência ignorando nossos próprios deslizes éticos enquanto condenamos os dos outros, etc.

    A gente foi tolerando que se criassem castas de Homens de Benz com privilégios na esperança de nos tornarmos um dia parte dessa mesma casta para poder oprimir os demais. Daí acabamos sendo oprimidos pela casta que ajudamos a criar por meio da tolerância ingênua.

    O lado positivo dessa repentina iluminação é que está trazendo à tona o lado sombrio da nação, das instituições e também das pessoas permitindo que sejam purificadas, pois afinal de contas vc só pode purificar uma imperfeição à qual vc tem consciência da sua existência. Vc não tem como tomar providências a respeito de algo que não foi trazido à consciência. Se vc deixa a sujeira permanecer inconsciente, oculta seja dentro de si mesmo ou dentro das instituições, elas vão continuar te comandando sem que vc se dê conta disso.

    Veja que cada ator nesse grande drama está trazendo à tona suas contradições e impurezas para serem purificadas:

    O Brasil como nação tendo a chance de aprender sua própria maneira de lidar com seus conflitos internos sem descambar para a violência.

    O Poder Judiciário, o Ministério Público o STF e etc. tendo a chance de purgar de seus quadros de quem que se vale de seus privilégios somente pra manter os próprios privilégios, oprimindo quem busca justiça. 

    O Congresso se dando conta de quão perigoso é se deixar ficar refém de um único congressista que trabalha apenas pra si mesmo e quer transformar a instituição em um balcão de negócios.

    O Governo, se dando conta de que precisa fazer exercer autoridade sadia do Estado para não deixar que cada instituição vire uma ilha de autoridade independente.

    À população está sendo oferecida a oportunidade de se expressar livremente ao mesmo que está tendo acesso a um universo enorme de informações que permite perceber como está tendo sua indignação manipulada para servir interesses alheios. É a oportunidade do aprendizado de não se deixar manipular. Aprendizado difícil pois requer muita reflexão, coisa que abomina a quem quer se acomodar e se deixar levar pela manada.

    Para cada pessoa individualmente vem uma oportunidade preciosa de aprendizado confrontando suas sombras interiores de ódio, intolerância, medo, orgulho, obstinação (teimosia). Está sendo a oportunidade de exercitar a capacidade de olhar o outro como alguém como vc, ainda que com opiniões diferentes. Ver o outro como um espelho de si mesmo onde vc vê refletidos o ódio e a intolerância que vc também guarda dentro de si mas se recusa a confrontar.

    O aprendizado que está sendo oferecido a todos é que cada pessoa e cada instituição volte-se pra dentro de si mesmo e confronte suas sombras e não fique apontando os defeitos dos outros. 

     

Recent Posts

Comunicação no RS: o monopólio que gera o caos, por Afonso Lima

Com o agro militante para tomar o poder e mudar leis, a mídia corporativa, um…

4 horas ago

RS: Por que a paz não interessa ao bolsonarismo, por Flavio Lucio Vieira

Mesmo diante do ineditismo destrutivo e abrangente da enchente, a extrema-direita bolsonarista se recusa a…

6 horas ago

Copom: corte menor não surpreende mercado, mas indústria critica

Banco Central reduziu ritmo de corte dos juros em 0,25 ponto percentual; confira repercussão entre…

6 horas ago

Israel ordena que residentes do centro de Rafah evacuem; ataque se aproxima

Milhares de pessoas enfrentam deslocamento enquanto instruções militares sugerem um provável ataque ao centro da…

6 horas ago

Governo pede ajuda das plataformas de redes sociais para conter as fake news

As plataformas receberam a minuta de um protocolo de intenções com sugestões para aprimoramento dos…

7 horas ago

As invisíveis (3), por Walnice Nogueira Galvão

Menino escreve sobre menino e menina sobre menina? O mundo dos homens só pode ser…

10 horas ago