Falta de consumo gerou queda em venda de automóveis, por Rogério Maestri


Foto: Divulgação

Por Rogério Maestri

Venda de automóveis em queda devido a falta de necessidade de consumo não devido a oferta

Por muito tempo se raciocinou sobre a venda de carros através de hipóteses de demanda, ou seja, demanda mais abundante de carros e de crédito naturalmente um crescimento da venda de automóveis.

Com a pequena recuperação, nada sustentável do governo Temer, a indústria automobilística teve um pequeno voo de galinha, mas que dá claros sinais de desaquecimento segundo descrito no artigo do Luis Nassif “As dúvidas sobre a indústria automobilística em 2018“, porém o artigo parece pensar mais no que se chama economia de oferta, em que o consumidor é alguém passivo ao mercado, só esperando ter mais dinheiro e/ou crédito para comprar o seu sonho de consumo.

Porém aparentemente ao meu ver há bem mais do que isto na queda de venda de automóveis, e devido a isto faço um pequeno artigo que tem como frase básica que:

As hipóteses para o consumo ou não de automóveis estão sendo montadas para uma economia regida pela oferta.

Luis Nassif no seu artigo, monta alguamas séries de variação da comercialização dos automóveis e procura com elas tentar explicar cenários futuros, porém estas séries só tem serventia para a análise se considerarmos que os humores dos compradores permanecerem constantes e sempre ávidos para comprar novos carros. Em nenhum momento se considere que a frota dos automóveis no Brasil tem uma idade média relativamente baixa e o valor da mão de obra para reparos é baixo, ou seja, a resiliência de um consumo baixo de automóveis pode ser maior do que se pensa. Ou seja, estou raciocinando num mercado em que a oferta é abundante e a demanda que governa o consumo e talvez o consumidor esteja naturalmente evitando de comprar carros novos.

Para ter uma ideia mais precisa das reais necessidades dos brasileiros adquirirem novos carros é necessário se dar conta que a quantidade de carros por habitante é de 4,8 habitantes por veículos, enquanto há dez anos era de 7,3 habitantes por veículos. Considerando que uma parte significativa da população não tem dinheiro nem para fazer a carteira de motorista, comprar um carro e mantê-lo, a maior parte dos prováveis compradores serão pessoas que já tem automóveis, logo temos que raciocinar com um mercado sem grandes expansões.

Por outro lado, se compararmos a idade média da frota brasileira (segundo o Sindipeças) em torno de dez anos e oito meses, com a idade média dos automóveis nos USA de 11 anos e na Europa de dez anos e sete meses, vemos que a nossa frota em média tem uma idade relativamente baixa em relação a países em que a mão de obra para reparos é muito mais cara que no Brasil.

 

Licenciamento de veículos no Brasil (o gráfico a partir de 1990 inclui os importados)

A partir da figura acima pode-se fazer uma hipótese nada agradável para a indústria automobilística, a queda das compras dos automóveis é mais devido a ausência da necessidade absoluta de compra do que de constrangimentos econômicos.

O gráfico é revelador a medida que mostra que a expansão do licenciamento de veículos ocorre somente após o governo Itamar, pois até ele (governos militares, governo Sarnei e governo Collor) praticamente o número de licenciamentos permanece em torno de 600 mil por 19 anos, com a estabilidade do Real, há um incremento de aumento de vendas, que causava uma verdadeira inflação de demanda para cair no segundo governo FHC só se recuperando no governo Lula.

A queda do licenciamento após 2012, ano que o PIB cresce 3% apesar da produção de automóveis diminuir (item extremamente importante na composição do PIB), não pode ser explicado somente pelo desaquecimento da economia, pois no ano de 2009 o crescimento econômico é negativo e a venda de automóveis continua na mesma trajetória ascendente.

A conclusão que chego é que a queda de licenciamento de veículos será algo permanente independente das variações da atividade econômica devido ao esgotamento da vontade do consumidor em gastar grande parte do seu rendimento na compra de um automóvel.

Acho que o mercado de vendas de automóveis só deverá ter um pequeno incremento quando a idade média da frota atingir um valor mais significativo, obrigando a troca de veículos.

 

Redação

Redação

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  • Quando a frota envelhecer ou

    Quando a frota envelhecer ou então com um forte crescimento econômico e a inclusão de novas pessoas na classe média comprando o seu primeiro carro novo, como ocorreu nos governos do PT.

    Mas isto dificilmente ocorrerá com as ideias austericidas do Paulo Guedes. Na verdade, seria difícil ocorrer este crescimento, mesmo se tomando medidas contracíclicas, devido à fraqueza da economia mundial.

  • Se levar em conta que o UBER

    Se levar em conta que o UBER também retirou a necessidade de muitas pessoas serem donas de um veículo. Havia lugares que as pessoas não tinham carro e não havia a utilização de taxis, tanto pela falta mesmo ou pelo valor o que levava muitas pessoas a um esforço de comprar um carro. Porém, atualmente muitas dessas pessoas não sentem mais a necessidade de comprar um carro quando precisa chamam UBER. E muitas outras até venderam seus carros e também estão utilizando o aplicativo e muitas tabém que tem condições de comprar um carro estão optando por não te-lo. Isso também deve ser levado em conta. 

  • Boa hipótese

    Deve-se ainda levar em onsideração a concorrência à compra de carro novo vinda de aplicativos, de ofertas de aluguel anual de carros pelas locadoras...são mudanças no comportamento do consumidor que tmbém influenciam muito na demanda por carros novos. 

  • "A conclusão que chego é que

    "A conclusão que chego é que a queda de licenciamento de veículos será algo permanente independente das variações da atividade econômica devido ao esgotamento da vontade do consumidor em gastar grande parte do seu rendimento na compra de um automóvel."

    Este é o meu caso.

    E não compro carro zero.

    Prefiro seminovos em bom estado de conservação.

    A maioria dos modêlos - com uns três anos de uso -  dá para comprar por uns 60% a 70% de um zero.

    Dá para trocar de dois em dois anos sem gastar uma fortuna.

    • Eu não afirmo que o queda dos licenciamentos é.....

      Eu não afirmo que o queda dos licenciamentos é algo absoluto e totalmente independente das condições econômicas do país, mas sim que há uma falsa esperança de alguns em retomar a mesma taxa de crescimento do volume de licenciamentos, pois outros fatores como a dificuldade de mobilidade nas grandes cidades, a utilização de outros modais de transporte (metro, ônibus, bicicletas, motos, .....) e a própria rejeição da queima de combustível fóssil.

      Inclusive a propaganda de automóveis está baseada em modelos muito mais caros, como escutei um dia deste:

      Aproveite a promoção do automóvel XXXXX de 175.000,00 pagas somente 158.000,00![

      Ou seja, a indústria automotiva se não for para a realidade do preço internacional dos carros, provavelmente vai começar a fechar suas fábricas antes do tempo.

  • Outro ponto: boa (ou a

    Outro ponto: boa (ou a maior?) parte do crescimento do licenciamento de veículos surgiu na falxa mais "popular", justamente a que está se retraindo mundialmente, seja pela queda da renda média da população mundial, seja pela dificuldade cada vez maior de ter um carro (guardar, estacionar, trafegar etc) nas grandes cidades.

    O movimento que está ocorrendo na indústria automobilística dos EUA, de cada vez mais se focar em SUV e picapes, também começa a ser visto no Brasil - especialmente porque não temos um consumidor de carros urbanos, ao contrário da Europa e do Japão.

    • César, a tua conclusão é um seguimento do que escrevo, e.......

      César, a tua conclusão é um seguimento do que escrevo, e leva a um cenário completamente maluco para o Imperialismo Internacional, vamos aos fatos:

      Como bem colocado, está se gerando nos últimos tempos uma classe social que terá inviabilizado o uso do automóvel como meio de locomoção, fato que em si não seria um grande problema se este modal fosse substituído por outros mais coletivos e mais ecologicamente corretos, se isto ocorrer em termos de locomoção o problema ficará restrito a todos os que não habitam nos grandes centros urbanos, causondo movimentos como os dos Gilets Jaunes na França.

      Porém há o fator econômico, que é uma das previsões que se pode fazer para todos os ramos da indústria com a concentração de renda, a perda do fator de escala na produção dos mesmos e com a transferência do consumo de massa para o consumo de luxo que terá custos crescentes com o tempo.

      Explico melhor para o caso dos automóveis. Até Ford os automóveis eram bens de luxo, onde a fabricação era mais artesanal do que industrial, com a linha de montagem e a fabricação intensiva destes automóveis se passou para uma produção de massa com custos decrescentes devido a automação, entretanto como se mostra no artigo postado no GGN “O esgotamento da atual fase histórica do capitalismo” que com a diminuição do número de empregados, com o aumento da produtividade dos mesmos, a taxa de lucro das empresas são decrescentes junto com o ganho salarial dos empregados. Ou seja, o que ocorre normalmente na indústria nos dias atuais, com a sofisticação do consumo e com o mais importante, que seria a diminuição dos avanços tecnológicos resultando de custos de engenharia de projeto por unidade cada vez mais caras (diminuição de unidade consumidas) e custos unitários ainda maiores.

      Em resumo, se corre o bicho pega, se fica o bicho come.

       

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