Bolsonaro e Sérgio Moro, dois inimigos mortais da justiça social

Há algum tempo a imprensa tem se dedicado à construção de um cenário artificial em que Bolsonaro e Lula são tratados como opostos equivalentes. A equivalência entre ambos é evidentemente artificial, pois em momento algum o presidente petista ameaçou a liberdade de imprensa, tentou interferir na PF, isolou diplomaticamente o Brasil, conspirou para transformar o Exército numa milícia ou tentou provocar o genocídio de índios e quilombolas.

Lula criou Universidades Federais. Bolsonaro se esforça para destruir o sistema público de educação. A inclusão social pelo consumo levada a efeito pelo PT garantiu a expansão da economia e o aumento sustentável dos lucros dos empresários e banqueiros. A exclusão social programática de contingentes populacionais que a extrema direita considera descartáveis tem feito a economia brasileira encolher, comprometendo inclusive a arrecadação de impostos.

Não é possível considerar extremado um governo que lutou para reduzir a fome. É absolutamente inadequado compará-lo a um governante que sorri enquanto deliberadamente empurra milhões de pessoas para a insegurança alimentar.

A balança da justiça não deve igualar o excesso de opulência à miséria opressiva. Essencial à preservação da paz social, a justiça deve corrigir as distorções extremas produzidas por um sistema econômico desequilibrado para permitir que a sociedade não entre em colapso. Essa é uma verdade conhecida desde os tempos desde a Antiguidade Clássica.

“O maior bem que se possa fazer à sociedade política é preservá-la de toda sedição e cultivar a benevolência mútua.” (Política, Aristóteles, página 176). Esse objetivo político obviamente não pode ser alcançado quanto uma parcela da população é miserável e passa fome. Foi justamente por isso que o grande filósofo grego sugeriu que o governo faça o que for necessário para reduzir a pobreza.

“A miséria é a fonte de todos os males na democracia. Assim, devem-se encontrar meios de tornar todos abastados de maneira duradoura; isto servirá aos próprios ricos. O melhor emprego das rendas públicas, quando a sua percepção está terminada, é auxiliar amplamente os pobres, para colocá-los em condições ou de comprar um pedaço de terra ou os instrumentos para a lavoura, ou de abrir um pequeno comércio.” (Política, Aristóteles, p. 163)

Durante seu governo Lula procurou equilibrar a sociedade brasileira suprimindo aquilo que a tornava insuportável e instável (a fome). Bolsonaro empurra contingentes populacionais crescentes para a miséria e a fome acreditando que a instabilidade social é desejável e virtuosa. Não há equivalência entre ambos, pois um é extremado e o outro procurou eliminar a injustiça extrema.

O cenário de equivalência entre ambos é, portanto, artificial. Não menos artificial foi a adesão de Sérgio Moro à tese de que o Brasil deveria rejeitar o populismo extremado de Lula e Bolsonaro como se ambos fossem supostamente equivalentes.

Sérgio Moro, aliás, não pode se apresentar ao público como um meio termo entre dois extremos. Ele foi um serviçal fiel do governo Bolsonaro e conquistou o direito de exigir o Ministério da Justiça depois de perseguir injustamente Lula tirando-o disputa eleitoral através de um processo criminal fraudulento.

O populismo penal de Sérgio Moro (sobre esse assunto vide https://www.conjur.com.br/2019-fev-06/yarochewsky-projeto-anticrime-moro-populismo-penal) não somente interferiu na eleição em favor de Bolsonaro. Ele foi o principal instrumento político empregado no processo de destruição do equilíbrio entre ricos e pobres que havia sido alcançado durante a era Lula.

Em virtude de ter integrado o governo Bolsonaro, Sérgio Moro pode ser considerado responsável pelo aumento do abismo social e pelo crescimento da instabilidade política. O que ele fez quando era Ministro da Justiça para preservar os direitos dos trabalhadores e para manter programas sociais que corrigiam injustiças sociais? Nada.

Após ter atacado um governante moderado que promoveu a justiça social e servido um presidente extremado que empobrece parte da população, Sérgio Moro não pode agora se apresentar como o meio termo entre dois extremos. Afinal, ele mesmo foi um dos maiores responsáveis pelo reaparecimento da fome entre os brasileiros.

A imprensa, entretanto, não somente está criando um cenário artificial de extremos. A pretensão eleitoral de Sérgio Moro está sendo facilitada pelos jornalistas, pois ele não é retratado como a continuação de um governo perverso que aposta no aumento da instabilidade política para tentar impor uma ditadura brutal. É preciso colar Sérgio Moro a Jair Bolsonaro, pois a diferença entre eles não existe. Ambos são inimigos declarados da justiça social.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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