Ano de eleições desperta sempre a mesma pergunta: O que fazer? Na busca de respostas, as peças do jogo político brasileiro se movimentam e se aglutinam ao redor dos projetos apresentados. No caso das eleições municipais, a disputa, em muitas vezes, parece regionalizada, pautada por interesses locais e específicos. Não é o caso de 2020. Os últimos cinco anos nacionalizaram boa parte das discussões, em especial nas grandes cidades, como é o caso de São Paulo, que historicamente também discute temas nacionais.
Neste momento, temos três campos políticos se organizando para a disputa. Eles não são formados necessariamente por três partidos, ou três figuras proeminentes. São três aglomerados de agentes políticos — que podem ser pessoas, partidos ou movimentos –, representando diferentes visões de mundo.
O primeiro e mais perigoso deles é o da extrema direita, hoje representada pelo bolsonarismo. Este campo se diferencia do que entendíamos por direita desde a redemocratização, com a Constituição de 1988. Pela primeira vez desde o fim dos anos de chumbo, temos um projeto abertamente autoritário. Um projeto que aglutina diversos setores importantes — politicamente e economicamente. Trata-se de uma aliança entre setores do empresariado neoliberal, alas anti-nacionais das forças armadas, e os conservadores religiosos. Além disso, milhões de pessoas da parcela mais pobre da população também fazem parte deste campo. E é aí que está a grande diferença deste projeto. Pela primeira vez, em muito tempo, a direita conservadora se tornou também popular. Entenderam que não basta o poder econômico e as armas.
A direita liberal, ou direita “democrática”, também apresenta suas cartas para o pleito de 2020. O programa econômico é tão neoliberal quanto o da extrema direita, mas existe um discurso de apreço pela manutenção das instituições e da normalidade democrática. Ainda que esse apreço não os tenha impedido de orquestrar e executar o golpe jurídico-midiático-empresarial-parlamentar que derrubou Dilma Rousseff em 2016. São representados, nacionalmente, pelo chamado “centrão”, liderados por Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre, e outras figuras de partidos como DEM, PSDB e MDB; além de Luciano Huck. Em São Paulo, têm como grande figura o prefeito, e candidato à reeleição, Bruno Covas. Após perderem terreno para o bolsonarismo, tentam recuperar o apoio de parte de população se apresentando como “moderados” em meio a polarização e atrair setores da esquerda e centro-esquerda com pautas progressistas, como a defesa da Cultura no caso paulistano e a manutenção – desde que residual – de políticas sociais em nível nacional.
Por fim, há o campo da esquerda, ou, mais precisamente, um campo “progressista”, que enfrenta um processo de reorganização depois de sucessivas derrotas, políticas e eleitorais, que vêm desde a segunda eleição de Dilma. Naquele momento, sob o pretexto de acabar com a instabilidade e evitar o impeachment, o governo cometeu o erro de aplicar o programa derrotado nas urnas, perdendo o apoio popular que restava. Não adiantou nada, o golpe veio do mesmo jeito. Seguido da prisão de Lula e da eleição de Bolsonaro.
Em 2020, o desafio da esquerda vai além da via eleitoral. O objetivo deve ser recuperar o apoio e a confiança da população, em especial dos setores populares. Para isso, é impensável que as campanhas municipais sejam pautadas apenas por questões locais. É preciso relacionar o buraco da rua com o buraco em que está enfiado o Brasil. Mostrar que é a esquerda que se preocupa com o combate à desigualdade, o fim da miséria, a geração de empregos e a garantia de direitos. E nessas bases, reconstruir um programa político. Apoiar lideranças que defendam profundamente os interesses da população, e cumpram a tarefa de recuperar o espaço perdido. Discutir política e, mais especificamente, as diferenças políticas nas ruas, escolas, universidades, praças, igrejas, bairros. Caso contrário, correremos o risco de ficarmos fadados a “uma escolha difícil” entre direita e extrema direita no segundo turno das eleições.
O jogo já começou. Mas só saberemos quais peças restarão no tabuleiro dia 4 de outubro, data do primeiro turno das eleições. Até lá, muitas jogadas serão feitas, e é nossa tarefa analisar, refletir e participar. Por isso, nas próximas semanas, irei escrever sobre sobre cada um desses campos e seus movimentos.
Luna é educadora e coordena a rede de cursinhos populares Elza Soares. Cientista Política de formação e feminista com convicção. Foi diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do DCE Livre da USP. @lunapramudarsp
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