Os três patetas do golpe e o perigo da barbárie, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Há alguns meses fiz aqui mesmo no GGN uma análise da crise grega recorrendo a obra de Wolfgang Streeck. De fato, também a este autor alemão para fazer uma análise do quadro político brasileiro quando FHC disse que o mercado quer o Impedimento de Dilma Rousseff.

O evidente agravamento da crise política imposta ao país pela dupla Eduardo Cunha/Michel Temer com a aprovação do Impedimento na Câmara dos Deputados já se tornou, de certa maneira, global. Para desespero dos golpistas e da imprensa brasileira que os apóia, os maiores veículos de comunicação norte-americanos, europeus e russos noticiaram o grotesco golpe de estado promovido por parlamentares que são suspeitos ou réus em processos criminais.

Hoje, Dilma Rousseff deu à imprensa internacional uma excelente oportunidade de retomar a cobertura do golpe de estado em curso no Brasil ao finalizar seu discurso na ONU com as seguintes palavras:

É evidente que o discurso da legítima presidenta do Brasil repercutirá de duas maneiras diferentes. No exterior a imagem do golpe de estado disfarçado de Impedimento será reforçada. Aqui no Brasil a imprensa continuará tentando provar que o golpe não é um golpe e dirá que a presidenta humilhou o país no exterior. Foi o que Eliane Catanhêde afirmou no Twitter pouco antes do discurso de Dilma:

Eliane Cantanhêde ‏@ECantanhede  4h

Dilma enxovalhando a imagem do Brasil para tentar salvar a própria pele. http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,golpe-jabuticaba,10000027494

Aristóteles dizia que a virtude está no meio temo entre os dois extremos. Não há possibilidade de meio termo quando a própria imprensa brasileira se colocou num dos extremos ao aderir o golpe, rejeitando de maneira patológica a forma como a imprensa internacional retrata a crise brasileira. Vem daí a grande possibilidade do golpe do Impedimento degenerar em violência civil quer Dilma Rousseff seja ou não removida do cargo para o qual foi eleita pelos brasileiros e empossada pelo TSE.

A queda de Dilma Rousseff não será aceita pelos defensores da legalidade, grupo que inclui tanto os petistas quando políticos, autoridades, escritores, artistas e cidadãos comuns de diversas orientações políticas e partidárias. A não ascensão de Michel Temer ao poder certamente será interpretada como um golpe de estado pela imprensa nacional, que seguirá alimentando o ódio fascista que já se manifesta de maneira violenta nas ruas brasileiras.

Ontem Michel Temer foi fotografado fugindo de São Paulo com medo da reação popular ao golpe de estado que o beneficia. A conduta dele fez rir os defensores da legalidade e provavelmente assustou às pessoas que urdiram o Impedimento e financiaram a campanha para derrubar Dilma Rousseff.

Como me disse um rapaz pelo Twitter ao comentar esta foto:

alexandre gobbis ‏@xandaodalapa  1h1 hour ago

@FabioORibeiro @midiacrucis @JornaldoBrasil @MichelTemer Enganou o país inteiro, de esquerda à direita

Alexandre Gobbis tem toda razão, Michel Temer enganou a esquerda ao ser eleito junto com o PT. Ele também enganou a direita ao se colocar como capitão do golpe sem demonstrar a valentia necessária para enfrentar manifestações pacíficas. O vácuo deixado pela fuga de Michel Temer será preenchido por Bolsonaro?

O deputado Jair Bolsonaro apóia o golpe de estado e fez questão de homenagear o torturador de Dilma Rousseff ao proferir seu voto em favor do Impedimento. Nos últimos tempos a popularidade dele cresceu a olhos vistos no Congresso e nas ruas, onde ele é chamado de mito pelos fervorosos seguidores.

Bolsonaro é uma das figuras mais estranhas, extremadas e perigosas da direita brasileira. Além de ser racista e homofóbico, ele é conhecido por defender abertamente na TV o fechamento do Congresso, a execução de FHC por ter assinado o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.

Se for eleito presidente, Bolsonaro certamente tentará construir bombas atômicas desorganizando o ambiente tranqüilo, pacífico e estável lentamente construído na América Latina. O primeiro efeito do renascimento da rivalidade militar entre as nações sul-americanas será a implosão do MERCOSUL, com evidente prejuízo para os empresários que exportam para os países do bloco.  

No plano interno, a chegada de Bolsonaro ao poder também é preocupante. Ele certamente usará de extrema violência contra gays, negros, petistas, comunistas, socialistas e quaisquer outros “istas” que ele encare como adversários políticos. A imprensa acredita mesmo que será livre num regime bolsonariano?

Os três patetas do golpe Aécio Neves (o instigador das manifestações de rua), Michel Temer (o beneficiário do golpe) e Eduardo Cunha (o homem que garantiu a aprovação do Impedimento sem crime de responsabilidade) conseguiram levar o país a um ponto de não retorno. A barbárie ronda o Brasil com ou sem a queda de Dilma Rousseff e o catalisador dela pode ser justamente Jair Bolsonaro, que como Hitler não passava de um soldadinho irrelevante antes da guerra iniciada  por homens bem mais poderosos que ele mesmo.

Estas reflexões me foram sugeridas por Wolfgang Streeck. Em razão do agravamento da crise resolvi reler o livro dele e lá me deparei com a seguinte passagem:

“…a democracia, tal como a conhecemos, está prestes a ser esterilizada como democracia de massas redistributiva e reduzida a uma combinação de Estado de Direito e distração pública.”  (Tempo Comprado – A crise adiada do capitalismo democrático, Conjuntura Actual Editora, Lisboa, Portugal, 2013, p. 30)

O autor alemão se referiu ao divórcio entre a democracia política e o capitalismo neoliberal na Europa. No caso brasileiro, as palavras de Streeck não fazem muito sentido. O aprofundamento da crise pode levar à total destruição do Estado de Direito. E se Bolsonaro chegar ao poder a tortura e o assassinato político serão elevados à categoria de distração pública. Era isto o que os três patetas do golpe desejavam?  

Fábio de Oliveira Ribeiro

12 Comentários

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  1. metamorfose ambulante

    Se a Dilma não mudar o enfoque, piora. Não adianta criticar Temer , Cunha e Aécio, se eles são os tres patetas.

    Tem que chamar “no piu” os produtores e diretores do enredo, e a Presidente tá deixando passar batido. O golpe não foi tramado no congresso. 

  2. bolsonaro presidente é o

    bolsonaro presidente é o mesmo que nevar hoje no Rio. (bem…a menos que a eleição não se faça mais como a conhecemos.) pois em leituras algures de antes e de agora, na imprensa ou em livros, além da percepção talvez embaçada ou enviesada ou mesmo utópica, o que podemos esperar é que o golpe faça nascer/renascer a esquerda tipo a dos oitenta que culminou na CF88, ou seja, nada de “não retorno” (isso seria negar o próprio movimento pendular das “coisas da vida”). pequeno exemplo: condução coercitiva de Lula, que acirrou (ou não?) os ânimos dos indignados.  

    1. Pensamento Fascista

      “Queremos glorificar a guerra – a única higiene do mundo – o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários e o desprezo pela mulher.”

      Isto é um trecho de um manifesto de artistas fascistas italianos que apoiavam o fascista Mussolini.

  3. Fascismo dos patetas.

    Fábio, suas palavras já estavam cristalizadas em minha mente e me assustam intensamente. Minha percepção decorreu de ideias trocadas em casa, inclusive com jovens que não passaram pelas agruras do manso militar. O atual quadro de desintegração social que vivemos é adequado para este tipo de liderança, coisa que os patetas indicados jamais conseguirão.

  4. Sob nossos cadáveres

    Uma retificação, são 4 patetas: Aécio, Cunha, Temer e Moro!!! Outra consideração. Bolsonaro só será presidente em cima dos cadáveres de milhares e milhares de brasileiros e brasileiras. Se já não vamos esperar a consumação do golpe, nas salas de nossas casas, apartamentos, acampamentos e barracos, porque ficaríamos inertes diante de tamanha aberração? Com a  previsível ruptura que se avizinha, a única opção será a da revolução, seja por meios pacíficos  no estilo Ghandi, seja através de uma guerra civil. Mas não ficaremos de braços cruzados. Isso está até profetizado no nosso Hino Nacional.

  5. Violência à vista?

    Se o golpista Temer assumir, as minorias podem se preparar para enfrentar uma onda de violência. E a polícia não as protegerá, pelo contrário, se unirá à violência, como gostam.

  6. Bolsonaro é carnavalesco

    Bolsonaro é carnavalesco demais para o grande capital. Se eles quiserem um sujeito mais truculento, ele pode ser mais ou menos parecido com o Alckmin ou o Richa. 

    1. Hitler também era
      Hitler também era carnavalesco e foi amplamente financiado pelos capitalistas alemães até chegar ao poder. No atual contexto, Bolsonaro teria mais votos presidenciais que Alckmin (que é contra o golpe) e que Nero Rixa (que sumiu da TV e perdeu o apoio até dos paranaenses).

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