Chile: O saldo das manifestações, após Piñera decretar “guerra” contra o povo

De Santiago, Chile

Jornal GGN – Os resultados de três dias de manifestações com forte repressão do aparato policial e de Estado do governo de Sebastián Piñera, no Chile, vão deixando registros pouco a pouco. Pelos menos 11 mortos, 283 pessoas presas, 44 feridos registrados em hospitais, sendo 9 deles em estado grave, e 9 pessoas que foram desnudadas pelos policiais.

Os dados são Instituto Nacional de Derechos Humanos (INDH), nesta segunda-feira (21), em relatório que denuncia uma série de abusos e graves violações por parte das forças de segurança nos protestos em Santiago e outras regiões do Chile, de sexta a domingo (20).

“Existem relatos de uso desmedida da força no momento da detenção, assédio injusto contra crianças, maus tratos, golpes nos rostos e pernas, torturas, desnudamentos a mulheres e homens, violações sexuais, entre outras violações”, informou o documento, na tarde de hoje.

O resultado do relatório é divulgado no dia seguinte ao anúncio do presidente do país, Sebastián Piñera, a manter o toque de recolher e o Estado de Emergência no país, medidas tomadas antes somente durante a ditadura do regime militar, e após anunciar que o governo “está em guerra”.

“Estamos em guerra contra um inimigo poderoso, que está disposto a usar a violência sem nenhum limite”, foi a declaração polêmica de Piñera, que repercutiu por toda a imprensa internacional e que mobilizou novas manifestações nesta segunda-feira (21), que questionava nas ruas e nas redes sociais: “guerra contra quem?”, “o povo é inimigo?”, “guerra contra os chilenos”.

Entre os graves feridos, o Instituto identificou um menino que tem balas no fígado, rim e em suas pernas, uma menina ferida com bala de borracha na perna, um homem que cuja bomba de gás lacrimogêneo foi atirada contra seu rosto, e mais 6 pessoas com lesões nos olhos. Os registros são de cinco hospitais da região metropolitana.

O diretor do Instituto Nacional de Direitos Humanos, Sergio Micco, fez um chamado a denunciar aqueles que forem vítimas de violações a seus direitos. O Instituto se comprometeu a realizar um registro detalhado destes casos.

Diversas entidades, como a Anistia Internacional, a Comissão Internacional de Direitos Humanos, o Conselho Latino-americano de Ciências Sociais, entre outros, emitiram comunicados repudiando a violência contra os manifestantes no Chile.

A Comissão Internacional verificou a “atuação policial e militar com uso desproporcionado da força contra civis” e pediu que “o uso da força deve seguir os princípios da legalidade, necessidade e proporcionalidade”. A Anistia Internacional denunciou que o uso do Exército para fins de segurança pública “somente incrementa o risco a violações, inclusive o uso excesivo da força para reprimir manifestações pacíficas”.

“O Conselho Latino-americano de Ciências Sociais repudia o uso de toda a forma de violência repressiva, fazendo um chamado ao reconhecimento e o respeito ao legítimo direito dos povos de se manifestar. Dessa forma, defende energeticamente a urgência para terminar com o uso de leis que limitam as liberdades pessoais, poem em risco a vida e a integridade das pessoas e criminalizam as lutas políticas”, apontou o Clacso.

 

 

Redação

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